𝙿 𝚛 ó 𝚕 𝚘 𝚐 𝚘

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Gerânios

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Gerânios. Eram suas flores favoritas.

Eu costumava gostar de lhe dar flores. Gostava, porque ela sorria do mesmo jeito como uma garotinha sorriria ao ganhar o presente mais aguardado de Natal.

O combinado era sempre às sextas, quando podíamos sair para jantar depois de eu chegar da empresa, ou quando apenas ficávamos em casa, aproveitando as coisas que íamos conquistando conforme a empresa do meu tio, onde eu trabalhava, ia ascendendo no mercado.

Era uma pena que não estivesse mais ao meu lado para ver tudo o que eu tinha conquistado.

Fazia cinco anos que ela partira. Tão jovem, tão bonita. Eu ainda me lembrava de como recebi a notícia, de como jurei que meu coração nunca mais bateria novamente.

Eu estava na empresa, é claro. Como sempre acontecia nos últimos tempos, e nosso maior motivo de brigas. Não exatamente brigas, mas discussões.
Ísis não queria um marido rico, ela queria um homem presente.

Quando nos conhecemos, éramos apenas estudantes de Direito, idealistas e querendo um mundo melhor. Na verdade, ela se decepcionara um pouco quando abandonei a ideia de ser defensor público para ajudar meu tio em sua empresa de material de construção, que começara com algumas lojinhas e se tornara uma das maiores marcas do ramo.

Nunca foi o meu sonho, mas eu era um recém-formado e recém-casado, querendo formar uma família. Morávamos em um apartamento de trinta e cinco metros quadrados, todo caindo aos pedaços, e eu era ambicioso.

A proposta do meu tio, para que eu o ajudasse, caiu do céu, enquanto eu estudava para concursos.

Ísis passou no dela, e eu fiquei para trás, porque nunca tinha tempo para estudar.
Mais do que isso, eu fui gostando do que fazia com meu tio e querendo ficar. Ajudava-o nos contratos com parceiros, fornecedores, em quase tudo.

Ele não tinha filhos, apenas dois sobrinhos de exata mesma idade - eu, que era filho de seu irmão mais velho, e meu primo, que era filho de sua irmã -, e nós dois passamos a ser seu braço direito.

E foi exatamente para o sonho de Ísis que eu a perdi.

Ela realmente entrou na defensoria pública, pegou o caso de um homem pobre, que foi acusado de matar seu patrão, e foi assassinada porque o venceu.

Um tiro no peito foi o que a tirou de mim.

Assassinada.

A palavra ainda parecia irreal demais para mim.

Não era o tipo de coisa que acontecia com duas pessoas normais.
Com duas pessoas que se amavam e tinham planos de um futuro.

Que estavam planejando ter filhos e...

Não - eu mesmo interrompi meus pensamentos. Poderíamos conversar
sobre o assunto, mas sabia que ainda iria demorar. Por mais que nós dois já tivéssemos vinte e seis anos , minha vida era focada demais no trabalho para ter espaço para qualquer outra coisa que não fosse Ísis.

𝙾 𝚋𝚎𝚋ê 𝚍𝚘 𝚖𝚎𝚞 𝚌𝚑𝚎𝚏𝚎 || ᴛᴀᴇɴɴɪᴇOnde histórias criam vida. Descubra agora