IX - Histórias do Passado

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Os barulhos dos trovões pareciam cada vez mais fortes e a menina de cabelos ruivos tremia no sofá, não de frio já que estava enrolada em um cobertor, ela olhava para porta inquieta esperando que alguém a abrisse. Já passava da meia noite e as lágrimas começaram a descer pelo rosto da criança de agora 8 anos, a casa já não era a mesma e passos vinham do corredor, ela se encolheu mais ainda.

— O que faz acordada a essa hora, meu amor? — uma mão feminina tocou no ombro da garotinha que tremeu, a mão da mulher estava gelada, diferente de seu corpo quente.

— Tia, por que eles nos deixaram aqui? Mamma e papà não gostam da gente?

— Não minha florzinha, tua madre te ama tanto que foi resolver os problemas para cuidar de você e do seu irmão.

— Mas... Mas e o papà?

— Você ainda espera que ele volte? Você é muito burra — uma outra voz entrou no cômodo, a garota agarrou a blusa verde da mulher, se escondendo atrás dela. O outro ruivo estava com os braços cruzados e uma carinha de sono de quem não dormia há meses — Podia parar de ser tão ingênua. Ele não vai voltar, nem ele nem a Narumi!

Um trovão alto ecoou pela mansão e a luz se apagou, então era como se todos tivessem sumido e ela se encontrava sozinha novamente, não havia nem garotinho, nem a mulher apenas a ruivinha com sardas pequenas, quase invisíveis e o som de suas lágrimas era encoberto pela chuva.

Sozinha.

Ela estava sozinha junto a tristeza que carregava, sua irmã tinha sumido, seu pai tinha sumido, sua mãe tinha sumido. Tudo tinha desmoronado desde aquele dia.

E o que restava eram apenas os trovões e as lágrimas.


[...]


Minha respiração estava ofegante, meus ombros eram chacoalhados e o brilho roxo, azul e branco dos relâmpagos eram vistos da janela, minha visão estava turva e minha cabeça doía. Quando tudo entrou em foco novamente percebi que alguém chamava meu nome, duas mãos seguravam meus braços, uma delas fazendo um carinho suave em um deles, pisquei algumas vezes sentindo meus cílios molhados. Eu estava chorando?

— Sakura, o que aconteceu? Teve um pesadelo? 'Cê 'tá bem?

— Sasu-ke? — falei pausadamente coçando um de meus olhos sentindo as costas da minha mão ficarem molhadas.

— Sou eu, Rosinha, sou eu.

— O-o que faz acordado... Aqui?

— Você estava falando enquanto dormia, as paredes entre um quarto e outro são meio finas e eu tenho sono leve... Quando eu cheguei aqui você estava tremendo e chorando.

— Hn, agora entendi porque seus pais dormem na "ala oeste", paredes finas devem atrapalhar... — desconversei rindo meio rouca pelo sono.

— Não acredito que falou isso. Credo, Haruno.

— Desculpe — ri novamente fechando os olhos e sentindo as gotas que ainda estavam presas em meus cílios caindo, o rapaz esticou as mãos gentilmente posicionando-as sobre minhas bochechas e esfregando o polegar lentamente abaixo dos meus olhos.

— Teve um pesadelo? — repetiu uma das primeiras perguntas, agora sem mais o tom brincalhão de antes, segurei uma de suas mãos contra o meu rosto fazendo carinho com o polegar, ele me fitava em silêncio e deixou a mão livre escorregar pelo meu corpo descendo até o meu braço, me soltando por fim e se apoiando na cama.

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