[Capítulo 20]Sophia - Pega leve comigo

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Amasso o papel enquanto passo pelo corredor, minhas lágrimas descem e queimam meu rosto, queria me concentrar e não derramar uma gota sequer por aquele grande filho da puta! Respiro fundo e ando como se não houvesse amanhã, quero sair daquela merda de lugar e não ter que olhar na cara de ninguém. Pego meu celular e abro no aplicativo de carro chamando um Uber, aguardo o rapaz chegar sentada na escada, coloco óculos de sol e prometo a mim mesma que isso vai passar!

Ele pergunta se vamos ao endereço do hospital assim que entro no carro e eu assinto, não estou com vontade de falar nada, acho que ele percebe, aumenta uma música eletrônica para quebrar o silêncio que paira no carro, guardo meu celular assim que aponta mensagem de Ryder e da Lizz e finjo que esse pesadelo nunca aconteceu, pelo menos por minutos, até a minha cabeça se acalmar e eu entender o que de fato aconteceu. Porque, estar com o Daniel me fez privar metade do que eu precisava sentir na noite passada, o nojo, ódio e a repulsa por um cretino, cafajeste e inútil.

A música eletrônica se dissipa e começa a tocar Easy On Me da Adele.

"Então eu sempre ia na casa deles no finais de semana - ele continua sem me responder- até que um dia levei a minha irmã Carolline de dezessete anos na época na casa deles, ela ia ficar sozinha e pediu para sair comigo, eu era o irmão que toda mulher quer, apoiava em tudo! Aquele dia foi muito estranho, percebi ele a encarando o jantar inteiro- meu coração gela."

-Mentira Daniel, não pode ser- ele me olha.

-Continuando... Quando vi aquela cena eu não acreditei, queria matar ele, ela tinha acabado de completar dezessete anos.

-Dani, para de mentir, por favor - uma lágrima desce involuntária e ele me encara.


Enxugo as minhas lágrimas e tento lutar com a dor no meu peito e a vontade de apagar tudo que passei com ele, as risadas, o sexo...

Assim que levanto do sofá escuto uma música alta ecoar na sala, olho em direção das escadas e percebo que Ryder desce com uma calça preta social, de cinto e uma camisa também social e preta aberta revelando aquele peitoral incrível. Na sua mão um castiçal prata virou seu microfone, quando chega no penúltimo degrau ele desce e pula de joelhos na minha frente estendendo a mão direita.

-I'm beggin', beggin' you
So put your loving hand out, baby - ele pega a minha mão e continua com sua performance, eu começo a rir sem ter outra opção, então ele se levanta e vai passando em volta do meu corpo ainda dizendo todas as partes da música.

-Você está muito linda e encantadora hoje Lorenzinha, com um perfume extraordinário.

"Destino de Sophia" - ouço o GPS e agradeço o rapaz que nem conferi o nome, saio do carro e ajeito minha mochila, pego a máscara no bolso e respiro fundo antes de colocar o pedaço de pano no nariz.

-Olha ela aqui, como você está- topo com Drake que aparece do nada no corredor e tento disfarçar, mas ele percebe meus olhos vermelhos, aqui não posso ficar de óculos de sol, infelizmente.-  Você fumou muito ou chorou? - pergunta preocupado, eu apenas o abraço como se não houvesse mais nada, precisava de algum amigo naquele momento. -Ei, o que foi meu bem? - beija minha cabeça - é a pressão da faculdade?

-Sim -minto - acho que fui mal na prova, não vou aguentar mais isso- isso é verdade, choro mais e ele me abraça forte.

-Lindona, você é maravilhosa e forte, decidida, vai aguentar mais do que imagina, essa vida de medicina não é fácil, a gente surta, mas, se não fosse isso não estaríamos aqui!

-Tenho certeza que ela vai superar e sair dessa, porque ela vai ser a melhor pediatra que eu conheço - Vejo Daniel na porta me encarando com sua prancheta na mão. - é só uma fase, mas vai por mim, passa! - solto Drake e o mesmo beija minha testa mesmo de máscara.

-Respira Sophia!- eu sorrio- Mostra para o mundo para que você veio pelada e chorando. - Dr Drake, comparecer a emergência - Saudades da faculdade! - ele fala se ajeitando para sair - Cuida dela Daniel, por favor!

-Sempre! - assim que Drake sai eu vou até meu armário, guardo minhas coisas e me troco, ajeito meu cabelo e volto a máscara no rosto, respiro fundo, saio e Dani me aguarda. - não acha melhor ir para casa?

-Prefiro trabalhar. Além do mais, vou me ferrar nessa matéria, fiz uma prova surpresa dele hoje e fui mal! Não consegui me concentrar.

-Filho da puta.

-Professores são assim Daniel!

-Ele é pior! Mas, se quiser posso te dar aulas, não tem problema - o abraço.

-A vida me deu os melhores amigos, e você sem sombra de dúvida foi um dos maiores presentes que eu tive. - o abraço.

-Você é meu presente. - ele me olha.

-Hoje você pode caçar alguma mulher e viver suas peripécias - falo sem graça- te atrapalhei ontem, e prometo não fazer isso mais.

-Por mim, você pode fazer todos os dias...

-Ali está ela Professor -ouço a voz de uma mulher e encaro Ryder parado na porta da sala - Sophia, seu professor veio supervisionar seu estágio, depois assina lá na frente certo? -Daniel revira os olhos assim que a Cassandra da recepção sai e anda em círculos com ódio.

-Você é um imbecil cara!- fala indo para cima dele - para que fazer isso?

-Porque assim ela vai me ouvir- estou parada pasma.

-E se eu não quiser te ouvir?- falo baixinho.

-Vai ter que ficar o dia todo comigo, porque não abro mão de supervisionar seu estágio!

-Dani, eu vou fazer meus deveres e não tem problema, pode ficar em paz - falo o olhando- qualquer coisa te chamo, está bem?

-Como se eu fosse um desconhecido, ou monstro que pode te fazer mal - Ryder comenta.

-Você é tudo isso e um pouco mais, pra mim, esse cara que está aqui é um homem do qual tenho nojo, repulsa e muito ódio! Mas, infelizmente é meu professor, e eu amo demais a minha faculdade para desistir do meu sonho, mas por favor, não me trate com a "Lorenzinha" do cara que eu achava que amava mais que a minha vida, porque hoje e sempre serei a Sophia! A sua aluna!

Paixão InconsequenteOnde histórias criam vida. Descubra agora