12 - As pessoas morrem!

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...

Acabou. Tiro o fone e vou até a bancada finalizar a gravação, edito cortando o início e o fim, e depois ouço ela. Não ficou ruim, posso fazer algumas mudanças finais, mas está boa. Salva e mando para o Carlos. Passa um tempo e com um áudio ele me responde:

-Isso tá incrivelmente bom, Brenda!!! A versão em inglês, então. Caralho. Foda apenas isso. Vai ser sucesso, já pode criar mais músicas que temos que lançar um álbum! - A empolgação estava nítida na voz dele.

Quando tirei o fone, ouvi batidas na porta, era Kiko. Fui até a mesma e abri.

-Vamos jantar. - Disse ele, que parecia sério e Kiko dificilmente era sério.

-Não to com fome. - Falei, mas quando fui fechar a porta ele a segurou. Voltei a olhar pra ele que engoliu em seco.

-O Ryan chega amanhã de manhã. - Ele disse e eu o encarei incrédula. Ele não podia voltar, não agora. Com Ryan por aqui, tudo vira uma incógnita. Eu balancei a cabeça, ele não fez isso, ele não podia fazer isso. - Eu liguei pra ele, logo depois do almoço.

-Eu ia ligar pra ele. Por que você ligou pra ele? Ficou maluco!? - Disse irritada.

-Viu? É por isso que eu liguei primeiro, você não sabe lidar com problemas, nunca soube, você sempre se torna a pior pessoa pra você ou para os outros. Sabemos como você é. Você é uma pessoa instavel, aceita isso, porra!

-Eu sei cuidar de mim mesmo. Eu não sou uma criança mais, eu sei a realidade do mundo.

-Sabe? Então você sabe que poderia ter cuidado daquela situação diferente, você sabe que nessa e em outra milhares de situações.

-O que você quer dizer com isso? Realmente acha que naquelas situações tem saída, ou que é melhor ficar parado e congelar. Acha que caso vire estátua, eles vão te confundir? Aquilo era a porra de um apagão, eles não hesitam, principalmente quando já conhecerem a pessoa. ELE IA MORRER.

-No final, ele morreu do mesmo jeito, não é? E se quer que eu diga em voz alta, eu digo: eu não sei defender, eu não sei lidar com situação, e você já foi assim. E caso esteja se achando superior, você não é. Você não é policial, não é médico, muito menos super-herói ou anjo. As pessoas morrem! Aceita essa ideia! E as únicas pessoas que podem tentar impedir isso é a merda de um policial ou médico. Não adianta irritar, correr, gritar, estancar ou costurar, não salva ninguem nessa porra. Não salvou ninguém, não salvou o João Pedro, a Agatha, a Sandra, o Miguel, não salvou o Eric e nem sua mãe. - Contrai a mandíbula e cerrei os punhos. - Não salvou e nem ia nunca salvar.

-Pelo menos eu tentei salvar eles. - Soltei os punhos me acalmando, encarando Kiko e pedindo que ele sumisse da minha frente, porque eu nunca quis tanto bater nele. - Eu nunca desisti, nem quando falaram que tinha que acabar. Eu com 12 anos tive que retirar balas de um corpo e depois dar ponto nas feridas. Eu aos 11 anos vi minha mãe ser alvejada dentro de casa na minha frente. E além de outras coisas que você sabe que eu tive que me submeter e que não tive escolha. E no momento que eles estavam feridos pelo menos eu estava determinada a salvar a vida deles, nem que eu perdesse a minha. E a princípio eu nunca fui covarde, e sempre sustentei minhas merdas e corres. Quem sabe um dia você se consagre e consiga ser como eu. - Dei um tapinha em seu ombro, fechei a porta e tranquei a mesma. 

Limpei os olhos com lágrimas de raiva, respirei fundo e me joguei na cama, fechei os olhos, sem precisar ignorar o barulho exterior que era silenciado pelas paredes a prova de som.

Abri os mesmos e olhei para o lado em um ponto aleatório na parede.

-Como às vezes eu odeio minha vida. - Disse e levantei.

Pensei em ligar pra Ryan milhares de vezes, mas resisti a essa ideia. Tentei escrever letras de alguma música, mas não conseguia. O melhor era tentar dormir, e acordar que amanhã era outro dia, e que eu sabia que não ia ser como qualquer outro, porque o Ryan ia chegar, e agora esse carro que é minha história, estava sem controle, tudo pode acontecer. Mas minha certeza, era que hoje eu tinha me despedido de JP, que nunca gostou de ser apegado, e vou cumprir sua vontade.


Acordei no escuro, tinha um relógio eletrônico no topo da parede que marcava 6:20 da manhã, cedo demais pensei comigo mesma. Tentei dormir de novo ou até relaxar na cama, mas não consegui, espiei pelo vidro da porta e vi Fefe dormindo na cama. Abri a porta com cuidado evitando qualquer barulho, desci as escadas e fui para cozinha, onde eu vi Aron no jardim. Fui até ele, que olhava o pôr do sol, e parei ao seu lado.

-Bom dia! - Disse ele

-Não conseguiu se acostumar com o fuso? - Perguntei

-Eu acorda cedo mesmo.

Ficamos em silêncio, eu comecei a observar o sol, quando me virei que ia voltar para casa, tive a impressão de que Aron estava olhando de canto de olho pra mim, mas ignorei. Dei alguns passos de distância, até que ele correu e segurou meu pulso.

-Eu posso ter dito que eu sei muito sobre você, mas eu não sei. Quero saber, mas não agora e sim lentamente. Mas mesmo que você não goste, quero que me responda, se está bem? De verdade, eu me preocupo com você. - Ele disse e eu ergui os olhos, não podia ser verdade, ninguém se apaixona tão rápido, amor instantâneo não é um fato e eu posso provar.

-Obrigada, mas eu estou bem, pelo menos até agora. - Disse e como ele não disse em sequência me virei mas ele continuou segurando meu pulso.

-Eh. Eu nao sei se posso pergunta? Mas porque você nao quer aquele garoto aqui... o R...

-O Ryan? É difícil explicar. Ao mesmo tempo que ele é a única pessoa que eu quero ver, ele ao mesmo tempo é a última. Ele muda tudo, sempre mudou. - Disse sem intenção de atingi-lo, mas parece que atingiu, por algum motivo.

-Como assim? Ele muda tudo. - Ele disse, soltando sua mão do meu punho e abaixando os ombros.

-Ele cresceu comigo e sabe quase mais que eu da minha própria vida. Ele é imprevisível, corajoso, até demais, não tem medo. É irreal e deixa sua vida tão irreal que é totalmente imprevisível. - Ele me encarou enquanto eu dizia. - Nos só causamos confusão.

-Então vocês tem algo? - Ele perguntou com duplo sentido me deixando irritada.

Entre nós dois I ARON PIPEROnde histórias criam vida. Descubra agora