24 - pra sempre não existe

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Anos atras...

-Onde a gente vai? - Que pergunta besta que eu fiz, a gente nunca sabe onde vai, o primeiro lugar que nos dá a louca a gente para.

-Caldo de cana. - Ele diz, e acelera.

Caio para o mais próximo possível do calçadão.

-O que você vai querer? - Pergunta sabendo que eu não posso tomar caldo de cana, se não eu passo mal.

-Caipirinha. - Digo entregando o capacete pra ele, que me encara com a mão na cintura.

-Eu prometi para sua mãe que você ia voltar inteira.

-Mas eu não vou perder o fígado. - Digo dando de ombros.

-Mas ficar caidinha por mim. - Ele disse enrolando o braço em mim, enquanto no outro tinha os dois capacetes.

-Mais?

-Com certeza. - Ele diz. - Vai que vem morar comigo. - Isso foi um convite? - Claro que não na minha casa. Credo. - Sua expressão cai.

-Seu pai ainda continua com as drogas?

-Já desisti. Reabilitação, remedio, centro, tratamento. O único jeito é morrer.

-Caio... - Digo olhando pra ele que me olha.

-Você já viu como é? Eu não vou largar ele, mas não existe jeito de salvar. E sinceramente, nem sei onde ele tá tirando tanto dinheiro, ou tá devendo tanto que um dia vão encomendar a morte dele. - Ele voltou a olhar pra frente. - A gente não precisa desse assunto, né? - Ele diz dando uma mordidinha na minha orelha.

-O que você quer? - Pergunto e ele aponta pro mar. Balanço a cabeça em negativa e ele sorri.

-E os capacetes?

-Deixa na beira

-A gente provavelmente vai ser assaltado. - Digo e ele dá de ombros.

-A vida é só uma para nos termos medo dela mesma.

-A vida é isso?

-Não, a vida é sentir seu coração bater, não importa as consequências. - Ele diz olhando fixamente para mim, sorrio e concordo. Ele me dá um beijo no rosto, com uma mão na minha cintura. - Bora virar sereia. - Rio.

Tiramos os celulares e deixamos de baixo dos capacetes. Enquanto o dinheiro e os documentos, nos cavamos com a mão um buraco de 4 dedos de profundidade colocamos ali dentro, e tapamos com areia. Eu tiro a blusa e o tênis, Caio faz o mesmo tirando também o casaco.

Entramos correndo na água gelada, que provavelmente nos deixaria resfriados. Na primeira onda, Caio mergulha. Levanta com o cabelo caindo no rosto e um sorriso lindo. Vem até mim me abraça forte. E se joga na água me levando junto.

-Idiota. - Digo caída na água.

-Obrigada. - Ele diz se aproximando de mim e roubando um beijo. Ele se afasta um pouco, com uma expressão de "mais ou menos", sem que ele espere, jogo água nele. Levanto e saio correndo mar adentro, Caio corre atrás de mim. Me pega, gira no ar e me abaixa me beijando, a gente se beija, não arde, não vou mentir que parece droga, não porque vicia, mas libera uma dose enorme de serotonina, que perdemos a noção de tudo, do tempo, do perigo, do mundo a nossa volta. A gente faz o que acha que vai ser melhor para gente, sem se importar com as consequências.

Meus lábios começam a ficar roxos, e saímos da água. Colocamos a roupa e ele me dá seu casaco, depois começa desenterrar os documentos com dinheiro, achamos na primeira tentativa. Nem teve a emoção da gente achando que perdemos.

Entre nós dois I ARON PIPEROnde histórias criam vida. Descubra agora