31 - É real?

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...

No outro dia, quando acordo com os olhos pesados, é Jorge que traz o café.

-Preciso saber de algo. - Ele diz enquanto eu passo geleia no pão.

-Com uma condição.

-Condição? - Sinto medo e receio na sua voz;

-Seu nome. - Pergunto e ele sorri, sumindo o nervosismo.

-Ah... Claro. Jorge. - Otimo, penso comigo vendo tudo parecer certo.

-E o que você queria?

-Ver se você é confiável. - Por quê não?

-O que eu preciso fazer?

-O trabalho que um dos guardas não conseguiu fazer.

-Ta. - Digo me levantando e batendo a sujeira das mãos. Hoje eu tô bem melhor que ontem, não existe mais pessoa confusa.

-Assim que é o espírito. - Diz ele me guiando.

No corredor, um corpo jogado indica o que aconteceu com o guarda. No paredão, 3 pessoas, o "sequestrador" que parece que perdeu a alma e só ta o corpo, a loira delirando e o olhos claro que é o único com o maior chance de vida fisicamente e também o que me olha com os olhos brilhantes me deixando com frio na barriga.

-BB... Você se lembra, né? Não me esqueceu, né? - Garoto maluco, penso.

-O que tenho que fazer? - Pergunto pro Jorge ignorando Aron.

-BB, eu te amo. - Olho para ele, implorando com os olhos. "Esse é o ato mais maluco de uma pessoa com medo?"

-Pegou esses malucos aonde? - Jorge ri satisfeito com a minha fala.

-Seu trabalho é atirar neles. - Ele me entrega uma arma e eu travo.

-Atirar?

-Só atirar, um gritinho de dor não faz mal pra ninguém. - Ele sorri calmo, e olha pros três esperando minha ação.

Carrego a arma, e miro como se fosse atirar.

-A BB morreu. - Diz Ryan e eu agradeço por ele estar vivo, do jeito que estava parecia quase um cadáver. - Quem é você? - Ele pergunta pra mim, com maxilar travado. - Cadê a porra da minha amiga? Cadê ela?

Solto um pouco a arma da minha mão. O olhar dele de raiva dele me penetra. Sorrio, e parece que um pouco do brilho dele volta. Me viro para Jorge com olhar pacifico, calma e satisfeita, ele parece confuso e com medo. Deixo o sorriso desaparecer gradualmente, e abaixo um pouco a arma, não tirando os olhos deles, porque eu espero que seja a última vez que o vejo de olhos abertos e vivo. 

- Você é realmente um filho da puta. - Bato com a arma na sua cabeça e ele cai.

Aron consegue se soltar e corre até mim, no momento que solto a arma no chão. Ele segura meu rosto, analisando cada fragmento dele e em seguida me abraça.

-Eu fiquei com tanto medo. - Ele diz e se afasta analisando novamente meu rosto. E me beijando em seguida, sinto ele relaxar, e quando vê que é real o que está acontecendo, ele aperta mais os lábios no meu, e sorri. Sai do beijo e me olha mais uma vez, se afastando, me deixando ir até meus amigos.

Vou até Ryan e solto seus pés, e quando vou até as suas mãos, ele ainda me olha com o rosto quase desfigurado em choque. Quando o solto, ele coça os pulsos sem mudar a expressão por um segundo ainda raciocinando.

-É real? Eu não quero estar alucinando por seja lá o que me deram. - Balanço a cabeça sorrindo e ele me abraça com toda força do mundo. E chora. - Obrigado. Obrigado. Obrigado. Obrigado. - Ele me solta e passo o dedo pela minha bochecha, só pra checar se não estava maluco. E me abraça novamente,parecendo que nunca vai soltar e também não tem problema.

Vejo de canto de olho, Aron soltando os braços amarrados de Fefe. Saio do abraço de Ryan e ela me olha receosa, sorrio pra ela, que me abraça.

-Você me desculpa?

-Você não fez nada de errado, além de desistir das coisas por minha causa. - Digo.

Olho em volta e penso em qualquer maneira que podemos sair daqui. Ryan corre ate Fefe e a abraça com força, como se nunca fosse soltar. Espero não ter atrapalhado a felicidade deles.

Passo por Jorge no chão, e vou até a porta. Tento virar o trinco, mais de uma vez, puxo ele, empurro, bato contra a porta, nada adianta. Me abaixo para ver a fechadura e ter uma noção de como quebrar ela.

-Vai ter que tentar arrombar ela. - Digo e estranho o silêncio que se mantém. Olho de canto de olho e vejo Jorge de pé.

Me viro por completo, ele com uma arma apontada pra mim e outra pra eles. Passo meu olhar dele pra o de Ryan vidrado em mim, mas para meu desespero, pela primeira vez, eu não sei o que seu olhar quer dizer, se é "não cometa nenhuma loucura", "calma", ou seja lá o que se encaixa nessa situação.

-Eu sabia que você era louca, mas nem tanto. - Diz Jorge com o topo da cabeça ainda sangrando. - Quando você era mais nova, até tudo bem, você se encaixava naquela política de temer aquela pessoa que não tem nada a perder, porque ela não tem medo. Mas eu pensei que você ia superar isso e ver que agora sim você tem coisas a perder.

-Desculpa, sobre o que você tá falando? Quem é você? - Perguntei irônica, e ele ri alto.

-Por que me internaram no manicômio?

-Porque você é louco. Olha o que você tá fazendo.

-E você tem que aprender a lidar com as consequências de mexer comigo.

-Você matou seu filho, a pessoa que eu amava! - Digo enquanto nos encaramos com o mesmo olhar da primeira vez que eu vi ele depois da morte de Caio, "...nossos olhos travam uma briga, vendo quem vai perder o controle primeiro e tentar matar o outro...".

-Talvez se você não fizesse a tarefa dos outros, ele ainda podia estar vivo. - Ele começa a se aproximar ainda apontando as armas da mesma maneira, mas mesmo que eu queira fugir, não posso, estou encurralada. Os passos de Ryan na direção dele, faz Jorge atirar na direção deles sem olhar, o que pega de raspão no ombro de Fefe e Ryan para, congelado. - Ainda gosta de altas velocidades? - Ele pergunta a mim. - Que tal um passeio com seus amigos?

Jorge me segura por trás apontando a arma para minha cabeça, e guia os outros apenas com o bico do fuzil que ele segura na outra mão. Descemos uma escada, ele por último, que quando percebe uma recuada de Ryan,  o chuta fazendo ele cair escada abaixo, quase levando os outros juntos. Para levantar e andar, ele precisa da ajuda de Aron e Fefe, que obedecem de cabeça baixa sem olhar para a arma na minha cabeça podendo declarar o fim da minha vida a qualquer momento.

Entramos em uma minivan, o maníaco abre a porta, e entram primeiro eles, depois ele me joga em um banco entrando logo em seguida, fechando e trancando a porta. Me puxa e me coloca no banco do passageiro, sem nenhuma amarra, algo que provavelmente um de nos dois se arrependeria.

A arma que ficou na minha cabeça, agora apontava para baixo das minhas costelas, com ele dirigindo apenas com uma mão.

Ryan geme no banco de trás com dor, provavelmente a fratura que a queda causou, Jorge apenas olha de canto de olho. Mas creio que pela 3° ou 4° vez que Ryan reclama, o maníaco perde a paciência, se vira pra trás tirando a arma da minha costela e apontando para ele, me deixando livre.

E é nesse momento que percebo que talvez eu esteja errada, e o fato de eu não estar amarrada pode causar arrependimento nos dois, porque eu ajo por impulso, pego no volante e giro bruscamente. 

Antes mesmo que Jorge queira colocar o carros nos "trilhos", nos já entramos na faixa contrária, e uma luz nos cega. Tendo como última memória um forte impacto contra o carro que capota.

Entre nós dois I ARON PIPEROnde histórias criam vida. Descubra agora