32 - Alguém morreu?

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Alguns anos atrás...

Paro a moto do lado de fora do cemitério, caminho entre os túmulos até chegar ao do Caio. Me agacho, troco as flores murchas e limpo o chaveiro de moto com minha blusa.

Levanto olhando a pequena montagem de fotos de Caio plastificada, apoiada ao túmulo. E inevitavelmente, uma lágrima silenciosa cai sendo limpa logo em seguida. Começa a chover e meu peito aperta de saudades, não consigo manter o papel de durona, mas pelo menos na chuva ninguém consegue ver que estou chorando.

Sem tirar o olho da foto de nos dois juntos na praia no canto inferior direito da montagem, peço desculpas.

-Desculpas pelo que? - Pergunta Charles, irmão de Caio, atrás de mim. - O Caio tá se revirando no túmulo querendo brigar com você por causa disso. - Limpo as lágrimas concordando com ele.

Não dizemos mais nada por mais uns 5 minutos, olhando apenas para um ponto vazio do chão.

-Se eu dissesse que Jorge morreu, como você reagiria? - Olho pra ele tentando identificar se é mesmo uma pergunta retórica. - Como se deve reagir a morte de uma pessoa que você mesmo gostaria de ter matado.

-Talvez eu... - Tentava pensar. - Sei lá.

-Eu falei pro Maicon que ele morreu.

-É verdade?

-Não, mas essa é a melhor opção. Que ele esqueça de uma vez esse maníaco. - Charles encara os sapatos.

Novamente ficamos em silêncio, vagando no som barulhento da chuva que nos encharcava sem preocupação. O ar úmido entrava e sai pelas nossas bocas secas, enquanto nossos olhos molhados fitavam o mesmo ponto no chão.

Me viro para ir embora, mas Charles me segura.

-A sentença dele foi diminuída. - Ele diz olhando sério e preocupado. - Em menos de 5 anos, ele é solto. E... cuidado, por favor.

-Ele não...

-Vai sim atrás de você, ele só piorou. - Charles começa a chorar. - E... finalmente eu tive coragem de mexer nas coisas do Caio e... - Ele me entrega um papel meio amassado, mas com a caligrafia única de Caio. Guardo antes que molhe mais, agradeço. - Não acredito que você ainda continua com a moto. - Charles dá um sorriso singelo e se despede.

Vou até a moto, e paro em uma árvore próxima para ler a carta.

Abro a carta, respiro fundo umas três vezes, antes de começar a ler.

Gato miau,

Não aqueles gato de velhinhos, mesmo eu querendo que cheguemos juntos até a terceira idade. Não aqueles gatos de azar, mesmo tendo pisado na bola. Apenas o gato, animal que inexplicavelmente sempre fica de pé.

Minha vontade de te dar um gatinho era grande, mas... você precisa primeiro aprender a cair de pé. E mesmo que isso possa significar coisas malucas e ruins, você, em algum momento, vai ter que aprender sozinha. Porém, prometo, que sua base vai ser tão forte que nada a derruba,  e prometo não te largar quando ela estiver pronta, como você me promete que eu não vou ser essa base.

Eu descobri a parte dura da vida pelo meu pai, mesmo não querendo, isso se trata de mim, porque eu não quero ver se tornar sobre nós. Tento te deixar longe desse problema, pelo fato de ser um campo minado que tem que saber pisar sem causar explosão; mas caso um dia entre nesse campo você tem duas opções: ande calmamente analisando toda a sua volta (ele) ou jogando o jogo dele. Só cuidado quando muda a estratégia ou quer jogar com as duas.

Enfim...

Eu não quero você machucada ou desistindo da vida por causa da incopetencia dele com você.  Eu só quero acordar ao seu lado, dormir ao seu lado, podendo dizer que você me enfeitiçou  de corpo, alma e coração. E não quero você dizendo que isso é reciproco, quero eu dizer que você  sendo a pessoa que me encontrou quando estava perdido, quero que o segurança daquela clinica diga que qualquer idiota perceberia os olhos brilhantes daquele garoto ao ver a menina. Eu quero que você saiba que eu te amo, não um amor comum. O meu amor. 

Entre nós dois I ARON PIPEROnde histórias criam vida. Descubra agora