11 - o amor é aquilo que não machuca... tipo uma coxinha.

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Acordei em casa, na cama do meu quarto, pelo fato de eu não me lembrar muita coisa depois do médico ter anunciado que JP tinha morrido, provavelmente me sedaram, mas não vou ficar brava, eu sei que essa é algo que eu não consigo lidar nem um pouco bem. Me sentei na cama, eu continuava com a mesma calça e minha perna doía, levantei o lençol e vi uma pequena poça de sangue, eles não viram o tiro de raspão na perna, o meu braço estava com curativo no tiro de raspão, e no corte que ainda sangrava já que o curativo estava sujo de sangue.

Em uma cadeira no pé da cama, dormia Aron com a cabeça apoiada nos braços, com meu movimento na cama, ele acordou, se levantou e antes de dizer algo, bocejou.

-Bom dia. - Ele disse. - Você está bem? Sentindo alguma dor? - Perguntava preocupado.

-Não... na verdade. - Levantei a coberta mostrando o sangue. Os olhos dele cresceram.

-Puta que pariu! - Ele olhou do sangue para mim em pânico. - Eh... eu sei que é você que tá machucada, mas o que exatamente eu faço? - Rio da sua preocupação e confusão.

-Debaixo da pia do meu banheiro tem uma caixa branca. - Disse e ele foi em disparada para o banheiro e voltou na mesma velocidade. Se aproximou da cama e ajoelhou próximo da ferida.

-E agora? - Ele diz, eu tento puxar a bainha da calça, mas doi demais, entao teria que tirar a calça.

-Eu... eu acho que vou ter que tirar a calça para conseguir fazer o curativo.

-Ta. Tira logo antes que a ferida piore. - Olho para ele que parece totalmente perdido, ignoro e tiro devagar. Mas ele não me olha, apenas mantém o olhar entre o curativo e o machucado. Aron ajuda o tecido a passar pela ferida, e faz uma careta quando ela fica totalmente exposta.

Sinto sua mão quente enquanto ele faz o curativo, o observo, todo concentrado e tomando todo o cuidado.

Ele guarda o kit, e vai até o closet, e em alguns minutos ele volta com uma calça de moletom dos Lakers. Coloca ela na cama, e estica as duas mãos para me ajudar a levantar devagar. Ele ainda segurando uma das minhas mãos pega a calça e me ajuda a colocar, mesmo eu dizendo que não preciso de ajuda, ele insiste. Mas não posso mentir, eu gosto dele cuidando de mim como se fosse a coisa mais preciosa do mundo que não poderia ser quebrada nunca, como se eu fosse única. Talvez bonito não seja a palavra, mas é reconfortante, porque mesmo que ele não saiba, está cuidando das minhas invisíveis cicatrizes.

Depois ele insiste que eu continue deitada. E senta ao meu lado.

-Onde estão os outros? - Pergunto e Aron baixa o olhar.

-Eh... No enterro. - Ele engole em seco em seguida. Eu apenas suspiro e sinto um vazio no meu peito. Mesmo a gente tendo uma relação conturbada, eu queria JP aqui, andando com uma caixa de som no último volume, cheirando a vinagre por causa das queimaduras, sempre queimado por causa do sol, sorrindo. Queria viver de novo com ele. Eu queria ter salvo ele, nem que eu tivesse morrido.

Eu não chorei quando eu recebi a notícia que ele tinha morrido, talvez o choque que eu tinha sofrido com tudo tinha sido grande demais para eu conseguir chorar, mas agora eu choro, choro incontrolável, Aron me puxa pra perto e mergulho minha cabeça em seu peito, e ele deixa.

-Esvazia sua dor, nem que passe pra mim. - Ele diz enquanto eu continuo chorando, sem nenhuma chance de parar. Sua mão está nas minhas costas.

Não sei quanto tempo eu chorei, mas provavelmente meus olhos devem estar vermelhos e meu rosto inchado. Eu não saio da posição quando paro de chorar apenas viro minha cabeça apoiando em seu peito e encarando o lado de fora da janela aberta.

Entre nós dois I ARON PIPEROnde histórias criam vida. Descubra agora