Capítulo Quatro

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No sábado à tardinha, após ter acordado pouco depois das duas e meia da tarde, Choi Beomgyu começou a colocar o seu plano para vencer a brincadeira da festa que seria sediada pela Ordem Secreta de Busan em ação. Primeiro, conferiu-se no espelho comprido que tinha pendurado ao lado da mesa em que ficava seu computador e em frente à escada do mezanino em que ficavam a sua cama e a única televisão que tinha em casa. Seus cabelos tinham crescido tanto que batiam numa altura abaixo dos ombros largos e não tinham mais um corte definido. Os fios eram escuros e levemente curvados nas pontas. Algo trivial, mas que Beomgyu pensava em mudar para que ficasse de fato irreconhecível.

Os orbes escuros também eram motivo de preocupação. Ele sempre ouvia Taehyun, Huening Kai e Soyeon exclamarem que seus olhos eram bonitos e que se pareciam, quando Beomgyu olhava-os nos olhos, com jabuticabas maduras. Como tinha a intenção de neutralizar tudo aquilo que pudesse evidenciar que ele era Choi Beomgyu, não poderia manter, e nem queria, aquele olhar que era sua assinatura.

Ele foi bater à porta de Taehyun, que morava no quarto andar do prédio, um andar acima do andar em que o aspirante a engenheiro da computação vivia, para perguntar se o amigo tinha um smoking para emprestar. Reviraram o guarda-roupas e encontraram, por um acaso, um fraque, que era uma roupa muito similar a um smoking, mas que possuía uma cauda na parte traseira da vestimenta que se estendia até os joelhos. A roupa parecia ter aparecido como mágica, como se soubesse que Beomgyu precisava dela para aquela ocasião específica. Quando a encontraram, Taehyun soltou uma exclamação surpresa porque nem sequer sabia da existência daquela peça.

Ele levou o traje à lavanderia que tinha em seu bairro logo em seguida, esquecendo-se de dar satisfações ao amigo quando este perguntou o motivo para Beomgyu precisar de uma roupa tão formal quanto aquela. Atravessou a rua para cortar o cabelo em um salão de beleza no qual ele não confiava muito, mas se os funcionários de lá conseguissem mudar os fios apáticos e sem vida que ele tinha, ele só teria de aturar o cabelo até que crescesse um pouquinho mais, ou daria um jeito de prendê-lo para que seus colegas não reparassem no corte repicado.

Às sete da noite, Beomgyu retornou à lavanderia, apanhou o fraque lavado e passado, que emanava o cheiro do amaciante usado pelo estabelecimento, correndo contra o relógio para deixá-lo em seu apartamento antes de voltar para a rua, à procura dos últimos itens para o seu disfarce. Acariciou a cabeça de Toto antes de sair, esbarrando em Taehyun no corredor e, ao jogar as chaves do próprio apartamento, que cintilaram no ar, ao colega, pediu, conforme descia os degraus da escada, para que o amigo cuidasse do pássaro enquanto estivesse fora. A euforia era tanta que Beomgyu nem se lembrou de que Taehyun tinha uma cópia das chaves de seu apartamento.

Ele não se importou com o tempo durante essa aventura maluca que tinha colocado na cabeça. Era teimoso e obstinado. Ele faria de tudo para que vencesse o jogo no dia seguinte e, assim como Jay, torcia para que não estivesse caindo nas garras de um golpe. Mas por razões diferentes, é claro. Enquanto Jay torcia para que o amigo não estivesse sendo enganado porque temia pela vida de Beomgyu, o aspirante a engenheiro sentia-se vivo pela primeira vez desde que começara a tentar provar ao senhor mandão que tinha tanto potencial quanto ele. Choi Beomgyu estava sendo confrontado por outra entidade, por alguém que não era Choi Yeonjun, e aquilo o deixava eufórico.

Pegou um metrô às sete e doze, parando trinta e cinco minutos depois na estação do Daehyun Primall, onde, mais uma vez, torcia para não chegar tarde demais nos lugares em que deveria buscar aquilo de que necessitava. Sua primeira parada foi em uma loja de cosméticos, onde, pela primeira vez desde que tinha saído do salão de beleza, ele encarou-se no espelho. Os fios do cabelo ainda estavam um pouco compridos, mas agora batiam na altura do pescoço. Uma franja rala caía sobre os olhos e, por vezes, alguns fios interpelavam-se com os cílios compridos de Beomgyu. Finas mas perceptíveis mechas loiras escorriam pelas laterais da cabeça do jovem engenheiro. Era diferente. Ele não sabia se gostava ou não.

Anonimato • BeomjunOnde histórias criam vida. Descubra agora