Capítulo Quarenta

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Quarta-feira, 08 de dezembro



O trem que Choi Beomgyu deveria pegar para Seul saía da Estação Ferroviária de Busan às dez horas da noite. Acordar com aquela informação deixou os nervos de Yeonjun atordoados num primeiro momento. Aquele dia seria o último em que poderia ver Beomgyu quando quisesse. Depois que o mais novo partisse, o barista só conseguiria vê-lo quando juntasse dinheiro suficiente para a passagem de trem e, considerando que ainda não tinha um lugar fixo para morar, isso ainda estava distante de sua realidade. 

Mas, no início da manhã daquela quarta-feira, Choi Yeonjun respirou fundo e decidiu dar um passo de cada vez. Viver um minuto por vez. Aproveitar o que ainda podia ser aproveitado.

Eles deveriam se encontrar no restaurante do senhor e da senhora Gwan ao meio-dia. Com o tempo livre, o barista decidiu ir ao trabalho para ocupar seus pensamentos. Tomou banho assim que abriu os olhos. Vestiu seu habitual uniforme: uma camisa social branca, calça jeans preta e um tênis preto. Saiu do quarto antes do sol aparecer na janela do corredor do hotel. Entrou no elevador e não demorou muito para sair da cabine na recepção do estabelecimento. Com um aceno de cabeça, ele cumprimentou os funcionários da recepção.

— Oi, Yeonjun! — o grito de Wooyoung ecoou pela recepção, fazendo com que o barista cessasse seu caminho em direção à saída do local. Yeonjun olhou para o recepcionista por cima do ombro. Wooyoung abanou um envelope em sua direção. — A parcela da faculdade.

Suspirando, Yeonjun caminhou contra sua vontade para apanhar o envelope. Agora que era sócio da MOA e não tinha um tostão no bolso, as contas pareciam correr na velocidade da luz para bater à sua porta, exigindo um pagamento imediato. Mesmo assim, ele agradeceu ao amigo pelo lembrete e saiu do Hotel Crown, agora já não tão radiante e animado quanto aparentava estar momentos antes de receber a correspondência.

— Maldita faculdade. Como podem exigir que a gente pague pra passar raiva? — resmungou, abrindo o envelope e encontrando uma quantidade absurda de zeros ao lado do valor que devia à Universidade de Kyungsan. Seus olhos se arregalaram e ele parou de caminhar, trancando o fluxo de pedestres. — Aish...

Seu celular vibrou no bolso de sua calça. Ele o apanhou de forma automática, ainda embasbacado com o crédito devedor.

— Alô?

— Yeonjun — a voz de seu chefe surgiu no outro lado da linha.

O barista retesou as costas, agora atento à chamada.

— Sim?

— Não vou conseguir chegar a tempo para abrir a cafeteria. Você consegue fazer isso por mim?

Yeonjun afastou o celular do ouvido e checou as horas. Ele estava em Haeundae às seis e cinquenta e cinco da manhã. Seria preciso um milagre para que ele chegasse no distrito de Nam nos próximos trinta e cinco minutos.

— Claro. — Ainda que soubesse que era impossível, ele concordou, começando a correr em direção à estação de metrô mais próxima.

Minho despediu-se e desligou a chamada no instante seguinte.

A estação de metrô estava lotada, como previsto. O primeiro metrô da linha dois, a qual Yeonjun deveria pegar, tinha os vagões tão cheios que seria impossível alocar mais alguém lá dentro. Ele esperou, então, o próximo metrô, de braços cruzados e com os lábios repuxados em uma carranca.

Normalmente, ele não aceitava missões impossíveis propostas por Minho. Como eram amigos na vida real, fora do trabalho, Yeonjun sentia que podia ser mais sincero e, mesmo se sua relação fosse estritamente de empregador e empregado, ele ainda assim se sentiria no dever de dizer quando algo é impossível de ser realizado. No entanto, agora que era sócio da cafeteria e estava prestes a se tornar o chefe da matriz, ele queria mostrar que daria conta do tranco. E isso, infelizmente, levou-o a despertar um lado de si que, até então, somente Choi Beomgyu tinha conseguido despertar: o lado que não sabia dizer não.

Anonimato • BeomjunOnde histórias criam vida. Descubra agora