Capítulo Dezesseis

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Domingo, 07 de novembro


Sunghoon estava babando no travesseiro de Beomgyu, deitado com o corpo inteiramente retorcido. Huening Kai, que parecia não ter conseguido alcançar a cama para se deitar ao lado do mais novo amigo, estava deitado de bruços no chão, totalmente apagado pelo álcool.

Beomgyu e Taehyun haviam carregado os amigos desde o bar até a casa de Beomgyu. Os ponteiros do relógio de Sunghoon marcavam quatro e cinquenta e duas da manhã.

Taehyun grunhiu ao lado de Beomgyu, esfregando o rosto com ambas as mãos. O aspirante a engenheiro inclinou as costas e esticou o braço esquerdo para fechar a porta do quarto e, com a mão livre, empurrou Taehyun de leve, para que permanecesse do lado de fora.

— Vem, vamos dar uma volta — Beomgyu disse, conduzindo o amigo pela escada, em direção ao primeiro andar.

Eles caminharam em silêncio para fora da casa de Choi Beomgyu, ouvindo os pássaros cantando naquele quase início de manhã. A rua Yeongsong estava deserta, como sempre, e eles não precisaram caminhar unicamente pela calçada.

— Você bebeu pouco hoje — Taehyun constatou, com ambas as mãos nos bolsos da jaqueta e o olhar perdido na calçada escura.

— Minha mãe me mataria se eu chegasse bêbado em casa — Beomgyu respondeu, retraindo os ombros.

Eles avistaram uma pracinha atrás da Biblioteca Municipal de Daegu. Um cachorro de rua dormia debaixo de um dos bancos da praça, mas, fora o bichano, não havia nenhum outro sinal de vida lá.

Os postes de luz os iluminaram assim que pisaram na pracinha.

— Eu quero... — Beomgyu respirou fundo, chutando algumas pedrinhas que estavam em seu caminho. — Me desculpar.

Taehyun demorou para responder.

— Pelo quê?

— Pelo tratamento de silêncio. Pela forma como te acusei. Por todas as besteiras que eu fiz e disse desde o dia trinta e um de outubro.

Os dois pararam no centro da praça. Taehyun se virou na direção de Beomgyu.

— Por quê? — ele piscou os olhos chamativos.

— Porque eu sei que foi injusto. Sei que você tava naquela festa e tudo o mais, mas também sei que deve ter havido algum motivo. E eu não te permiti dizer.

Taehyun balançou a cabeça.

— Você quer ouvi-lo? — Taehyun disse, voltando a caminhar. Dessa vez, eles caminharam até os balanços e se sentaram lado a lado. As correntes de metal do brinquedo rangeram.

— Você quer dizê-lo? — Beomgyu rebateu.

— Eu sabia que você ia para a festa — Taehyun comentou, encarando o chão. — Yeonjun me contou na noite anterior à festa. Eu não queria que você fosse, por isso que agi daquela forma quando você decidiu me contar sobre o convite.

— Como você sabia? Por que Yeonjun te contaria algo assim?

— Porque eu faço parte da nova comissão de graduação — Taehyun ergueu o queixo. Seus olhos ficaram ainda mais escuros em meio à escuridão da noite. — Yeonjun representou a comissão no evento que organizava a festa. O seu nome foi mencionado e colocaram você na lista.

Beomgyu cerrou os olhos.

— Desde quando você faz parte da comissão?

— Faz pouco tempo — Taehyun coçou a sobrancelha esquerda. — Fui apontado como orador e porta-voz da nova comissão há pouco tempo.

— E o que Yeonjun tem a ver com isso? Achei que ele não fizesse parte de nada.

— Ele substituiu Soobin por algum tempo — Taehyun explicou.

— Por quê?

— Eu também não sei — o amigo crispou os lábios, franzindo as sobrancelhas. — Acabei de entrar e não sei de nada. Só sei que seu nome foi parar na lista. Eu também fui convidado, mas só decidi ir por sua causa.

— Pra ficar me vigiando?

— Foi errado, eu sei, eu sinto muito, mas...

— Tudo bem — Beomgyu o interrompeu, suspirando. — Eu faria o mesmo se fosse você. Como você mesmo disse, você acabou de entrar na comissão e surge uma festa do nada, organizada por pessoas que você não conhece e seu melhor amigo é convidado para essa festa clandestina. Faz sentido você querer ir.

— Mesmo?

— Mesmo. — Beomgyu piscou.

Eles ficaram em silêncio. O farfalhar das árvores, o ranger das correntes e o cantar dos pássaros preencheram o ambiente por bons minutos.

— Choi Yeonjun me chamou para sair — Beomgyu disse entre uma investida e outra no balanço.

— Quê?! — Taehyun virou o pescoço rapidamente.

— Ele me entregou um envelope na festa, pouco antes de eu ser eliminado — o aspirante a engenheiro coçou a garganta. — Recebi um convite para participar da nova comissão de graduação e um pedido dele.

— E aí? O que você vai fazer? Já respondeu? Onde está o pedido? — Taehyun cuspiu as perguntas.

— Calma, calma, segura o cavalinho aí — Beomgyu estalou a língua no céu da boca. — O pedido não foi por escrito, então não tenho como te mostrar. Foi algo bastante... alegórico. Demorei para entender, para falar a verdade. E o que mais posso fazer? Vou rejeitar, né?

— Só isso?

— É, só isso — o jovem estudante crispou os lábios.

Taehyun piscou algumas vezes.

— Eu não esperava isso do Yeonjun.

— E alguém esperava? — Beomgyu franziu o nariz, jogando a cabeça para trás. — Ele parecia me odiar.

— Mas ele também nunca falou mal de você. Pelo menos não nas reuniões da comissão em que eu participei.

— Vocês falaram de mim?

— É claro — Taehyun estapeou o peito do amigo. — Por que você acha que recebeu um convite para participar da nova comissão? Fizemos uma lista anônima de nomes que poderiam preencher os cargos vagos e o seu foi indicado por alguém. Tivemos de votar se a indicação era válida ou não.

— E alguém votou contra mim? — Beomgyu se rendeu à sua curiosidade.

Taehyun deu de ombros.

— A votação era secreta, mas a maioria quis você, por isso você recebeu a carta.

Beomgyu grunhiu, esfregando os pés no chão.

— Assim você me mata de curiosidade! — quase gritou.

Taehyun riu.

— Acho que só existe um jeito de descobrir o que você quer descobrir, meu caro.

— Por favor, não diga que eu devo entrar na comissão de graduação — Beomgyu implorou, fingindo uma cara tristonha.

— Você deve, de fato, entrar na nova comissão de graduação.  

Anonimato • BeomjunOnde histórias criam vida. Descubra agora