Capítulo Nove

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Não demorou muito para que o perfume usado pela Raposa se alastrasse pelo ar da cabine de votação, intoxicando os alvéolos de Choi Beomgyu num processo turgente. Suas células agora imploravam por misericórdia.

Os dois estavam a menos de um palmo de distância. As mãos de Beomgyu tremiam ao lado de seu corpo, e ele se espremeu contra a mesa escolar da cabine, recuando. A Raposa sorriu, dando mais um passo à frente, imaginando que causaria exatamente aquela reação ao aspirante a engenheiro. Seu olhar caiu para as mãos vazias de Beomgyu. Seus lábios se torceram.

— Parece que você perdeu isso — a Raposa ergueu a mão direita no ar. Seus dedos indicador e médio seguravam o cartão do quarto 611, aquele que Beomgyu deveria proteger.

— E você veio reivindicar o seu prêmio? — o aspirante a engenheiro engoliu em seco, umedecendo os lábios antes de encontrar coragem para pronunciar tais palavras. O ar estava quente. A cabine não tinha muito espaço, e a Raposa parecia fazer questão de deixar Beomgyu encurralado no menor canto possível daquele local.

A Raposa girou o cartão entre seus dedos, desviando o olhar para o pedaço de plástico que segurava. Choi Beomgyu gostaria de poder decifrar o que se passava na cabeça dela, mas, mesmo sem saber, ele estava mais perto da verdade e daquilo que queria do que esperava.

As têmporas de Beomgyu palpitavam. Há algum tempo, ele queria beijar a Raposa, isso era inegável, mas, naquele momento, beijá-la significava perder a competição que tinham firmado. Ele sabia que tinha perdido. Que tinha deixado um deslize, como perder o cartão do quarto na pista de dança do salão de festas, estragar o seu desempenho, mas não queria aceitar sua derrota.

— Você se lembra da aposta, afinal — a Raposa ironizou. Seus olhos procuraram os de Choi Beomgyu, mesmo que seu queixo apontasse para uma direção diferente da do aspirante a engenheiro.

A Raposa respirou fundo. Seus olhos se estreitaram, como se quisessem analisar toda e qualquer reação que seu adversário pudesse fazer. E Beomgyu se sentia mais do que observado. Era como se a Raposa conseguisse ler seus pensamentos ou antecipar suas ações.

Curvando as costas, a Raposa aproximou seu rosto do de Beomgyu, como fizera anteriormente na festa, um pouco antes de propor o desafio que se encerrava naquele momento. Ela tinha os lábios curvados em uma expressão de satisfação e superioridade.

Superioridade.

Era essa a relação que Choi Beomgyu e a Raposa tinham desenvolvido ao longo daquela noite. Era como se a Raposa estivesse propositalmente interagindo com o jovem estudante apenas para que pudesse lhe mostrar quem estava no comando das coisas naquela noite.

Exatamente como o senhor mandão faria, Beomgyu pensou.

Era isso, então? Foi por isso que tinha recebido aquele convite da Ordem Secreta de Busan? Porque o senhor mandão fazia parte daquela organização e porque precisava ceder aos seus caprichos de diminuir a existência e a capacidade de Beomgyu?

Aquele pensamento fez o sangue do jovem estudante borbulhar. Não de raiva, mas de chateação. Ele havia, mais uma vez, subestimado a capacidade cruelmente competitiva do senhor mandão. Existia, sim, a possibilidade de Choi Beomgyu estar enganado. De estar agindo e pensando com tanto egocentrismo que não conseguia enxergar nada além de seu próprio umbigo, mas, para ele, essa possibilidade era tão minúscula quanto um grão de areia. O senhor mandão sempre havia deixado claro que Beomgyu não era nada se comparado a ele. Por que acreditou que daquela vez seria diferente?

Um choque eletrizante percorreu as células de Beomgyu quando os lábios da Raposa roçaram-se contra os seus, em um toque leve, mas aparentemente desejado pelo adversário. Beomgyu fechou os olhos. O que os olhos não veem, o coração não sente, certo?

Anonimato • BeomjunOnde histórias criam vida. Descubra agora