Capítulo Vinte e Sete

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O Parque da Paz não ficava exatamente no distrito de Nam, mas perto o suficiente para que Beomgyu e Yeonjun não caminhassem mais do que dez minutos no ar noturno e gélido. Servindo como um memorial da Guerra da Coreia, o parque divide terreno com o Cemitério Memorial, que já estava fechado quando os dois alcançaram seu destino final.

Alguns residentes da região passeavam pela quadra revestida por grama, terra e árvores, enquanto outros levavam seus cachorros para passear. Eles caminharam em silêncio até o calçamento que continha a estátua para os veteranos da guerra.

— Você... — Yeonjun começou, imaginando que o resto de sua fala consistiria em dizer que um passeio noturno em um parque ao lado de um cemitério era um tanto macabro, mas parou assim que Beomgyu o interrompeu.

— Onde você tem dormido?

A pergunta atraiu um olhar incrédulo do barista.

— Por que...

— Wooyoung me falou.

— Foi você que disse ao Wooyoung que eu tava na faculdade? — Yeonjun parou abruptamente de caminhar, parando em frente ao mais novo.

Beomgyu concordou silenciosamente. Seu corpo acompanhou o movimento da sua cabeça, para frente e para trás, e suas mãos se escondiam do ar gelado dentro dos bolsos de seu casaco.

— Por que você não volta pra casa? — o mais novo encarou Yeonjun.

Desviando o olhar, Yeonjun umedeceu os lábios. Beomgyu nunca perguntava sobre ele, mas, ao que parecia, as coisas estavam mudando. E aquilo... Aquilo envergonhava Yeonjun de uma forma revoltante. Não que não quisesse a atenção de Choi Beomgyu, mas não queria que ele o enxergasse dessa forma. Que ficasse sabendo sobre esse tipo de coisa. Não queria esse tipo de atenção.

— Aquela nunca foi a minha casa — Yeonjun soprou, sem conseguir sustentar seu olhar em direção ao mais novo.

— Por isso você decidiu dormir na faculdade?

— Wooyoung te contou tudo?

— Wooyoung não sabia onde você tava — Beomgyu deu de ombros, voltando a caminhar. — Eu descobri isso sozinho.

Yeonjun o alcançou rapidamente. O silêncio brando da noite só era interrompido pelo coaxar dos sapos e pela estridulação dos grilos. Por vezes, alguns cachorros latiam e pessoas surgiam com uma conversa animada, mas Choi Yeonjun e Choi Beomgyu permaneceram caminhando, lado a lado, em silêncio.

Em um impulso, quando os dois já tinham contornado a estátua, Beomgyu segurou Yeonjun pelos ombros, arrastando-o até o gramado da praça.

— O que foi? — com as bochechas infladas e os lábios formando um bico, Yeonjun olhou para Beomgyu.

— Quero mostrar uma coisa — apontando para a grama, Beomgyu continuou: — Deita aí.

— Deitar? — Yeonjun arregalou os olhos. — Ficou maluco? Nesse frio?

— Deita aí — Beomgyu abanou uma mão no ar, balançando a cabeça.

Contrariado, Yeonjun fez o que o colega pediu. Beomgyu se deitou ao seu lado. Com o olhar analítico, o mais novo parecia examinar o céu estrelado de outono, ao passo que o barista analisava o rosto de seu colega.

Olhos grandes, lábios proporcionalmente médios e sobrancelhas e nariz retos. Beomgyu tinha o lábio inferior machucado e levemente avermelhado, como se tivesse mordido a região até que a primeira camada de pele sumisse. Pelo modo como seus lábios estavam ressecados, talvez aquilo realmente tivesse acontecido.

Anonimato • BeomjunOnde histórias criam vida. Descubra agora