Capítulo Quarenta e Um

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Quinta-feira, 09 de dezembro


À meia-noite e meia, o trem de Beomgyu e Toto chegou em Seul. A estação da capital estava deserta, abrigando somente os passageiros da viagem do aspirante a engenheiro e alguns funcionários.

Um funcionário da HYBE Co. deveria aparecer para buscá-los assim que o trem chegasse, mas, sem vislumbre de alguém para levá-lo ao seu novo apartamento, Beomgyu teve de esperar sentado no meio-fio da calçada do lado de fora da estação.

Quarenta minutos depois, um homem alto, vestindo roupas sociais e um crachá de identificação da empresa para a qual Beomgyu agora trabalhava, o abordou. Ele colocou o aspirante a engenheiro em uma chamada com o secretário Ahn, que informou a confiabilidade de quem o abordava.

Depois de terem conversado sobre os detalhes do lugar em que Beomgyu viveria pelo próximo semestre (ou, quiçá, por mais tempo), como a senha da porta, cafeterias e restaurantes próximos, o homem indicou uma van preta que o levaria até o local. Conforme o secretário Ahn apontou, todos os detalhes do projeto no qual Beomgyu estava envolvido precisavam ser confidenciais.

O homem deslizou a porta da van e, antes que pudesse pedir para que o aspirante a engenheiro entrasse, o jovem foi puxado para dentro com rapidez. A porta foi fechada logo em seguida e o carro arrancou.

A gaiola de Toto caiu no chão do veículo, fazendo o bichano grasnar.

— Ei, eu falei pra ter cuidado! — uma voz conhecida pelo aspirante a engenheiro advertiu com frieza.

Beomgyu levantou a cabeça, encarando o interior do carro.

Ao seu lado, Sunghoon, Sunoo, Riki e dois outros homens desconhecidos ocupavam os bancos da van. Na frente, o dono da voz conhecida olhava para a cena do banco do carona. Jay tinha as sobrancelhas franzidas em uma carranca. Pelo espelho retrovisor interno, a imagem de Jaeyun sentado no banco do motorista surgiu.

— Bem-vindo ao time, Beomgyu — Riki anunciou, erguendo os braços no ar.

— Você conhece Riki — Jay pontuou, balançando a cabeça para os demais, que acenaram conforme foram sendo chamados. — Aquele é Sunoo, depois temos Heeseung, Jungwon e Sunghoon. E o motorista você também conhece, pelo visto.

— O que é isso? — Beomgyu perguntou, esticando o braço para segurar a gaiola de Toto.

— Nos proibiram de conhecer você — um dos desconhecidos, cujo nome Beomgyu ainda não havia decorado, pronunciou.

— E falamos tão bem de você que todos decidimos vir buscá-lo — Sunoo complementou.

— Eu fui contra a ideia, só para deixar claro — Jay resmungou.

Eu fui contra a ideia, só pra deixar claro — Riki repetiu a fala. — Corta essa! Você ficou todo feliz quando decidimos conhecer Beomgyu pessoalmente.

Jay não respondeu, mas soltou uma interjeição como se não estivesse contente com o jeito respondão de Riki.

— Vamos levá-lo ao seu apartamento e lá conversamos. Por enquanto, é só sentar e aproveitar a viagem — Jaeyun assegurou, encarando o amigo pelo reflexo do espelho.

Apesar de desconfiado, Beomgyu concordou. Ele havia passado muitas noites acompanhado do grupo do Discord para não reconhecer as vozes de Sunoo, Riki e Jay. Sunghoon, por ser seu amigo de infância, era ainda mais identificável. No entanto, Jaeyun era uma variante surpresa. Ele não esperava vê-lo naquele carro, quanto mais vê-lo participando do projeto.

O aspirante a engenheiro sentou-se, colocando a gaiola de Toto em seu colo para confortá-lo após a abordagem abrupta. O carro ficou rapidamente barulhento, mas ele estava cansado demais para interagir. Sua mente, então, lembrou-o do presente que recebera de Yeonjun antes de sair de Busan e, como não queria se render ao cansaço, decidiu abri-lo.

Ele encontrou, dentro da sacola, um pacote de doces yeot e uma carta. Os doces indicavam que o mais velho desejava boa sorte na nova vida que Beomgyu estava prestes a persuadir. Eles foram divididos com toda a equipe do projeto, que os comeu entre uma risada e outra.

Assim, só restava a Choi Beomgyu ler a carta.

Ele temia que seu conteúdo fosse fazê-lo repensar sua decisão novamente. Choi Yeonjun havia sido tão incisivo em alentá-lo sobre Seul, a comissão de graduação e quaisquer outros desafios da vida adulta que Beomgyu tinha certeza de que aquela carta certamente não falaria sobre nada daquilo. Por outro lado, se falasse sobre um assunto específico, que ainda o incomodava e o deixava ansioso, ele sabia que teria vontade de pedir para que Jaeyun desse meia-volta.

Respirando fundo, ele abriu o envelope e leu as palavras escritas no cartão.

Viver é uma viagem turbulenta para a morte. Nós merecemos apreciar os momentos de paz.

Anonimato • BeomjunOnde histórias criam vida. Descubra agora