12 - Sombras do Passado

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Na segunda-feira seguinte, quando retornei a Hogwarts, Snape andou ao meu lado discretamente. Com os braços cruzados sobre seu peito, enquanto se preparava para nos dar ordens, ele perguntou em voz tão baixa que só eu pude ouvir:

― Seu braço?

― Continua dolorido. ― Respondi com um suspiro.

― Eu tenho um unguento que vai fazer isso ir embora mais rápido. ―  Ele murmurou. ― Encontre-me depois do treinamento.

Eu quase engasguei com a minha saliva, mas de alguma forma, consegui responder.

― OK.

Mas é claro que nada com ele era fácil.

― É treino de transfiguração, então o seu amiguinho não vai poder ajudá-la hoje. Lide com isso até então.

Ah sim, o 'simpático' bruxo que eu conheço e respeito está de volta...

― Eu vou.

Ele assentiu. ― Eu sei.

Eu esperei ouvir algo assim vindo dele por tanto tempo que levou um momento para reconhecer a chama de prazer que recebi por ele acreditar em mim. Como uma enchente, suas palavras encheram minhas veias e me fizeram esquecer a dor no meu braço. Ele nunca poderá demonstrar com uma expressão, mas o fato era que Severus Snape estava meio que preocupado comigo.

Eu amei isso.

Mas não tive muito o que comemorar, porque, como a maioria das lesões, o pior não veio até dois dias depois. A dor atingiu um valor máximo. Eu conseguia segurar minha varinha e fazer magia, mas quando precisava canalizar a magia no meu trabalho no hospital... Foda-me! Eu era uma curandeira formada, então estava completamente ciente de que manipulei a dor e joguei ao redor dela, o que na maioria das vezes dá certo. A dor crônica no meu ciático era a prova disso: adaptei minha mente anos atrás para não pensar sobre ela, e conseguia fazer tudo normalmente, mesmo que ao fim do dia eu precisasse de poções, banhos quentes e compressas frias. Mas a minha filosofia de "se eu não pensar que está doendo, não dói" funcionava bem. Então, eu tinha mergulhado meu antebraço e pulso em gelo a cada chance que tive depois do treino e apliquei o unguento de Snape como se fosse o protetor solar que usava no meu rosto: várias vezes ao dia. No trabalho, usei todos os auxiliares possíveis para evitar usar minha magia ao máximo. E cada vez que um lampejo de dor subia em meu antebraço, eu amaldiçoava o dia em que nasceu aquele grandíssimo filho da puta que me acertou no nosso jogo recreativo. Eu esperava que ele caísse de cara em uma pilha de Explosivins.

Quando a quinta feira seguinte chegou, tínhamos uma das sessões conjuntas com Beauxbaton, e antes de sair do carro eu bebi uma poção de alívio para dor junto com dois analgésicos trouxas. Eu esperava sinceramente conseguir passar através das próximas horas sem ser descoberta. Infelizmente, a minha dissimulação só durou até que estivesse no banheiro feminino. Eu estava tratando minha lesão antes de baixar a manga do meu suéter quando Cho se inclinou sobre o meu ombro.

― Que diabos aconteceu com o seu braço? ― Ela soltou um chiado para a coloração feia do meu antebraço. ― Você quebrou alguma coisa?

Eu esfreguei um pouco mais do unguento em cima dele antes de começar a embrulhá-lo com gaze tão confortavelmente apertado quanto possível.

― Parece que sim. ― Respondi sem olhá-la.

― Parece? O que você quer dizer com parece? Você não é a porra de uma curandeira? ― Ela devolveu, sendo tão grossa quanto sempre ficava quando sabia que eu estava sendo evasiva.

― Eu só... não posso pensar nisso agora, Cho. ― Minha voz saiu tão desanimada que ela se desarmou no mesmo instante.

― Eu tenho alguns frascos de alívio para dor na minha bolsa, se quiser. ― Ela ofereceu.

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