14 - Sob a Luz do Escorpião

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Notas do Autor

ATENÇÃO! GATILHO: Há menção a tortura neste capítulo.

oOoOoOoOo


A primeira coisa que notei foi que ele parecia mais velho — um pensamento que achei idiota porque, claro, ele fez. Ambos éramos adultos agora, não mais crianças assustadas e em lados opostos de uma guerra. Ele ainda parecia elegante, algo que provavelmente nunca mudaria. Foi estranhamente reconfortante saber que, embora algumas coisas terríveis tivessem nos mudado, ainda havia algo constante na nossa natureza.

Minhas lembranças dele, da nossa época em Hogwarts, haviam me feito criar uma imagem detalhada na minha cabeça de como ele deveria ser: magro, pálido e com escárnio estampado nos frios olhos cinzentos, além de usar o cabelo comprido, tal qual o pai que ele sempre tentou imitar. Mas a versão real de Draco não estava nem perto disso. Não que ele alguma vez na vida tenha sido descrito como feio, fato que não mudou nesses quatro anos. Mas a passagem do tempo só serviu para torná-lo ainda mais esteticamente atraente, o que era um pensamento tão frívolo que o rejeitei instantaneamente.

Draco era mais alto do que me lembrava, ainda magro e pálido sim, mas não da maneira oca e quase translúcida de quando tinha vivido através do inferno de ter Voldemort como um convidado assassino em sua casa. O tempo, e um pouco de pelos faciais, tinha apagado qualquer traço infantil em suas feições, mas de um modo não tão refinado, fato que o deixava mais longe da imagem de Lucius Malfoy. Talvez também pelo cabelo, ele não o usava longo, era curto e com uma franja jogada para a direita, formando um topete perfeitamente penteado.

Eu não evitei seus olhos, ciente de que o olhava corajosamente. E ele me devolveu um olhar ilegível, mas a contração em sua mandíbula me dava um vislumbre do que parecia uma estranha mistura de curiosidade e suspeita. O peso de seu olhar era perturbador e desconfortável, mas lutei contra esses sentimentos. Mal me reconheci neste cenário onde, no passado, nós estaríamos nos antagonizando, e, agora, estávamos parados um de frente para o outro, incapazes de falar.

Os olhos dele me escanearam dos pés até o meu rosto, tão rápido que quase perdi. Mas eu sou Hermione Granger e pensar rápido é uma das minhas melhores características, e por esse motivo, eu percebi que apenas naquele olhar, Draco havia me avaliado quase tão completamente quanto eu o tinha. Essa percepção fez o meu pulso acelerar, quase como em antecipação a um duelo, mas eu não tinha minha varinha à mão, ela estava enfiada dentro da minha bolsa pendurada no meu ombro esquerdo.

Eu tinha que dizer alguma coisa. O ar entre nós era muito tenso para permanecermos em silêncio, optei por algo simples. O nome dele.

— Malf... — Eu comecei a falar, até que lembrei que Malfoy era um dos membros apagados da tapeçaria da própria família. Ele pareceu entender que eu estava ciente desse fato, quando finalmente falou.

— Draco, por favor. Estou sem sobrenomes agora.

Eu procurei no rosto dele por uma pitada de emoção que devia acompanhar uma declaração desta magnitude, mas não vi nada perceptível. Pareceu muito como um enigma para mim, saber o quanto ele se incomoda com não ter um sobrenome. Eu sabia pouco sobre os desdobramentos de Draco com a família, apenas o que Victor me contou, mas não achei que fosse um tópico a ser abordado na frente do garotinho que espiava curiosamente a nossa interação.

Nós dois desviamos o olhar para a criança que nos observava. Draco pousou uma das mãos nas costas do pequeno e o empurrou delicadamente para a frente.

— Esse é o meu filho. — Ele falou com uma suavidade cuidadosa na voz que, eu notei, não abafava a nota vibratória de uma emoção latente e parecida demais com um senso ferrenho de proteção. — Scorpius, essa é a senhorita Granger.

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