13 - A descida

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Foi preciso apenas um vislumbre no convite de Cho para algum tipo de celebração religiosa trouxa em homenagem aos familiares de Sarah, para meu interior se contorcer em culpa por estar evitando a investigação ao aposento frio onde os fundadores foram enterrados. Eu tinha fugido por dias. Parti para ocupar meu minúsculo apartamento em Hogsmeade para evitar dormir no castelo e ter mais algum sonho vívido com Regulus Black. Mas ler o convite para um ritual In memorian dos mortos naquele ataque, me trouxe um profundo sentimento de covardia.

Reunindo toda a minha coragem Grifinória, segui para os meus aposentos em Hogwarts, apontei a varinha para o quadro de Rowena Ravenclaw e desfiz o feitiço de selamento que eu lancei dias atrás.

Enquanto descia pela passagem, a minha respiração se adensava no ar gelado e eu olhava ansiosamente para os três arcos de pedra enquanto me aproximava da bifurcação. Estudei a passagem da direita, aquela que, no meu sonho, tinha me levado ao túmulo dos fundadores. Me aproximei dela e congelei ao ver que a poeira fora remexida nos degraus que desciam em direção à escuridão sombria e havia rastros de pegadas, que desciam e subiam pelo caminho.

Apertei a minha varinha com mais força e pé ante pé, comecei a descer pela escadaria. Sussurros preencheram o corredor, ecoando através das pedras das paredes. Abrandei os meus passos e murmurei o Nox enquanto me aproximava. Um patamar abaixo abria-se para um aposento à esquerda e uma luz avermelhada escoava de lá para as pedras na escadaria.

Alguém falava em murmúrios rápidos, um homem. Os pelos do meu braço se eriçaram quando a voz se tornou mais clara. Não falava nenhuma língua que eu reconhecesse; e a voz dele era gutural, áspera e parecia sugar o calor de meus ossos, até que ele arquejou, tomou fôlego e o silêncio tomou conta de tudo. Eu me abaixei no patamar e espreitei o aposento. Dentro da pequena câmara, ajoelhado diante de uma escuridão tão negra que parecia prestes a devorar o mundo, estava alguém envolto nas vestes antigas dos comensais da morte da era Voldemort.

O comensal arrastou a mão no chão diante da escuridão e o brilho avermelhado faiscou por onde os dedos dele passaram, antes de serem sugadas pelo vazio como espectros ao vento, mas deixando a mão dele pingando sangue. Não ousei respirar quando algo se mexeu na escuridão. Ouvi uma garra arranhar a pedra e um silvo, e então, aproximando-se do homem mascarado ainda de joelhos, emergiu uma mantícora. O corpo de leão da besta era inteiramente coberto de pêlos ruivos e o ferrão de escorpião moveu-se cortando o ar, em posição alerta. A cabeça humana era um pouco disforme e, quando a criatura trovejou para o homem ajoelhado, eu vi as dezenas de dentes negros e pontiagudos que preenchiam sua boca. O homem mascarado ergueu a cabeça e se levantou vagarosamente, enquanto a criatura se sentava sobre as patas diante dele e abaixava a cabeça, em um sinal claro de submissão.

Em todos os meus anos como pesquisadora e estudante de magia, eu nunca li nenhum registro sequer sobre uma mantícora ser submissa a algum bruxo, ou a algum ser humano, porque, embora sejam criaturas conscientes, as mantícoras são extremamente violentas e perigosas. Lembrando de tudo que já estudei sobre criaturas mágicas, presenciar uma cena de submissão de uma criatura desse porte, me aterrorizou.

Me dei conta de que estava tremendo quando fiz menção de me afastar e fugir para longe o mais rápido que pudesse. O medalhão de Regulus em meu bolso, pulsou, como se quisesse reforçar para mim que eu deveria correr. Com a boca seca e o sangue latejando em minhas veias, recuei um passo, mas o farfalhar das minhas vestes fez com que o comensal da morte encapuzado virasse a máscara fria dele para me olhar e ao mesmo tempo, a cabeça da Mantícora se ergueu. As narinas do monstro se alargaram para sentir o meu cheiro e eu congelei, não sei se por um feitiço ou por puro terror, mas não conseguia me mover para sair do aposento.

― Não era para ser você esta noite. ― Disse o homem, mas meus olhos se detiveram na besta, que permanecia com o rosto impassível, mas apontava seu ferrão diretamente para mim. ― Mas é uma oportunidade boa demais para ser desperdiçada.

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