29 - Qualquer coisa pode acontecer

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— Não! — Severus gritou para a porta, disparando um Bombarda em direção a ela, golpeando contra o titânio.

Acima de nós, a corrente e o ruído da água escorrendo escada abaixo era intenso, enchendo a antecâmara.

Não, não, não! Pensei com desespero e corri até a porta, conjurando bolsa para jogar a caixa do livro dentro e pendurá-la a tiracolo no meu corpo, ao mesmo tempo que o terceiro feitiço de Severus atingiu o metal e a porta se abriu com uma explosão. Apenas para que uma enchente entrasse com tudo.

Tentei segurar o umbral, mas a força da água me empurrou de volta para trás e me varreu para debaixo da superfície escura e gelada. O frio roubou todo o ar dos meus pulmões. Preciso encontrar o chão! Pensei desesperada, e no instante em que meus pés o tocaram, dei um impulso para o alto, puxando ar e avaliando a câmara escura em busca de Severus. Ele segurava o umbral com força, olhos fixos em mim e a mão estendida.

A água já estava na altura de meus seios, e corri até ele, lutando contra a correnteza que inundava a câmara, desejando que minhas forças se renovassem para lutar contra ela. A água parecia mais tranquila à volta dele, como se algum poder tivesse acalmado a força da sua corrente.

— Está com o livro? — Severus gritou para mim, por cima do rugido da água.

Assenti e percebi que a mão estendida dele não era para que eu a segurasse, ele manipulava a água para que a força dela não permitisse me derrubar novamente. Ele manteve a porta explodida forçada contra a parede e a manteve afastada até que eu pudesse sair.

Forcei meu caminho pela abertura e Severus deslizou pelo umbral, liberando o feitiço. A porta se fechou novamente, com tanta violência que eu me maravilhei diante do poder que ele tinha usado para afastá-la. A única desvantagem era que a água no corredor agora tinha muito menos espaço a preencher.

— Vá! — Ele ordenou, mas não esperei por aprovação antes de me lançar sobre ele.

— Sairemos juntos! — Gritei, me impulsionando e prendendo os pés em volta de sua barriga, subindo em suas costas. — Apenas faça o que precisa fazer. — Disse eu, enrolando com força os braços em seus ombros.

Não faltava muito até as escadas; escadas que agora eram uma cachoeira. Severus estendeu a palma da mão diante de nós, e a água recuou e estremeceu. Não era um caminho livre, mas uma brecha na corrente. Direcionei minha magia para ajudá-lo a manipular a água e ela se acalmou um pouco, lutando para obedecer os nossos feitiços combinados.

Severus tentou ir mais rápido, segurando minhas coxas com força suficiente para deixar hematomas. Passo a passo, a água subia de nível violentamente, já na altura do maxilar dele.

Quando chegamos às escadas, Severus quase escorregou no degrau coberto de lodo, e o arquejo dele não foi de choque, mas em busca de ar quando uma muralha de água jorrou pelas escadas. Como se a água tivesse se libertado dos nossos feitiços e uma onda poderosa fosse liberada para varrer o local, tão forte, que mesmo o nosso domínio sobre o elemento não pôde fazer nada contra ela.

Tivemos tempo o bastante para tomar fôlego, e seguramos um no outro com mais força, nos preparando para mais uma submersão. Mas o que aconteceu foi ainda pior, nós dois observamos em choque quando aquela porta no alto das escadas se fechou, nos selando em uma tumba de água.

Eu estava morta. Sabia que estava morta, e não tinha como escapar. Tinha consumido meu último fôlego e estaria consciente durante cada segundo até que meus pulmões estourassem quando eu tragasse aquele gole fatal de água.

Severus bateu em minhas mãos até que eu nadasse atrás dele, enquanto tentava acalmar o meu coração em pânico, e convencer meus pulmões a fazer cada segundo valer a pena conforme Severus alcançava a porta e encostava a palma da mão nela. Símbolos se incendiaram, mas ela se manteve firmemente fechada. Quando o alcancei, ambos empurramos contra a porta, mas o metal parecia zombar de nós enquanto se mantinha intacto.

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