O plantão de doze horas no hospital foi cansativo. Passava de uma da manhã quando cheguei em casa naquela noite, meu estômago roncava de fome e o cansaço se entranhava pelos meus ossos. Deixei meu casaco e cachecol no gancho da entrada e descalcei as botas sujas de neve, deixando-as para escorrer no compartimento junto à porta de entrada.
Me surpreendi ao entrar na minha sala de estar e ver Severus ainda acordado. Ele estava sentado na poltrona, lendo um pergaminho com o brasão oficial do Ministério, enquanto Dean esperava pacientemente ao seu lado. Ambos os homens me olharam quando tossi para fazer minha presença.
— Oi. — Cumprimentei os dois e pousei meu olhar sobre Dean. — Está tudo bem?
Dean veio até mim e me abraçou.
— Sim, está. — Meu amigo respondeu com um sorriso, enquanto nós dois íamos até o sofá e nos sentávamos. — Exceto que Severus recebeu uma intimação.
— Uma intimação? Por quê? — Perguntei curiosa, olhando para o homem estóico na poltrona ao meu lado.
— Por aparatar ilegalmente quando não tenho licença para isso. — Severus respondeu, me estendendo o pergaminho. — Uma besteira burocrática.
Eu passei os olhos pelas linhas e ergui meu olhar para Dean, só agora notando que ele estava com as vestes oficiais do Departamento de Mistérios e o emblema dos Inomináveis preso ao peito. Era sua noite de patrulhas e batidas.
— E por que é o Departamento de Mistérios que está intimando Severus? — Questionei.
Dean encolheu os ombros em sinal de desconforto, e nós éramos uma dupla há muito tempo para interpretar que a atitude dele tinha mais relação com ter essa conversa na frente de Severus do que comigo questionando uma tarefa do seu departamento.
— Por causa do meu passado. — Foi Severus quem respondeu.
A indignação queimou na minha garganta quando Dean confirmou com a cabeça. Nenhum de nós falou quando eu amassei o pergaminho do departamento em uma bola e me levantei para lançá-lo no fogo da lareira à minha frente antes de seguir até a cozinha e me servir do chá que, eu sabia, estava me esperando em uma caneca com um feitiço de aquecimento no balcão. Severus preparava a bebida todas as noites antes de ir se deitar, e quando eu chegava do hospital, uma das primeiras coisas que eu fazia, era sorver a bebida quente enquanto relaxava do plantão extenuante que tinha acabado de sair.
Eu não entendia por que Severus sofria essa perseguição infinita por causa do passado dele. Ele se provou leal mais de uma vez à nossa causa. Por que então ele continuava "respondendo" por um erro que cometeu quando ainda era um adolescente? Isso era ridículo.
Consegui ouvir as vozes dos homens na sala, até que a batida da porta da frente me anunciou que Dean havia partido de volta ao departamento. Não me movi do meu lugar em frente ao balcão, olhando para a neve fina que caía na escuridão da rua quando os passos de Severus vieram em minha direção.
Soltei um suspiro suave quando ele parou atrás de mim, suas mãos quentes deslizaram para minha cintura e seu nariz encostou na lateral exposta do meu pescoço e seus lábios pousaram delicadamente na parte de trás da minha orelha. O estrondo aveludado da sua voz foi suave quando finalmente soou bem abaixo do meu ouvido.
— Esqueça as formalidades do Ministério, Hermione. Hoje é sobre nós.
Um arrepiou varreu meu corpo e fechei os olhos ao me lembrar de sua promessa de três dias atrás. Não tínhamos conseguido tempo para ficarmos juntos desde então. Eu tive três plantões intensos, e todas as vezes que cheguei em casa, ele já estava dormindo. Implicitamente eu sabia que hoje ele me esperaria, amanhã é sábado e não temos treino em Hogwarts, a última coisa que eu esperava era a presença de Dean intimando Severus para uma audiência disciplinar.
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Novo Mundo
Fiksi PenggemarA magia se foi. Mas não para todos. Os nascidos trouxas e mestiços ainda detém parte dos seus dons, e agora, toda a comunidade bruxa depende daqueles que um dia foram subjugados. Aqueles que ainda portam suas varinhas se reúnem diariamente em Hogwar...