Se havia algo que eu sempre iria me orgulhar, era de ter vivido o suficiente para ver o meu afilhado se arrepender de um dia ter concordado com o estigma dos puros-sangues. Eu teria orgulho desse garoto pelo resto da minha vida. E faria qualquer coisa para que ele fosse livre e pudesse viver em paz com o seu filho.
Hoje, eu tive uma prova do quanto Draco me ouve e não possui mais nenhuma sombra do garoto preconceituoso que já foi um dia. Eu sei disso porque estou de pé, diante de Lucius Malfoy, enquanto um dos seus capachos segura uma lâmina na garganta de um garotinho de olhos arregalados. Mas um garotinho de cabelos negros, pintados com tinta trouxa. Um disfarce que só alguém sem barreiras preconceituosas, faria no próprio filho. Eu vim até aqui para colocar esse garoto em segurança. Mas já era tarde. Nosso único trunfo, é que Lucius não faz ideia de quem Scorpius seja.
O rosto pálido de Lucius era uma máscara de frieza, mesmo com o leve sorriso adornando seu rosto. Eu o odiei ainda mais quando vi Scorpius, uma criança inocente, tremer de medo enquanto encarava o pai, que tinha acabado de chegar comigo. Draco ficara imóvel como a morte ao ver seu filho nas mãos daqueles monstros.
Eu forcei um meio sorriso à boca enquanto empurrava a fúria em mim para uma caixa bem no fundo da minha mente.
— Não é tão impressionante ser um vilão se o que você vai fazer é ameaçar crianças, Lucius.O patriarca Malfoy ampliou a ironia no seu sorriso.
— Que alegria descobrir que você ainda me admira, Severus. Seu tom irônico me faz falta, se você quer saber. Eu costumava me divertir lembrando de sua acidez matinal. Quando ela não era dirigida a mim, obviamente. — Lucius comentou casualmente. — Mas, descobrir a localização deste lugar não foi uma obra minha.O líder da facção rebelde inclinou a cabeça, deslizando com sutileza um pouco dos seus longos fios loiros por um ombro. E como se em resposta, Ronald Weasley surgiu no limiar de uma das portas da casa, a porta que eu sabia, levava ao corredor dos quartos. Eu notei com satisfação quando seus olhos perceberam a cena diante de nós, seus olhos passando de triunfo para desespero ao notar, com horror, que nem eu e nem Draco estávamos numa posição de captura, mas sim, uma criança.
Lucius desviou o seu olhar de mim, encarando Draco agora, que mantinha o olhar fixo em Scorpius. Com a atenção do seu líder em outro lugar, Weasley se posicionou ao meu lado, como se fôssemos, de alguma forma, aliados naquilo. Ele não era um legilimens e nós não estávamos um de frente para o outro, para que eu pudesse encará-lo nos olhos e ter o prazer de plantar em sua cabeça a imagem mental da morte que eu tinha preparada para ele.
A voz fria de Lucius cortou o silêncio que tinha se estabelecido entre nós.
— Parece que esta, agora, é uma cena casual entre nós, filho.
O rosto de Draco permaneceu impassível. Sem desviar o olhar de scorpius, ele respondeu ao próprio pai:
— Solte o menino!Uma risada baixa, rouca saiu de Lucius.
— Ah. — Meu estômago se revirou quando a voz do homem que eu já considerei um dia como amigo, soou, enquanto se voltava para Scorpius. — Todos aqui são babões por crianças. Um ex-herdeiro dos sangues puros, uma escória mestiça que envergonha os bruxos e... até o meu braço direito, ao que parece. — Ele concluiu, olhando com desprezo para Weasley.Fiquei tenso ao perceber que o ruivo mal respirava ao meu lado. Lucius se abaixou à frente do menino e brincou com uma mecha dos cabelos agora pintados de negro e eu fiz uma oração silenciosa para qualquer entidade que existisse nesse mundo ou acima dele, para que ele não se reconhecesse nos olhos cinzas do garotinho. Scorpius estremeceu ao toque e uma onda de poder rugiu dentro de mim e precisei de toda a minha concentração para afundá-la de volta ao meu núcleo mágico.
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Novo Mundo
FanficA magia se foi. Mas não para todos. Os nascidos trouxas e mestiços ainda detém parte dos seus dons, e agora, toda a comunidade bruxa depende daqueles que um dia foram subjugados. Aqueles que ainda portam suas varinhas se reúnem diariamente em Hogwar...