- Capítulo 17 -

46.3K 3.1K 193
                                    


- JOANA FLORES -

Minutos depois, percebi que eu havia chegado na cozinha da casa. Eu precisava comer doces, geralmente quando eu me sentia acuada, triste e com mau humor, eu gostava de comer açúcar. E, foi pensando em algo assim que me vi diante da gigantesca geladeira de inox, equipada com todo tipo de alimento que se possa imaginar, incluindo uma deliciosa torta de chocolate com chantili.

Peguei um prato e me servi de um pedaço da torta, logo me acomodei na ilha da cozinha e dei a primeira garfada e... minha nossa! Aquilo era melhor do que ficar pensando em como matar Gael sem ser presa. Na minha boca havia uma explosão de sabor; chantili, granulado e chocolate meio amargo.

— Hummm — foi impossível não fazer o barulho constrangedor. — Que delícia...

Em meio a pensamentos de como aquela torta era gostosa, e do quanto provavelmente foi cara, incluindo o terrível trabalho que o confeiteiro teve para combinar sabores tão espetaculares e...

— É o meu sabor favorito — a voz rouca, talvez cansada pelo dia ecoou dentro da cozinha me fazendo dar um pulo de onde estava.

Não é possível, será que esse impertinente vai me apoquentar até a essa hora da noite?

Perdi a fala quando vi Gael também pegar um prato e se servir de uma fatia.

— Desculpa eu não queria invadir a sua cozinha — tentei me levantar, mas de súbito senti mãos macias tocarem meus ombros com delicadeza, e a voz de Gael se aproximar do meu ouvido.

— Fica.

Voltei a me acomodar na cadeira, observando seus movimentos. Gael também puxou uma cadeira e se sentou bem ao meu lado. A pouca claridade das luzes acesas na casa àquela hora da noite me permitiu ver seus olhos azuis brilhantes em uma tonalidade intensa. Iluminados como a noite de lua cheia.

Pensei que o infeliz fosse puxar algum assunto ou fazer alguma gracinha, mas ele simplesmente começou a comer a torta totalmente em silêncio.

— O que é agora? Não vai me atormentar como tem feito de costume? — Perguntei sentindo meu rosto esquentar e um certo tremor me fazer perder a firmeza das mãos.

— Não. — Ele respondeu e voltou a comer em silêncio.

Levantei meus olhos, e só então pude perceber com mais clareza que ele usava uma camisa branca, que me deixou confusa. Não sei se ele tinha o corpo tão grande e trabalhado que a camisa lhe pareceu apertada, ou se de fato ele havia posto uma camisa menor que seu tamanho só para me impressionar.

Dei mais uma garfada na torta, pegando um considerável pedaço de chantili e o levei à boca, completamente confusa com a nossa aproximação tensa. Ele levantou a cabeça com um pequeno sorriso de canto e voltou a dar atenção a sua torta.

— Joana, eu não quero que se sinta mal vivendo aqui — disse ele ainda olhando para o prato.

— Impossível! — respondi em tom ríspido e impaciente. — Você não sabe como é terrível ter que viver de favor na casa dos outros, o que é acordar todos os dias com a incerteza do que será seu futuro. E no meu caso piora, porque tenho uma filha.

Ele liberou um riso fraco.

— Ela é uma garotinha muito gentil. Não se parece nada com você — o olhei desejando ter super poderes só para fulminá-lo com os olhos. — E o pai dela?

Não bastando a inconveniência em querer falar sobre a minha vida, ele fez a pergunta que mais me angustiava.

— Morreu em um acidente — falei a primeira coisa que me passou na cabeça. Eu não era louca de contar a verdade; na verdade, toda mentira que eu inventasse a respeito do pai da minha filha era melhor do que a merda da realidade que vivi.

— Entendo — ele falou em tom seco me revelando que minha resposta não fora convincente, mas boa o suficiente para deixar claro que ele não entraria naquele assunto.

Ficamos em um silêncio monótono, até que ele levantou a cabeça e me encarou, abrindo mão do pequeno vão de espaço que havia entre nossas cabeças. E, de repente vi a curva de seus lábios se ampliarem, ele estava... rindo?

— O que foi agora? — Perguntei revirando os olhos.

— Sua boca, está suja de chantili — respondeu.

Merda!

Tentei limpar a boca, mas ele foi mais rápido, alcançou a caixinha de guardanapos que estava em cima da ilha, pegou uma folha e se aproximou aderindo novamente o espaço entre nós que eu havia evitado antes, e sorrateiramente tocou no canto da minha boca, me deixando completamente sem ação, reação, fala ou qualquer movimento. Paralisada.

O olhar daquele homem me fazia estremecer de medo, e ao mesmo tempo em que havia perigo em seu modo, havia um misto de curiosidade e doçura, algo que ele só havia me revelado naquele momento.

Nossos olhos se uniram em uma dança diferente, ele me avaliava, e eu tentava entender porque ele estava tão diferente naquela noite...

— Sabe de uma coisa, Joana — a voz rouca dele estava completamente sedutora. — Quando cheguei aqui na cozinha e ouvi você gemer pelo sabor da torta, sabe o que me passou na cabeça? — Continuei paralisada observando seus lábios carnudos se moverem, vindo em minha direção. — Quero saber com o que mais você solta esses gemidos.

O final da frase me revelou que aquele sedutorzinho de novela barata estava tentando flertar comigo, ou em um termo mais chulo: tentando me convencer a ir para a cama com ele.
Preciso confessar que ele quase conseguiu. Quase. Porque os acontecimentos seguintes foram um verdadeiro...

 Porque os acontecimentos seguintes foram um verdadeiro

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
A Garota perfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora