- Capítulo 55 -

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- JOANA FLORES -

À noite já estava caindo quando fui deixada em frente à uma mansão antiga, mal cuidada que me dava arrepios. Haviam poucas luzes que iluminavam o lado de fora do local, mas a parte de dentro da casa parecia aconchegante. Toquei a campainha, sentindo toda tensão daquele momento. Eu estava com medo de Edgar vir me receber, medo de Gael descobrir que me arrisquei procurando por aquele homem e medo do que aconteceria a partir dali.

Para minha surpresa e alívio, uma senhora de cabelos brancos veio me receber. Ela não aparentava ser uma pessoa ruim, e seu semblante estava bastante surpreso.

— Olá, eu sou Joana, vim falar com Edgar.

A senhora sorriu, puxou um molho de chaves de dentro do bolso do avental e abriu os grandes portões de ferro da mansão.

— Eu sou Norma. Edgar estava esperando por você.

Ao saber que maldito estava à minha espera, um arrepio estremeceu todo meu corpo.

De alguma forma, Edgar sabia que eu iria ceder a desconfiança e que eu iria me encontrar com ele.

Embora a mulher não me oferecesse perigo eu não sabia se podia confiar nela, então preferi ficar calada enquanto ela me conduzia pelos enormes corredores daquela casa, que era muito bem mobiliada por sinal.

Fui levada até uma sala aconchegante, onde havia um conjunto de sofás, uma lareira apagada, e quadros gigantescos espalhados pelos quatro cantos. Edgar estava de costas para a porta principal, olhando pelas enormes janelas do local, sentado em uma cadeira de rodas enquanto uma manta cobria suas pernas.

Me aproximei temendo. Eu estava diante do meu maior pesadelo, mas eu precisava ser forte e enfrentá-lo.

— Senhor? — A mulher falou.

Edgar apenas levantou os dedos indicando que ela deveria sair. Obedecendo, ela se retirou, fechou a porta e nos deixou a sós.

— O que você quer comigo? — falei em tom ríspido.

O homem continuou olhando a janela à sua frente como se estivesse hipnotizado.

Ele ficou em silêncio por um tempo e quando finalmente abriu a boca, me surpreendi.

— O seu perdão.

Ri sem humor.

— Você quer o meu perdão? Você tem noção do que fez comigo? Acha que é simples assim, me fazer vir até aqui só para que eu escute isso?

Finalmente ele virou a cadeira de rodas e me encarou com seus olhos tenros, cansados e doentes.

— Eu sou um homem infeliz, Joana. Sou o mais indigno dos homens. Sei que o que fiz não merece perdão, mas eu preciso disso — ele falou em tom emocionado. — Para que eu possa descansar em paz!

Limpei uma lágrima que escorreu.

— Eu sinto muito Edgar, mas eu ainda não consigo.

Ele assentiu com a cabeça.

— Leve o tempo que for necessário, mas me perdoe... — Sua voz embargou. Ele limpou uma lágrima e me encarou com pesar nos olhos. — Eu procurei por você, eu queria me redimir, mas meu irmão me disse que eu não deveria levar esse caso a público, desde então passei a viver como o mais indigno dos homens, sendo cruelmente lembrado pela minha própria consciência da covardia que fiz com você.

Limpei mais uma lágrima sentindo meus lábios tremerem.

— Eu era só uma menina! Como você teve a coragem de me forçar a ter relações com você, daquela forma brutal? Você tem noção do quanto emocionalmente dói ser estuprada? Você tem noção do quanto doeu passar por toda aquela vergonha? — Esbravejei chorando. — Por sua culpa eu perdi tudo, perdi a casa que sempre sonhei em ter, a família que sempre desejei eu fui lançada em um abrigo de menores como se fosse uma sacola de roupa velha.

A Garota perfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora