Aldeia da Folha, País do Fogo
Dois dias antes do Festival de Fim de Colheita
Hatake Kakashi caminhava aparentemente tranquilo naquela manhã, mas apenas o homem sabia o que se passava em sua cabeça. Uma reunião de urgência fora convocada para decidir o futuro de Yoshikawa Suyen. Ela, obviamente, não sabia de nada e descansava em casa, acreditando que se tratava de um dia de folga. "Folga pra quem?", pensou, sentindo uma enorme angústia em seu interior. Faziam dias que não dormia direito e nem comia. "Estou adoecendo", era o que o jovem homem insistia em acreditar. Nem mesmo em seus momentos da juventude se sentira assim. A única cura era clara em sua mente: Sentia toda a sensação ruim esvair de seu corpo quando observava, por vezes de forma clandestina, Suyen cozinhar o jantar, pousando delicadamente a colher em sua mão e provando a comida. O que vinha em seguida era a sua ruína e sua maior salvação, sem dúvidas: O sorriso. O sorriso que Yoshikawa Suyen dava ao notar o delicioso sabor das refeições que preparava. Quando se pegou fazendo isso pelo quinto dia seguido, o homem percebeu que não era exatamente uma doença que lhe acometia. Somado ao ciúme incontrolável que sentira apenas de imaginar Uchiha Itachi se aproximar dela, ou as reviradas de olhos que dava ao ver Gai fazer as mesmas piadas na frente da moça afim de impressioná-la, ele logo soube o que o acometia. Não queria admitir, mas sabia. Entretanto, a hora de parar de mentir para si mesmo estava chegando.
Ele se odiava por ter comunicado para a Quinta Hokage sobre o encontro de Yoshikawa Suyen com um dos membros da Akatsuki. Queria muito ser um cara completamente inconsequente e egoísta, pensando em apenas si mesmo e colocando toda a vila em que vivia em risco. Mas não conseguia. Não conseguia mesmo. Sabia que, dependendo do resultado da reunião, teria que agir de uma forma completamente racional, mesmo que isso machucasse. Como poucas vezes em sua vida, aquele fato o assustava. Bufando, ele retirou o livro que carregava sempre no bolso, mas que tinha um outro conteúdo dentro dessa vez. O homem de cabelos prateados costumava camuflar os livros que comprara em Osaka nos antigos que lia, para não causar burburinhos. Cansado de pensar demais, tentou se distrair, enquanto caminhava, se escondendo atrás do livro. Naquela manhã, o escolhido era o Peter Pan.
"Ela lhe contou histórias, ele a ensinou a voar... Amavam-se, mas ele não queria crescer."
— Inferno de livro. — Hatake Kakashi resmungou, o fechando com força, chateado por não ter conseguido fugir da realidade nem através dele e continuando a caminhar. Qualquer um que o observasse por bastante tempo notaria o seu comportamento irritadiço e atípico, e não foi diferente com Maito Gai. O amigo de longa data ergueu as sobrancelhas escuras e grossas, surpreso com o comportamento que ele tinha.
— Parece que alguém acordou de mau humor. — Gai disse, rindo.— O que faz aqui tão cedo?
— Tenho uma reunião importante hoje. — Respondeu, ainda com uma expressão estressada.
— Fiquei sabendo. É uma reunião importante para o destino da Suyen, não é? — Disse, pensativo por uns segundos. — Mas eu pensei que só começasse ás nove.
— Preciso tratar algo com a Quinta Hokage antes.
— Entendo. Mesmo assim, acho que temos que conversar algo também. — Gai disse, parando na frente de Kakashi. Conhecendo o homem a anos e sabendo que ele não pararia de insistir até ser escutado, o de cabelos claros parou, com as mãos no bolso.
— Eu realmente preciso tratar algo urgente com a Senhora Tsunade.
— Serei breve. — Gai garantiu a ele. Ele respirou fundo antes de falar. Mesmo que a postura otimista fosse a mesma de sempre, por alguns segundos, um nervosismo estranho parecia emanar do homem. — Eu não achei que isso fosse acontecer, mas aconteceu. Enfim, estamos aqui, após tantas disputas acaloradas e repletas de fervor da juventude...
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A Joia Flamejante • kakashi hatake
FanficA jovem japonesa Ueno Sayuri não consegue se lembrar de nada que tenha acontecido anteriormente aos seus sete anos de idade. Além disso, um estranho sentimento de não pertencimento sempre a rondou, como um leão faminto prestes a devorá-la. No início...