Capítulo 2 - Rosa parte II

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Sempre sonhei em ser piloto de avião mas nunca imaginei que um dia eu teria uma empresa de aviação, não depois de tudo que passei. Eu tinha acabado de completar 18 anos, já tinha ensino médio completo e prestei vestibular para administração. Passei com uma das melhores notas. Comecei a faculdade de noite e trabalhava de dia numa lanchonete. Com muito esforço, eu comprei uma moto de segunda mão, isso iria me ajudar muito pois a distância do meu trabalho para a faculdade era grande. Num determinado dia, estava saindo do trabalho e alguns minutos depois sinto meu corpo voando após minha moto colidir com uma pessoa que estava atravessando a faixa. A pessoa morreu, eu fiquei hospitalizado todo arrebentado. Quase fui linchado pela família e amigos da vítima. Após alguns dias internado, recebi Alta e acabei sendo preso. Meu advogado acabou conseguindo um habeas corpus e aguardei o julgamento em liberdade. Eu estava animado, achava que ira reverter a situação, fui pego de surpresa com a condenação. 

Ter passado quase dez anos na prisão fez de mim uma pessoa amarga, fria e que detestava lidar com pessoas, lá vivi as piores coisas que um ser humano pode viver. Aquilo não é vida e não socializa ninguém. Depois desse tempo todo meu advogado finalmente conseguiu depois de várias tentativas a minha liberdade condicional. A primeira coisa que fiz quando saí, foi procurar os pais da minha vítima.

Quando cheguei ao endereço deles, eles não me reconheceram, afinal estava quase 10 anos mais velho, maltratado pelo tempo, barba desgrenhada, cabelos mal cortados, enfim, lá eu não ligava para lidar com a minha aparência. Me apresentei, e imediatamente o pai me pegou pelo colarinho da minha blusa, naquele momento pensei que ele fosse me matar. Mas a mãe imediatamente exigiu que ele me soltasse. 

Meu coração batia tão acelerado que passei mal, não pelo medo do que ele pudesse fazer comigo, mas pela mãe da minha vítima ter me defendido. Ela me abraçou. Foi o único abraço que permiti ter em quase 10 anos. Nem quando alguém da minha família ia me visitar eu deixava me abraçar, eu não conseguia. Mas a aquela mãe tinha algo de tão puro no olhar, que quando menos percebi estava nos braços dela sendo acalentado. Eu só chorava e pedia perdão. Eu não tenho a menor ideia de quantas vezes eu pedi perdão, era uma espécie de mantra, de ladainha. Até que ela segurou em meu rosto com as duas mãos olhou fixamente em meus e disse: - filho, eu já te perdoei há muito tempo. Meu coração está em paz.

A Rosa me ganhou naquele dia, ela tinha todos os motivos para me odiar e não querer nunca mais olhar na minha cara, afinal, ela perdeu um filho por minha causa. Tudo bem, não foi intencional, nem foi negligência minha, foi de fato uma fatalidade, mas eu o atropelei e ele morreu, então era compreensível que ela não me perdoasse nunca mais.

Eu passei a fazer visitas periódicas à Rosa, e toda vez era uma guerra, pois o marido dela se pudesse me enforcava. Mas a minha visita de certa forma agradava ela então eu nem ligava para o marido. Um tempo depois, ele morreu de infarto. Rosa ficou atordoada pois ela dependia dele para tudo. Naquele momento, prometi a mim mesmo que não a deixaria na mão. Que faria o que fosse possível para ajuda-la. 

Depois de muito perrengue, finalmente consegui um emprego de balconista, voltei para a faculdade de administração e minha vida se tornou uma correria sem fim. Meu trabalho era perto do aeroporto e toda vez que eu via um avião pousar ou decolar eu dizia pra mim mesmo que um dia eu trabalharia com aviação. Um dia brincado com Rosa, eu disse a ela que um dia seria meus aviões que estariam voando e decolando. Ela olhou pra mim e falou: - filho, corre atrás do teu sonho, batalhe que você irá conseguir. Eu sorri e brinquei, - você será a primeira pessoa que eu irei contratar na minha empresa. Ela sorriu. 

Anos se passaram, depois de muitos estudos, cursos, diversos empregos, eu finalmente montei minha empresa, comecei do zero, com quase nada. E Rosa foi a primeira pessoa que contratei. Ela foi contratada para serviços gerais devido à sua baixa escolaridade, e comecei a incentivar que ela tentasse se alfabetizar para que pudesse ter mais oportunidades. Nossa relação sempre foi de muita confiança. Ela passou a ser uma segunda mãe pra mim. Ela poderia se aposentar, mas ela fala que se parar de trabalhar morre. Então eu deixo que ela faça a limpeza do meu escritório e da minha casa. Mas agora, ela vai ter que aceitar que precisa de ajuda, não abro mão que ela contrate alguém para fazer o serviço pesado e ela só comandar. 

Ligação On

- Alô, Rosa? E aí, já fez a seleção?

- Que seleção Arthur?

- Ah mas você está me enrolando hein... olha hoje sem falta vou pedir ao RH para fazer uma anuncio da vaga e você entrevista e escolhe a candidata. Hoje viu Rosa...

- Tá doido pra se livrar de mim né Arthur? Tá bom. tá bom.

- Hoje viu Rosa...

E assim eu fiz, entrei em contato com o RH e pedi que fizessem o anuncio. Depois da minha DR com Rosa, resolvi correr um pouco, confesso que faz uns dias que não me exercito. Vesti minha roupa de ginástica e fui correr um pouco na calçada da orla. Quando estava voltando para casa, já muito cansado e suado, presenciei um quase acidente, uma moça atravessou a rua sem prestar atenção ao sinal e por pouco não foi atropelada não fosse a minha rapidez em puxa-la de volta. 

A moça me olhou assustada, estávamos grudados um no outro, eu a segurei com toda minha força e o que estava diante do meus olhos era tão surreal que eu não consegui solta-la nem desviar o olhar. Ficamos ali por longos segundos agarrados e com os olhos fixos um no outro. Senti que meu coração errou uma batida e que por alguns segundos fiquei sem ar. Sem dúvida nenhuma é a mulher mais linda que já puder ver em toda minha vida. E ela estava ali em meus braços olhando nos meus olhos.

Eita...👀

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