Capítulo 64 - Uma voz doce e angelical

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Carla - Arthur fica surpreso com a ligação do pai dele. Eles conversam amigavelmente e combinam que amanhã ele virá em nossa casa para conhecer os netos. Ele está visivelmente tenso e ansioso, no fundo ele sempre quis se reconectar com o pai mas sempre acontecia alguma coisa e eles se machucavam. Apesar de sermos muito felizes, dele ter se reaproximado da mãe, dos nossos filhos terem nascido lindos e saudáveis, eu sempre vejo um olhar triste no Arthur e sei que isso é porque ele e o pai estão brigados há tanto tempo. Eu resolvi intervir, pensei muito sobre isso e cheguei à conclusão que talvez alguém isento, alguém que não conviveu com eles e está vendo as coisas de fora possa de alguma forma fazer com que eles ao menos se permitam conversar olho no olho sem se agredirem. Fiz uma coisa que jamais faria se não fosse por um motivo nobre, aproveitei que o Arthur estava dormindo, peguei seu celular e procurei o numero do pai dele na agenda. No dia seguinte, aproveitei que ele foi para a empresa e no momento que a crianças estavam dormindo eu liguei para o seu José.

Ligação On

-Alô!

- Alô seu José?

- Sim, sou eu...

- Oi, eu sou a Carla

- Carla?

- Isso, Carla, sou a esposa do seu filho Arthur.

- Ah, oi... aconteceu alguma coisa com ele?

- Ah não, ele está bem. Na verdade ele não sabe que estou ligando.

- E o que você quer?

- Eu queria te conhecer, conversar um pouco com o senhor...

- Me conhecer? 

- Sim seu José, você é o pai do Arthur, avô dos meus filhos e não nos conhecemos ainda...

- Eu acho que você imagina o porquê não nos conhecemos...

- Acredito que não tivemos tempo, passamos por tanta coisa, tantos problemas, e acabou que não tivemos essa oportunidade.

- Não acho que seja por isso, se não nos conhecemos foi porque seu namorado não quis que você me conhecesse.

- Talvez, não excluo essa possibilidade. Mas independente de qualquer coisa eu queria te conhecer.

- Olha mocinha, eu estou aqui na minha vidinha, estou em paz, estou tranquilo, sem aborrecimentos, não quero trazer problemas para mim.

- Fico feliz que esteja bem, tenho certeza que ficaria mais feliz ainda se conhecesse seus netos, acho que o senhor seria um excelente avô, Arthur sempre me fala com muito carinho de quando ele era pequeno e vocês brincavam...

- Ele falou isso?

- Sim, ele me contou muito sobre a infância dele com o senhor, o quanto ele era feliz, ele tem orgulho disso, sempre que fala se emociona muito.

- Não sabia que ele se lembrava da infância. 

- Ele lembra de tudo, tudo mesmo. Olha Arthur está na empresa agora, ele só chega a noite então teremos tempo de conversar. Caso o senhor queira me conhecer venha aqui pra gente conversar um pouco, eu só não vou até o senhor porque tenho duas crianças aqui...

- Será que isso é uma boa ideia hein mocinha. Ele pode ficar chateado com você...

- Não vai, eu conheço bem o Arthur. Fica tranquilo. 

- Então daqui há uma hora eu apareço aí, espero que isso não traga nenhum problema. 

- Estou te aguardando então. 

José - O que será que essa menina quer comigo? Nunca nos vimos nem nos falamos, mas a voz dela é tão doce, tão angelical, não consegui dizer não a ela, em outra época ou se fosse alguma outra pessoa eu acho que eu teria gritado e desligado o telefone mas ela é tão sutil com as palavras, falou com tanta intimidade que parece que já me conhecia há anos. Eu vou lá conhecer essa menina, seja o que Deus quiser.

---Uma hora depois---

- Oiee, Seu José, entra fica a vontade. 

- Oi Carla. Nossa você é muito bonita.

- Ah obrigada, imagina, eu tô ainda toda inchada do parto, com essas olheiras...

- Imagina, você é linda mesmo.

- Arthur se parece com você.

- Você acha mesmo? Ele é a cara da mãe.

- Realmente ele é mais parecido com a Bia mas agora te vendo pessoalmente vejo traços bem parecidos. Posso te dar um abraço? (deram um abraço longo e apertado). Quer beber alguma coisa?

- Não, estou bem. Confesso que fiquei curioso Carla. E as crianças?

- Estão bem, estão dormindo, eles dormem bastante a tarde aí a noite eu sofro porque eles ficam acordados e eu também né...

- Imagino, e logo dois de uma vez deve ser cansativo.

- Um pouco mas é a maior alegria da minha vida, é um amor inexplicável...só tendo filhos pra saber disso né... o senhor sabe bem como é...

- Sei sim, apesar de não ter mais um filho há anos eu sei bem como é...

- Seu José, eu vou direto ao ponto tá. Pode acontecer o que for, pode acontecer qualquer coisa mas há algo que nem o senhor nem o Arthur e nem ninguém pode mudar. Vocês são pai e filho. Ponto. Não há o que fazer. Eu queria te fazer uma pergunta, antes de toda aquela briga acontecer, quem era o Arthur para o senhor?

---Pausa On---

Carla - Essa pergunta deixou seu José paralisado, ele ficou olhando para cima por um longo tempo e quando voltou a cabeça para baixo, vi lágrimas escorrerem por seu rosto. Insisti e perguntei de novo.

- Seu José, quem era o Arthur para o senhor?

- Porque você está fazendo isso, porque está me perguntando isso...

- Porque eu quero saber quem era o Arthur para o senhor.

---Pausa On---

- Bom mocinha, o Arthur era meu filho. 

- E como era seu filho?

- Era um menino doce, carinhoso, esforçado, sempre companheiro, estava o tempo todo comigo, jogávamos bola, íamos à praia, éramos amigos, sempre tive muita dificuldade para cria-lo, fiz muitos sacrifícios para não deixar faltar nada pra ele, ele reconhecia isso, estudava muito, dizia que um dia iria me recompensar por tudo que fiz por ele. Eu sinceramente não entendo o que você pretende com isso, eu acho melhor eu ir embora.

Carla - Seu José se emociona muito ao falar como era sua relação com Arthur, ele chora diante de mim e diz que é melhor ir embora, nesse momento seguro em suas mãos e peço que me olhe nos olhos, ele me olha e então aproveito esse momento fraterno para dizer o quanto seria importante tê-lo em nossas vidas. Digo olhando em seus olhos que toda família tem problemas, que não existe perfeição e tudo que eles precisam é se perdoarem, peço que ele deixe o orgulho de lado e converse, digo que Arthur está aberto a isso e que só não tentou ainda por respeitar a vontade dele de permanecer longe, digo que foi muito difícil para o Arthur quando ele estava internado por causa do câncer pois ele tinha medo que o pai morresse sem se resolverem, digo a ele que Deus o curou de um câncer e talvez isso tenha sido a chance dele repensar a vida e ressignificar muitas coisas, digo que as portas da nossa casa estão abertas e que quero muito que nossos filhos conheçam o avô e convivam com ele, digo que tenho certeza que aquele pai que ele foi no passado está doido de vontade de explodir e abraçar e acolher o filho novamente. Peço que ele se permita sentir-se pai novamente, e que enquanto eles não se libertarem dessas mágoas eles nunca vão ser realmente felizes pois sempre faltará algo.

José - Carla me deixa sem palavras, até perco o ar por uns segundos. Ela tem um jeito de atingir a alma das pessoas, é a primeira vez que ouço uma pessoa sem interromper, sem me irritar e gritar, ele tem um poder que não sei explicar o que é... ela me atingiu no coração, ela foi no ponto, ela colocou o dedo na minha ferida mas eu não consigo dizer não a ela. Não sei o que vai acontecer mas eu acabei concordando em conversar com meu filho. Combinamos que hoje eu não veria as crianças e deixaríamos esse momento para quando eu viesse conversar com Arthur, combinei que eu ligaria para ele e tentaria. Nos abraçamos novamente e agradeci por ela ter insistido em eu vir. Essa menina não gente, ela é um anjo. 

Quero chuva de comentários hein... próximo capítulo só sai se bater meta de 30 comentários. Vamos lá... quero incentivo pra continuar...

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