Capítulo 57 - Sr. José

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Arthur - Volto ao hospital, peço ao médico para perguntar ao meu pai se posso entrar para vê-lo, fico na sala de espera na certeza de ouvir um não e me surpreendo quando o médico me informa que ele concordou. Fico tenso pois na verdade não sei nem o que vou dizer, não sei nem se estou preparado para isso, não sei se estou preparado para ouvir novamente ele me dizendo que não tem filho, mas eu preciso vê-lo, apesar de tudo ele é meu pai e tenho afeto por ele.

- Arthur, seu pai concordou em você entrar mas peço que por favor evite qualquer tipo de discussão.

- Doutor, eu não quero discutir, só quero vê-lo e dizer que estou disposto a ajudar no for preciso. Posso entrar agora? 

- Pode.

---No quarto---

Arthur - Entro no quarto do meu pai e o que eu vejo me choca, não o reconheço, ele está muito magro, abatido, envelhecido, com pouco cabelo devido à quimioterapia. Porém, vejo algo que há muito tempo não via, vejo ternura em seus olhos. 

- Oi Pai...

- Oi

- Obrigado por aceitar me receber, eu já queria ter vindo antes mas o médico disse que você não queria receber visitas.

- Continuo não querendo...

- Eu não quero forçar, se você preferir posso ir embora...

- Eu concordei, não concordei? O que você quer Arthur?

- Eu quero saber como você está...

- Isso era melhor você perguntar ao médico não acha?

- O  seu estado físico eu já sei, eu perguntei ao médico. Mas eu queria te ver, saber de você como você está.

- Eu estou aqui preso nessa cama, com câncer e com problema no coração. Eu devo agora estar sendo punido por Deus.

- Deus não pune ninguém pai, Deus não dá um fardo maior do que podemos carregar.

- Desde quando virou religioso?

- Não sou religioso mas leio muito e creio. A crença independe de religião.

- Por que Arthur?

- O que?

- Por que você pagou pelo meu tratamento?

- Porque você é meu pai. Mesmo você dizendo que não tem mais filho... mesmo você me odiando, você é o meu pai.

- Eu nunca disse que te odeio...

- Verdade, você nunca me disse isso, mas é que as ações as vezes vale tanto quanto uma palavra e vice versa. 

- Discordo de você.

- Respeito você discordar. Sabe pai, eu fico me perguntando onde a gente se perdeu...

- Você não sabe mesmo Arthur? Você vai levar a conversa para esse lado né?

- Desculpa, mas é que eu realmente não entendo.

- A minha vida sempre foi muito dura Arthur, teve dias que eu deixei de comer para não faltar para você e sua mãe, eu abdiquei de muita coisa por vocês, você não tem ideia das dificuldades que passamos desde que nos casamos, foram anos de muita dificuldade e luta para não passarmos necessidade, teve época que eu trabalhava nos três turnos...

- Pai...

- Você sabe o que é sair as cinco da manhã e só voltar a meia noite e ter que levantar novamente as cinco? Foram dias difíceis, de muita batalha. Me tornei engenheiro com muito sacrifício, eu me dediquei àquela empresa, eu dei meu sangue, e quando finalmente tive meu trabalho reconhecido fui colocado pra fora por sua causa.

- Pai, eu acho que devemos deixar essa conversa para outro momento, o médico recomendou que você não se exaltasse e essa conversa não vai acabar bem...

- Você não veio aqui? Não está aqui agora? Você veio só olhar na minha cara? 

- Pai por favor...

- Olha Arthur, eu prefiro que você vá embora, não sei nem porque você veio aqui, você seguiu com a sua vida, eu segui com a minha, agora sua mãe escolheu ficar o seu lado, por mim tudo bem, nunca precisei de ninguém pra nada, não preciso de você, não preciso da sua mãe...

- Pai eu vou embora então, acho que não foi mesmo uma boa ideia vir aqui...eu espero que você se recupere, que você fique bem e caso precise de qualquer coisa, saiba que estou aqui pronto para te estender a minha mão. 

Arthur -   Saio do quarto com um nó na garganta, o coração do meu pai está carregado de mágoas, me enganei quando disse que vi ternura em seus olhos, então preferi não insistir para que ele não se irritasse, acho que não era mesmo o melhor momento, não sei se um dia vamos poder conversar sem mágoas, sem ressentimentos...eu queria muito que meu pai superasse tudo isso. 


Eita Sr. José hein... Arthur tentou...

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