Capítulo 66 - A conversa

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Arthur - Não consigo segurar a emoção e choro sem parar. Ouço a voz da Carla me chamar, ela percebeu que demorei demais. Vou ao banheiro e lavo o rosto, me olho no espelho e vejo que estou vermelho, eles vão perceber que chorei. Lavo o rosto mais uma vez e vou para a sala. Ficamos lá os três batendo papo e conversando sobre a época que eu era criança, meu pai falando como eu era quando era bebê, Carla sorri e fala que o Lucas é a mesma coisa. Meu pai conta para Carla que eu dormia com o bumbum pra cima como se estivesse de cócoras, a gente ri muito nessa hora pois tanto o Lucas quanto a Maria Clara dormem assim.  Me emociono mais uma vez e seguro para não chorar. As crianças dormem, o Lucas dormiu no colo do meu pai. Levamos os dois para o quarto e os colocamos no bercinho. Voltamos para sala, pergunto se meu pai quer tomar uma cerveja, ele aceita e ficamos na varanda conversando sobre o resultado da Libertadores, comentamos sobre todo o campeonato, eu sempre gostei muito de falar de futebol com meu pai. Carla nos chama para almoçar. Almoçamos, meu pai fica visivelmente emocionado pois a comida era seu prato preferido, strogonoff de carne. Depois do almoço, ficamos os três conversando mais um pouco, ele nos contou como foram os últimos dias de quimioterapia. Carla então fala que vai nos deixar a sós para que possamos conversar mais a vontade e que ela vai aproveitar que as crianças dormiram e vai dormi um pouco também. Me despeço dela com um beijo na testa e ela dá um abraço em meu pai. 

- Ela é uma menina de ouro...

- É sim, ela é incrível pai. A Carla foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na minha vida. Passamos por muita coisa juntos em tão pouco tempo, mas agora estamos aqui com nossos filhos.

- Que Deus abençoe vocês meu filho...

- Pai...porque você está aqui? E me chamando de filho (chorando)

- Porque você é meu filho... eu querendo ou não, você é meu filho...mas no fundo, no fundo, dizer que eu não tinha mais um filho doeu muito mais em mim do que em você, pode ter certeza disso, eu só fiz isso porque deixei a raiva falar mais alto e queria te ferir. Mas você sempre esteve aqui dentro do meu coração e só não queria admitir, sempre fui muito orgulhoso, sempre tive dificuldade em voltar atrás de algo que falei, eu estava ferido, magoado. 

- Pai, eu sei que eu não fui o filho que você operava que eu fosse, eu frustrei seus planos e suas expectativas...eu não fui o que você esperava que eu fosse e ainda por cima destruí seus sonhos...

- Não Arthur, não é bem assim não. A verdade é que eu queria através de você alcançar um patamar naquela empresa de forma mais rápida, hoje eu entendo que o que eu fiz foi muito errado, eu queria me dar bem à custas de você ter uma relação com a filha do meu chefe, isso não é mérito, é interesse e não me orgulho nada disso, talvez até por isso eu tenha ficado tão amargo porque percebi o quanto isso foi feio e errado. Mas me deixei levar pela mágoa e não conseguia me livrar dela, daí veio aquele acidente, a sua condenação e prisão, as pessoas o tempo todo me falando que eu tinha o filho presidiário, eu deixei entrarem na minha mente, eu deixei que o meu orgulho falasse mais alto, eu deixei a mágoa me dominar. Você sempre tentou se reaproximar mas meu orgulho não deixava...

- Pai, deixa eu te falar uma coisa, eu não guardo mágoa, não mais. Houve um tempo em que eu estava sim muito magoado e com raiva de você por ter me falado que eu não era mais seu filho, doeu muito sim ouvir isso, mas hoje, meu coração está em paz, não guardo nenhum rancor e acho que podemos daqui pra frente zerar tudo isso. São coisas que não podemos mais desfazer, aconteceu, nos magoamos, ficamos anos longe um do outro mas temos a chance agora de mudar tudo isso, eu sou pai, e quero muito que meus filhos filhos convivam com você. Vamos deixar as mágoas para trás, nós nunca vamos esquecer tudo que aconteceu, mas podemos daqui pra frente reconstruir nossa relação  a partir desse nosso reencontro. 

- Você me perdoa meu filho?

- Me perdoa também pai...

José - Nos abraçamos emocionados, ficamos um longo tempo abraçados, sentindo o coração um do outro, é a primeira vez que abraço meu filho ele já um homem, carrego um remorso muito grande de não ter acompanhado meu filho na sua vida adulta, e vejo que ele se tornou um homem de bem, de caráter e agora é pai. Finalmente sinto uma paz dentro de mim, sinto como se tivesse tirado uma tonelada das minhas costas, sinto como se eu estive flutuando. Nos olhamos emocionados, sorrimos um para o outro, resolvemos continuar o bate papo para tirar o atraso de anos. Continuamos tomando nossa cerveja e falando de futebol, depois ele me conta tudo sobre como montou a empresa, me mostra todas as revistas em que ele saiu na capa sendo considerado empresário do ano. Ele me dá um exemplar de cada revista para que eu leia depois. Ele me conta como conheceu Carla e como ela foi parar na empresa, me contou sobre o início do namoro, sobre a loucura do Augusto e sobre o sequestro, depois sobre a cirurgia de Carla e sobre a descoberta da gravidez e do nascimento das crianças, rimos muito, choramos muito, pela primeira vez estivemos verdadeiramente como pai e filho. Meu coração se transbordou de amor. 

Arthur - Meu pai e eu nos reconciliamos, nos perdoamos e prometemos que iríamos deixar o passado para trás e reconstruir nossa relação daqui por diante. Foi tão agradável passar a tarde toda conversando com ele, estou um pouco bêbado, ele também, tomamos muitas latas de cerveja, eu sempre sonhei com esse dia, eu e meu pai tomando uma cerveja e conversando sobre futebol. Mas do que falar sobre futebol, era ter a companhia dele aqui na minha casa sendo meu pai. Aproveito e pergunto a ele como ele e Carla se conheceram, ele me diz que acha melhor ela mesma me contar e antes de ir embora meu pai me fala que eu tenho uma mulher incrível e Carla conseguiu com delicadeza quebrar a pedra de gelo que estava ocupando seu coração. Nos abraçamos mais uma vez e ele foi embora. Chego no quarto e vejo Carla dormindo pesado, sinto vontade de acorda-la pra saber dessa história mas não tive coragem, ela precisa descansar, então vou ao banheiro, tomo um banho, escovo os dentes para tirar o hálito de cerveja e deito junto dela, a puxo para perto de mim ela se encaixa em mim. Ela me abraça mesmo dormindo pesado. Fico de conchinha com ela, fecho meu olhos e só agradeço a Deus por ter essa mulher na minha vida.

Eita minha gente... emocionei aqui hein. Comentem. 

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