Capítulo 3 - A desconhecida

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- Você está me apertando muito...

- Desculpe, - eu disse a soltando. Você está bem?

- Acho que estou, não estou sentindo minhas pernas, pensei que eu fosse morrer.

- Foi por pouco, eu consegui evitar porque eu estava aqui aguardando para atravessar. Você precisa ter mais cuidado, foi por muito pouco. Você não viu que o sinal estava aberto ainda?

- Não vi, eu estou com a cabeça tão cheia de problemas, tão cheia de coisas que não prestei atenção, eu só queria chegar logo em casa. 

- Você está tremendo, quer tomar um pouco de água, se você não se importar, eu posso te acompanhar até a sua casa. 

- Não, imagina, já me salvou, não vou explorar mais do que isso.

- Exploração nenhuma, você ainda está muito assustada e não me custa nada te acompanhar.

Eu aceitei a água e que ele me acompanhasse até minha casa. Eu estava realmente muito assustada, mas confesso que não sei dizer exatamente o que estava me assustando mais, o fato de eu quase ter morrido atropelada, ou do meu coração ter errado uma batida quando me vi nos braços daquele homem. Meu Deus, e que homem, que visão. Alto, forte, loiro, cheiroso muito, mas muito bonito. Eu congelei meu olhos nos olhos dele, foi involuntário e inevitável, ficamos grudados um no outro por longos segundos, por um momento pareceu uma eternidade e eu não queria que acabasse nunca, mas ele começou a me apertar muito e tive que pedir para me soltar. 

- Atrapalhei sua ginástica né?

- De jeito nenhum, eu já estava voltando para casa. Você disse que não prestou atenção no sinal porque estava com a cabeça cheia de problemas, se não for muita invasão da minha parte, há algo que eu possa te ajudar?

- Ah não, acho que não, eu passei o dia distribuindo currículo, estou há meses desempregada e não consegui nada até agora, já estou ficando desesperada sabe. 

- Você faz o que?

- Atualmente eu não faço nada - olhamos um para o outro e rimos. Bem, eu sou formada em Design de interiores, é muito difícil conseguir emprego nessa área, então estou topando qualquer coisa, preciso pagar as  minhas contas. - Chegamos, eu moro aqui.

Ficamos ali, parados na frente do prédio onde eu morava, era um prédio simples de 10 andares e não sei porque contei quase tudo da minha vida pra ele que me olhava com um olhar intenso e atencioso. Quase uma hora depois resolvi agradece-lo por ter salvo a minha vida e por ter me acompanhado. Nos cumprimentamos com um aperto de mão: prazer, eu sou Arthur. - O prazer é meu Arthur, eu me chamo Carla. Entrei. Ele ficou parado me acompanhando com os olhos até que sumi de sua vista. Depois de subir para o meu apartamento, me dei conta que não trocamos telefone, e se eu quisesse mandar uma mensagem ou ligar para agradecer mais uma vez? Pensei em descer, mas certamente eu não o encontraria mais.

Foi o encontro mais surreal que tive na minha vida, e agora que já sei o nome dela, só penso na sonoridade do seu nome: Carla. A voz dela não me sai da cabeça. Que sorriso lindo. Que voz. Estou literalmente atordoado. Como eu sou burro as vezes viu, poderia ter pedido o telefone dela, poderia ter oferecido um emprego a ela na minha empresa... poderia tanta coisa. 

Alguns dias depois


- Arthur?

- Oi, D. Carla

- D. Carla? quanta formalidade.

- É só uma brincadeirinha.

- Bacana ah ah

- E aí já se refez daquele susto? Tá prestando mais atenção ao atravessar o sinal?

- Atenção redobrada, não é todo dia que vou achar um salvador. 

- Toma uma água de coco comigo?

- Hum, eu tô sem dinheiro aqui, eu saí pra correr e esqueci a carteira

- Que isso, eu pago pra você.

- De jeito nenhum, você está desempregada. Ou já está trabalhando?

- Ainda não consegui nada. Mas uma água de coco você vai aceitar né, ou você é orgulhoso e não admite que mulher pague a conta? Relaxa, eu sei bem o que é passar perrengue e não ter dinheiro nem para uma água. Vamos sim tomar a água de coco.

Paramos na barraca de água de coco e começamos a conversar, comecei a falar e me dei conta que ele já sabia quase tudo de mim e eu não sabia absolutamente nada dele, então resolvi indagar.

- Arthur, que você faz? trabalha com o que?

- Bom, eu sou vendedor, trabalho numa loja de roupas esportivas.

- Hum, tá explicado a sua vestimenta então. 

- É pode-se dizer que sim. Pelo menos tenho desconto lá né...

- Olha se caso abrir alguma vaga lá lembra de mim viu.

- Eu posso até lembrar mas não vou ter como te falar.

- Porque?

- Eu não tenho seu telefone.

- Ah, bacana, corta para eu perdendo uma vaga por não ter dado meu telefone. Não seja por isso, anota aí. Em seguida nos despedimos e fomos embora, desta vez cada um para um lado. 

Finalmente consegui o telefone dela, só fiquei com um pouco de remorso por ter mentido pra ela sobre o meu trabalho. Eu não deveria ter feito isso, mas é que essa mulher atingiu meu coração tão forte que preciso ter certeza que ela não é interesseira como as outras. 

Trocamos telefone, meu Deus como fui cara de pau pedindo a ele para me conseguir uma vaga de emprego, mas acho que ele não vai se importar com isso. Mas tenho pra mim que isso foi uma desculpa que ele arranjou só para ter meu telefone. Não vou mentir, eu gostei. 

WhatsApp On

- Oi Carla

- Oi Arthur

As Surpresas da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora