Capítulo 7 - Um anjo chamado Rosa

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- Contei toda minha história para Carla, a morte do meu filho, meu desespero pela perda, a dor, a tristeza, a dúvida sobre o futuro, e quase 10 anos depois meu encontro com o homem que foi responsável pela morte do meu filho. O meu perdão, a minha mão estendida a um rapaz de coração bom mas que cometeu um deslize anos atrás e pagou muito caro por isso, afinal viveu por quase 10 anos longe da família e de todos. Olho para Carla e a vejo às lágrimas.

- D. Rosa, que história triste e ao mesmo tempo que história linda.

- Ainda não acabou minha filha, a primeira parte foi a morte do meu filho, a segunda parte foi meu reencontro com o responsável pela morte, e a terceira parte, ah essa é a que me faz viver até hoje. Meu marido não se conformava com essa aproximação, isso o deixava furioso, mas eu não me intimidava não, eu acreditava mesmo no arrependimento do rapaz e na vontade dele se redimir de alguma forma. Foi um acidente, uma fatalidade, não foi intencional. Mas meu marido pensava diferente de mim. 

Ele morreu pouco tempo depois de infarto e eu fiquei desamparada pois dependia dele para tudo.  Foi então que esse rapaz, me estendeu a mão e me disse que jamais deixaria que nada me faltasse. E tem sido assim até hoje. Mas não se trata de coisas materiais, de fato ele jamais deixou me faltar nada, mas o que mais emociona nele, é que ele se tornou um filho pra mim, eu acompanhei o crescimento desse menino desde que ele saiu da prisão, todas as suas angústias, a luta para conseguir emprego num país que não dá oportunidade para quem sai da prisão...

- D. Rosa, não consigo imaginar o tamanho da sua dor, não consigo dimensionar nada disso, você estendeu a mão e abraçou o responsável pela morte do seu filho... ele deve ser uma pessoa muito especial mesmo, vejo nos seus olhos o carinho...

- É que aprendi a enxergar as pessoas com os olhos do coração minha filha. Eu tinha entrevistado mais de 15 pessoas e já estava querendo desistir até que você entrou naquela sala e foi meus olhos irem de encontro ao seu e enxerguei seu coração. Imediatamente eu disse a mim mesma, é ela...

- Ai D. Rosa, fico emocionada ouvindo isso. Eu confesso que achei que a senhora não gostou de mim... achei que não seria a escolhida, eu estava tão desanimada, já tinha ouvido tantos nãos...

- Mas eu escolhi você pela confiança que seus olhos me transmitiram. Mas de qualquer forma, você não poderia jamais trabalhar como minha assistente né... não teria o menor cabimento.

- Não entendi, porque não teria o menor cabimento?

- Porque o Arthur está apaixonado por você e jamais permitiria que você ficasse nessa função.

- D. Rosa, desculpe mas eu não acredito nele, e a senhora me disse que não falaria dele...

- Mas desde que eu cheguei aqui eu só falo dele. O Arthur, é o rapaz que atropelou meu filho, é o rapaz que ficou preso quase 10 anos, é o rapaz que me estendeu a mão quando eu precisei e que até hoje não soltou por nada. É o rapaz que exigiu que eu parasse de trabalhar porque se preocupa com a minha saúde, é a pessoa que eu mais confio nesse mundo. 

- D. Rosa, estou em choque, não sei o que dizer...não sei o que pensar...

- Carla, eu quis de contar tudo isso porque eu acredito no sentimento dele por você e vejo que você também sente, a vida é muito curta minha filha, meu menino foi atravessar a rua e morreu atropelado, Arthur passou anos na prisão e eu tinha tudo para odiá-lo e hoje é a pessoa que mais amo nessa vida. Ele não deveria ter mentido pra você mas é que ele já passou por tantas coisas, tantas pessoas que só se aproximaram dele por causa do dinheiro que ele teve medo que você fosse mais uma e como dessa vez o que ele está sentindo é verdadeiro, ele se importou, ele precisava saber... tem muito mais coisas além disso, mas que não me sinto no direito de contar, talvez ele um dia te conte e você entenda. Bom era isso, eu só queria que você soubesse quem é o Arthur. Reflita, não deixe um sentimento verdadeiro morrer... eu vejo um futuro pra vocês.

- D. Rosa, eu realmente não sei o que dizer, estou muito surpresa e muito mexida, minha cabeça está confusa, não consigo pensar em nada agora. Sua história mexeu muito comigo, ainda mais agora sabendo que é o Arthur. Obrigada por confiar em mim e compartilhar comigo.

- Eu já vou, pense direitinho, e quando se sentir bem, dê a ele a chance de se explicar.

- Eu prometo que vou pensar. Obrigada por tudo. 

 D. Rosa foi embora e deixou um vulcão em minha cabeça. Meu Deus que história triste e ao mesmo tempo bonita, como isso é possível? Será que eu fui muito radical? Ele salvou a minha vida, se não fosse por ele eu poderia ter morrido atropelada, não é possível que todas as outras coisas que conversamos seja mentira, não é possível que todos os sorrisos sejam mentira... não pode ser.

Algumas semanas depois...

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