oito

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Havia se passado algumas horas desde que o silêncio havia se instalado ali e Marília resolveu fazer uma parada de vinte minutos pelo final da tarde para comerem algo. Ela queria que o silêncio se dissipasse, mas mesmo após comerem as garotas não disseram uma palavra sequer.

- A última pessoa que havia tocado naquele rádio foi meu pai. - Marília revelou baixo, vendo os cílios longos de Maraisa se ergueram em sua direção. -- E ele faleceu há alguns anos.

-Eu sinto muito. -- Maraisa disse baixinho.

- Eu só queria esperar o momento certo de ligar a rádio. -- As garotas olharam para Marília espantadas, ela nunca tocava naquele tema e apenas mudava de assunto caso alguém tocasse.

- Eu não sabia disso, eu realmente sinto muito, Marília. -- Ela disse tocando na mão da mais velha.- Prometo parar de ser tão curiosa ou intrometida. -- Marília encarou o toque de Maraisa em sua mão e sorriu em sinal de que
estava tudo bem.

- Sabe de uma coisa que você me mostrou? - Maraisa negou com a cabeça e Marília riu baixinho. -- Descobri que não tem hora certa para ligar uma rádio, então... Obrigada.

- Isso quer dizer que poderemos ouvir a rádio? - Maiara se intrometeu esperançosa e Marília voltou a fechar a cara.

- Não! - A risada das garotas ecoou pelo caminhão e Marília voltou a ligar o veículo.

Maraisa retirou sutilmente sua mão de cima da de Marília e sorriu mais despreocupada.

- Escuta, Marília... Por que nunca nos disse sobre esse lance? - Naiara perguntou. Marília apenas deu de ombros, mas alguns minutos depois sua mão direita foi para o botão da rádio, ligando-a e aumentou o volume no último.

As garotas abriram as bocas chocadas e Maraisa sorriu de forma contida, desviando seu olhar para Marília disfarçadamente. Maiara sorriu baixinho ao perceber algo: A nova companheira de estrada tinha uma espécie de reação positiva sobre Marília.

- Marília? - Maraisa cutucou o braço da caminhoneira, pois o volume estava realmente alto. - Preciso fazer xixi, -- Ela confidenciou, tendo se inclinado e falado no ouvido da garota. Marília baixou o som do veículo para lhe responder.

- Não podemos parar agora. Deveria ter feito xixi
antes de sairmos. - Disse séria.

Maraisa cruzou as pernas e se moveu inquieta, fazendo Marília bufar ao constatar que a garota deveria estar segurando há muito tempo. -- Assim que der eu paro. -- A risada de Maiara preencheu a audição de todas as garotas, que olharam para ela em confusão.

- Não posso mais rir? Eu hein! - Ela disse ao ver que a atenção estava toda sobre ela.

Alguns minutos se passaram e Marília finalmente pôde estacionar, pegando um rolo de papel higiênico e entregando à garota. Maraisa agarrou o papel e desceu correndo, fechando a porta às pressas.

- Acho que você deveria ter dito a ela. - Maiara
disse rindo.

- Ela não me deu tempo. - Marília explicou, desviando o olhar do retrovisor ao ver Maraisa se agachar ali. - Tudo bem, quero todas olhando em outra direção!

- Se ela tivesse nos dado tempo teríamos dito a ela que o retrovisor pega a imagem de onde ela está. - Naiara disse, soltando uma risada anasalada.

- Diremos quando ela voltar. Agora não quero
ninguém olhando. - Marília repetiu e Maiara se
inclinou, dando três batidas no ombro de Marília.

-- E, irmāzinha, você está ficando frouxa. - Marília rosnou baixinho e lhe olhou feio.

- Só estou impondo respeito. A garota não sabe que podemos vê-la daqui. Seria errado bisbilhotá-la.

- Marília, ninguém aqui tem interesse em olhar
a vagina da garota, fica tranquila. - Marília ficou
muda e Maiara riu baixinho. - Ou será que tem?

- Voltei. - Maraisa disse após abrir a porta. - Obrigada por isso, eu realmente estava prestes a
morrer. - Marília apenas assentiu com a cabeça e Ihe entregou um vidrinho de álcool em gel. Maraisa agradeceu baixinho e passou álcool em suas mãos. E aí, do que falavam?

- Bem, você não nos deixou avisar que onde você
foi dava para te ver daqui. - Maraisa emburreceu
Com a informação de Paula. - Mas não se preocupe, ninguém olhou.

- Então onde eu deveria ir? Atrás ou na frente do
caminhão os carros que vêm e que vão me veriam.. - Maraisa perguntou.

- Desse lado do caminhão mesmo, mas embaixo
do retrovisor. - Marília explicou e Maraisa assentiu corada. Os olhos castanhos rolaram pelo caminhāo e ela alçou uma sobrancelha a o achar o que buscava.

- Espere! Quem lavou meu boné? - Ela perguntou, vendo o mesmo pelo retrovisor, localizado no canto de trás da boléia. - Naiara!

- Não olhe para mim; eu apenas disse que ele estava imundo. Não tocaria naquilo nem com luvas. - Naiara respondeu e Marília se reclinou, pegando o boné e o colocando sobre a cabeça.

- Eu não lavei. - Paula disse.

-Eu não desperdiçaria o meu tempo com essa
velharia. - Maiara alegou.

- Tudo bem, fui eu. - Maraisa disse baixinho,
temendo ter feito algo errado outra vez.

- Por que? - Marília perguntou.

- Eu vi que precisava ser lavado e como você me
deu a carona eu quis retribuir de alguma forma. - Confessou desviando seus olhos para suas próprias mãos. - Desculpe.

- Eu... agradeço. - Marília disse. Maraisa lhe
olhou e Marília sorriu contido. -- Ele precisava
urgentemente ser lavado, mas eu sempre me
esquecia. - Disse e Maraisa sorriu- lhe. - É meu boné preferido.

- Eu adoro bonés, mas nunca sequer experimentei um. - Confessou rindo e Marília retirou o boné, agora limpo, de sua cabeça e colocou em Maraisa.

- Não seja por isso. - Falou sorrindo.

- Gostei. - Maraisa disse, fitando a si própria no
retrovisor.

-- Impressionante como fica linda de qualquer jeito. - Marília disse mordendo seu lábio inferior.

- Como?

-Oh, nada. - Marília disse rapidamente ao
perceber que havia pensado alto demais.

Maiara riu e se inclinou para dizer algo no ouvido de Marília.

-Como eu disse, frouxa.

- Cale essa boca, ora. - Resmungou, ligando o
caminhão e olhando de soslaio para Maraisa, que ainda olhava para o próprio reflexo e fazia caretas. Parecia uma criança.

Marília riu baixinho e negou com a cabeça, voltando a olhar pra frente e a levá-las para San Diego.

Destino Incerto - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora