trinta e nove

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- Preparadas? - Marília perguntou animada. Seu caminhão finalmente estava concertado. Ah! Como ela adorava dirigir; sentir que poderia ir para qualquer lugar que quisesse com seu caminhão; sentir o vento esvoaçar seus cabelos enquanto ela batucava seus dedos no volante em total silêncio...

Bem, algumas mudanças aconteceram no último mês, fato este que fez Marília franzir o cenho, já não desejava tanto o silêncio assim. Em seu mais profundo interior havia se acostumado com as vozes falantes de suas irmãs enquanto discutiam quem ficava com o salgadinho; havia se apaixonado pela risada de Maraisa enquanto lhe contava algo bobo e a abraçava; havia voltado a apreciar o som da rádio quando o silêncio das garotas se fazia presente e, inclusive, havia se encantado pelo ronronar de Lua ernquanto ela a acariciava.

Por falar em Lua, a gata havia passado mais tempo fora, brincando com seu novo amigo, do que na casa aonde haviam ficado.

- Sim! - Maraisa respondeu, circundando seus braços ao redor de Marília e enchendo seu rosto de beijos.

- Falta a Paula, mas já vamos entrando porque ela ainda vai demorar alguns minutos. - Maiara disse, sabendo que Paula poderia estar transando pela última vez dentro dos próximos dez dias pelo menos.

- Lua, vem! - Maraisa chamou, vendo a gata se esfregar no gato cinza escuro que tanto havia passado os últimos dias antes de correr em direção de sua dona.

- Até Lua achou um gato para fazer saliências. - Maiara disse rindo, vendo Maraisa lhe olhar seriamente. - Definitivamente esta foi a melhor viagem. Ano que vem a gente precisa mesmo repetir.

- Lua não faz essas coisas. - Maraisa disse com veemência.

- Eu hein! Até parece que não. Passou todos esses dias vendo vocês naquela boléia e acha mesmo que ela...

- Maiara! - Marília disse secamente, vendo que Maraisa estava realmente ficando irritada. A ruiva riu e assentiu, entrando no caminhão seguida de Naiara.

- Vizinhas! - Foi o suficiente para Maraisa revirar os olhos tão descaradamente que Marília quase achou que seus olhos jamais voltariam ao normal. - Que bom que ainda não foram.

- Oi, Dayane. - Marília disse educadamente, sentindo Maraisa se encaixar entre seus braços.

- Fiz um bolo delicioso de laranja para vocês comerem na viagem. Se um dia voltarem para cá não hesitem em me chamar. - Ela usava o plural, mas seus olhos não saíam de Marília. Suas mãos se estenderam com o bolo e Maraisa sorriu.

- Marília odeia bolo de laranja, mas obrigada. - Maraisa disse, vendo o sorriso da mulher vacilar.

- Não, Mara...Eu não... ouch! - Sentiu um beliscão em suas costas e gemeu baixo de dor. - Odeio demais bolo de laranja, mas agradeço. - Marília disse pegando o bolo das mãos da mulher. - Minhas irmãs adoram.

- Sério? - A mulher disse decepcionada. - Se eu soubesse tinha preparado algum de seu agrado.

- Muito sério. Outro dia ela vomitou só de sentir o cheiro do bolo. - Maraisa disse e Marília assentiu, forçando um sorriso em seu rosto.

- Bem, bom proveito para as suas irmãs então. Boa viagem, garotas. - Ela disse, acenando um tchau com as mãos e saindo.

- Por que disse que eu odeio bolo de laranja? - Marília perguntou confusa, se virando para sua namorada.

- Porque eu não ia dar o gostinho de ela saber que você tem vontade de comer qualquer coisa vinda dela. - Maraisa disse séria.

- Você é sempre ciumenta assim? - Marília perguntou rindo.

- Na verdade sou pouco ciumenta, mas ela te comeu com os olhos mesmo sabendo que você está comigo. Isso é uma tremenda falta de respeito. - Maraisa disse e Marília colocou o bolo no banco do caminhão, vendo Maiara pegá-lo no momento seguinte.

- Não precisa ter ciúmes, tudo bem? - Marília disse enlaçando seus braços ao redor da cintura de Maraisa. - Eu gosto das coisas certinhas, sabe? Com você que eu dei uma pulada nas etapas...

- Não só nas etapas. - Maraisa disse erguendo uma sobrancelha sugestivamente e Marília lhe fitou seriamente. - Ok, prossiga. - Marília assentiu e riu.

- Como eu dizia, com você que eu pulei etapas, mas sou aquela pessoa chata tradicional, sabe? Que acredita que primeiro vem o namoro, depois a intimidade, depois o casamento, filhos... - Disse, vendo Maraisa sorrir ao ouvir aquilo. - Acredito em coisas duradouras e, bem, para durar preciso cuidar para não perder. - Suspirou, encostando sua testa na de Maraisa. - Eu jamais te trairia, Maraisa.

- Eu sei. - Maraisa sussurrou. - Conheço você, mesmo em tão pouco tempo.

- Então por que o ciúmes?

- Não gosto de saber que te olham sentindo desejo. - Assumiu. - Eu sei que é inevitável porque você é absurdamente atraente, mas tem gente que sabe respeitar, sabe? Todos deveriam ser assim. Você está comigo, aquela bruxa não deveria... - Marília gargalhou ao ouvir aquilo.

- Ai, que vontade de morder. - Marília disse sorrindo entre dentes. Maraisa ficava incrivelmente fofa com ciúmes e Marília não resistia.

- Morde... - A menor disse estendendo o pescoço para Marília. O tom de inocente passou a ser carregado de malícia.

- Por que sempre faz tudo parecer pervertido e excitante ? - Marília perguntou rindo.

- Não podemos agora... - Marília disse enquanto
distribuía beijos pela pele do pescoço de sua
namorada.

- Por que tudo que eu faço você acha que é porque eu quero sexo? - Maraisa questionou.

- E não quer? - Marília perguntou, arqueando uma sobrancelha e fitando as orbes castanhas.

- Quero, mas... - Maraisa bufou e seus ombros caíram. - Preciso ser menos previsível. - Marília gargalhou ao ouvir aquilo. Sua risada cessou ao ver Paula correndo em direção ao caminhão enquanto arrumava a alça de sua blusa.

- Cheguei, cheguei! Podemos ir. - Ela disse, entrando às pressas no caminhão.

Lua pulou atrás dela e Marília deu um selinho em Maraisa, apenas para dar a volta no caminhão e ligá-lo.

- Vamos para casa, garotas. - Marília disse sorrindo, buzinando para Henrique antes de dar partida no veículo.

E a viagem de volta aconteceu da mesma forrma em que tudo começou: Na estrada.

Destino Incerto - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora