três garotas que dormiam na parte de trás foram para lá em um momento onde a chuva havia cessado. Apesar do breu, no céu ainda se podia notar as nuvens carregadas e graças ao farol aceso se notava os grossos pingos de chuva caindo.
- Já que você não fala comigo será que poderia me emprestar seu livro? - Maraisa comentou, sendo a primeira a falar em horas.
- Não!
- Eu estou no tédio, Marília. Você não fala, não quer a rádio e nem a TV ligada agora, não deixa eu ler o seu livro. Poxa, isso é chato! - Ela disse e bufou cruzando os braços.
- Se você tivesse pegado carona com um mudo que tem um caminhão velho sem TV ou rádioe que não gosta de ler teria dado na mesma. Então não reclame.
- Chata! - Maraisa vociferou e para sua surpresa Marília riu baixinho.
- Se não fosse esse aniversário eu não teria parado e meu humor estaria bem melhor. - Marília falou, fazendo Maraisa se virar para lhe fitar de frente.
- Eu disse que não precisava de nada daquilo. Vocês conversando comigo bastaria! - Maraisa disse docemente e então o rubor tomou conta de suas bochechas pelo que ela diria a seguir. - Sabe, foi o primeiro aniversário em anos que eu passei me divertindo, tendo alguém conversando comigo sem me xingar ou...
- Meu pai costumava comemorar os aniversários como se fossem uma benção dos céus. Eu só quis honrar a tradição, mas isso acabou me custando várias horas, graças à uma viajante sem rumo que encontramos na estrada. - Marília disse rindo friamente, fazendo Maraisa realmente perder a paciência.
- Você que quis seguir a tradição do seu pai, então não me culpe! Eu jamais pedi por aquilo, jamais pedi por nada daquilo. Eu deixei claro que estava tudo bem do jeito que estava. - Maraisa disse sentindo seu peito inflar de raiva, mas respirou fundo em busca de autocontrole.
- Vamos parar por hoje. - Marília disse, parando o caminhão e se virando bruscamente para Maraisa. - Vejamos, você chegou aqui com a sua gata, com aquele jeitinho doce e fofo, com o sorriso calmo e roubou o resto de paz que me sobrava. - Ela alegou com veemência. - Tocou na porcaria da rádio quando eu disse para não mexer, ficou usando aquele tom fodido e sensual quando eu disse que sexo era algo sério para
mim, me constrangeu com o assunto do DVD e ainda quer invadir a minha privacidade ao ler o meu livro. - Marília falou, vendo Maraisa abrir a boca e sua expressão beirar à fúria. - Além de te ceder o meu lugar de dormir você ainda quer o que mais?- Por que continuou me dando carona se eu te incomodo tanto, então?
- Eu não deixaria você no meio do nada. Não sou tão ruim assim.
- Mas é uma idiota. Uma grande idiota! - A menor proferiu.
- Por quê? Só porque ainda não transei com você? - Marília perguntou irritada. - Costuma sempre se oferecer para desconhecidos?
O silêncio a seguir veio da parte de ambas. Maraisa negou a cabeça incrédula e abriu a porta do caminhão, saindo na chuva sem se importar com o frio.
- Maraisa! O que está fazendo? - Marília gritou, vendo a garota bater a porta de seu caminhão com força. - Pare de birra, volte já aqui. - Seus olhos acompanharam a garota seguir o caminho a pé, sem olhar para trás.
"Ela vai voltar quando ver que eu não vou atrás."
Marília pensou, mas o tempo foi passando e a
figura de Maraisa quase sumia de sua vista. Marília bufou irritada e voltou a andar com o caminhão, alcançando Maraisa e parando o caminhão. Ela correu para a janela do passageiro e a abriu.- Maraisa, está muito frio. Pare com isso! - A garota nada respondeu, seguiu seu caminho. Marília se encolheu ao sentir o vento frio cortar sua espinha e fechou os olhos sentindo o cheiro de terra molhada. - A sua gata ainda está aqui.
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Destino Incerto - Malila
FanfictionMarília Dias Mendonça é uma caminhoneira; levava a sua vida na tranquilidade das estradas de todo o país. Aos seus vinte e sete anos não se via fazendo outra coisa senão dirigir, exatamente como seu pai a ensinara. A garota possui mais duas irmās ad...