dezessete

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- Por que ela teve que sair na chuva? - Maiara perguntou ao olhar o rosto quase sem cor da garota que dormia no banco de trás. Paula usava um pano molhado para colocar sobre sua cabeça, com a intenção de diminuir a febre que havia aumentado drasticamente.

- Eu não tenho dinheiro... - Maraisa murmurou, respirando com certa dificuldade. - Ainda não...

- Ela está delirando. - Naiara disse preocupada e Marília sentiu-se ainda mais culpada pela noite passada.

- Estamos quase chegando. - Marília informou.

- Na farmácia? - Naiara perguntou e Marília resmungou algo somente para si.

- No hospital, Nai. Febre muito alta é perigoso.

- Você saiu totalmente fora do seu caminho para levá-la ao hospital? - A morena perguntou surpresa e ao mesmo tempo orgulhosa.

- Não. Ainda estou na estrada e é você que está alucinando ao invés de Maraisa. - Marília respondeu rudemente.

- Mamãe... - Maraisa voltou a murmurar e Marília se concentrou em orar para que a pobre moça ficasse bem.

Meia hora depois elas chegaram no hospital e Marília estacionou do outro lado da rua. Maiara pegou Maraisa no colo e a colocou no colo de Marília do lado de fora do caminhão com todo o cuidado do mundo.

- Tranquem o caminhão. - Marília disse antes de adentrar o local com o pequeno corpo em seus braços. A mais velha fez uma nota mental de comprar algumas peças íntimas para Maraisa, já que a garota estava sem calcinha e só tinha aquela que usara na noite anterior.

O médico não demorou a atendê-las e disse a Marília que ela fez o certo em levar Maraisa urgentemente ao hospital, pois a garota beirava os quarenta e um graus de temperatura corporal e havia muitas pessoas que morriam com tal número.

Após os cuidados necessários, Maraisa ficara
em observação pelo restante da noite e acordara pela madrugada, confusa e perdida, Contudo, seu coração se acalmou ao ver o corpo branquelo esparramado em uma cadeira ao lado de sua cama. Um pequeno sorriso brotou em seus láábios ao ver que a mão de Marília estava entrelaçada com a sua.

A menor começou a acariciar os cabelos de Marília com a outra mão e, em um pulo, Marília despertou.

- Heey, calma! - Maraisa pediu rindo, sentindo seu nariz funcionar muito melhor naquele momento.

- Mara... - Marília pronunciou, erguendo as orbes castanhas na direção da menor. - Lhe comprei calcinhas! - Maraisa lhe olhou surpresa, erguendo ambas as sobrancelhas e segurou o riso.

-Oh...! Obrigada? - Ela disse um tanto sem reação. Marília corou ao perceber o jeito que havia proferido aquilo.

- Oh céus... Eu não quis dizer isso não, diacho!- Ela falou e Maraisa sorriu pela forma arrastada que Marília havia proferido e puxado a fala. - É que, bem, você só estava com aquela e o doutor disse que você precisava colocar essa roupa aí... - Começou, meio embaraçada. - Pedi que ele se retirasse da sala e fui comprar calcinhas pelas
redondezas. As enfermeiras te vestiram.

- Expulsou o médico da sala? - Maraisa perguntou rindo.

- Você não ia fazer nenhuma cirurgia, não havia necessidade de ele te ver nua. - Marília disse séria e Maraisa riu ainda mais.

- Marília, ele trabalha com isso. Está acostumado.

- Não havia necessidade de ele te ver nua e fim. - Marília disse tocando sua própria nuca em uma massagem.

- Certo!- disse sorrindo. - Dores por dormir aí?

- Estou acostumada a dormir em qualquer canto, não se preocupe. - Disse ela, meio sem jeito.

- Me preocupo sim. Deite-se aqui comigo. - Maraisa pediu.

- Não precisa....

- Por favor? - Como raios aqueles olhinhos pretos cintilantes tinham tanto poder sobre Marília?

- Certo. - Respondeu em um murmúrio antes de retirar os sapatos e se deitar ao lado de Maraisa. Maraisa se ajeitou sobre o peito de Marília e acomodou uma de suas mãos na barriga da maior.

- Onde estão as meninas? - Maraisa perguntou, sentindo Marília começar a afagar seus cabelos sem sequer perceber.

- Em um hotel. Queriam ficar na sala de espera, mas as dispensei. Só é permitido a permanência de uma pessoa para passar a noite e pensei que seria bom elas descansarem.

- Desculpe te causar problemas. - Maraisa pediu em um suspiro pesado. - Sei que não gosta de gastar muito em hotéis e que isso irá te atrasar ainda mais.

- Não seja tola. Hoje eu comprei calcinhas. - Marília disse rindo. - Se não fosse por você eu jamais teria feito isso na vida.

- O que? - Maraisa perguntou confusa. - Quem compra suas calcinhas?

- Maiara. Ela sabe todos os meus números e compra, não só calcinhas, como roupas também. Do meu agrado, claro. - Marília explicou. - Eu odeio, do fundo da minha alma, comprar roupas. Não tenho paciência!

Maraisa sorriu ao imaginar as caretas e os resmungos baixos da mulher caso fosse em uma loja. Maraisa já estava se adaptando ao jeito sério da garota. A menor apoiou seu queixo no peito de Marília e a fitou sorrindo. Seu dedo indicador pincelou o topo do nariz da maior de maneira doce e suave.

- Você é muito mimada por suas irmãs, mocinha. - Maraisa disse e Marília quase sorriu; Maraisa só percebeu isso porque o canto direito da boca de Marília se repuxou minimamente.

- É uma rotina nossa. - Marília disse. - E eu, particularmente, adoro seguir á risca a minha rotina

- Oh... Aposto que é por isso que você se incomoda tanto comigo. - Maraisa disse sorrindo. - Estraguei a rotina de sua viagem. - Marília lhe olhou séria por um instante antes de lhe responder.

- Posso ser meio teimosa, mas devo admitir que ver você bagunçar a minha rotina foi, a princípio, assustador. - Marília disse, rindo no momento seguinte. - Mas fazia anos que eu não nadava em um rio ou tomava um banho de chuva. - Marília revelou. - Especialmente nadar pelada.

Maraisa riu alto ao ouvir aquilo e abraçou com mais vontade o corpo abaixo de si.

- Durma, morena! Amanhã teremos um longo dia. - Marília disse e Maraisa assentiu, desejando um "boa noite" e enterrando sua cabeça na curva do pescoço de Marília. Maraisa sorriu ao constatar que, após dias, ela não iria dormir excitada.

No lugar da excitação tinha outra coisa: Uma sensação de estar protegida; de bem-estar; uma sensação que aquecia seu peito. Maraisa não conseguia entender ou sequer explicar aquele sentimento, mas não precisava: Sentir lhe bastava.

Destino Incerto - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora