CAPÍTULO 1

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Jocelyn não tinha pressa nenhuma enquanto andava pelos cubículos da redação do jornal em que trabalhava em direção a sala de reuniões. Ela estava de saco cheio, essa era a verdade. O jornalismo investigativo, sua paixão, estava agonizando devido ao surgimento das redes sociais. Agora, qualquer um com uma câmera se dizia jornalista. E ela e seus colegas de profissão, profissionais sérios e comprometidos eram obrigados a cada dia brigar com unhas e dentes por matérias que saíam da fórmula do sucesso daquela geração: fofocas!
Quem dormiu com quem, quem falou o que para quem, quem traiu quem. Essa era a tônica de revistas inteiras. E as notícias sérias, sobre crimes, economia, política eram consideradas chatas, pessimistas e sem atrativos.
"Ainda bem que resolveu nos dar o ar da sua graça, Jo. Estávamos te esperando." Paige, sua chefe, destilou seu veneno.
As duas nunca se deram bem, nunca foram amigas. Jocelyn merecia o posto de editora chefe por mérito, e Paige era filha do dono do conglomerado que possuía o jornal. Paige sabia que sem seu pai, ela não estaria ali, mas ainda assim, agia como se fosse a responsável pelo sucesso do jornal. Jocelyn ia na onda, precisava do emprego.
"Você sabe muito bem em que estou trabalhando, sabe inclusive que tenho muito material para estudar e deveria estar fazendo isso, não perdendo meu tempo." Ela não tinha a mínima paciência com Paige.
"Oh, grande repórter investigativa que investiga coisas que ninguém quer ler! Por favor nos dê apenas uns poucos minutos de seu precioso tempo!" Jill, uma das repórteres antigas disse e todos riram. Era sabido que Jocelyn estava trabalhando ali, apenas devido a um acordo que ela fizera com o editor chefe anterior, de que ela só sairia do jornal se pedisse demissão.
Jocelyn cruzou os braços e esperou, sua expressão de desdém no máximo.
"Novas Espécies!" Paige disse e todos seguraram suas respirações.
"Pride North foi visto num shopping acompanhado de duas crianças Novas espécies que ele mesmo identificou como dele." Paige foi distribuindo fotos. Quando estendeu algumas para Jocelyn ela não descruzou os braços. Paige sorriu e continuou distribuindo as tais fotos.
"Qual a idade das crianças?" Alguém perguntou.
Paige sorriu.
"Exatamente! Elas tem idade para serem filhos de Livie Graham. Quase dois anos. Carl, você pode explicar melhor."
O homem calvo, alto e magro ficou uns instantes em silêncio, desfrutando da atenção de todos.
"Uma gestação Nova Espécie dura mais ou menos cinco meses. Se os ditos filhos de Pride tem a idade que está escrita aqui, quase dois anos, eles foram gerados quando Olivia estava viva."
Jocelyn resistiu a mandar todos para o inferno! Como ousavam! Olivia Graham morreu num trágico acidente com os pais, como podiam levantar a hipótese de que Pride a traiu? Jogar lama sobre uma história de amor tão bonita e trágica.
"Paige. Vamos conversar." Todos já falavam entusiasmados, as teorias a todo vapor e Paige sorria de orelha a orelha. Ela assentiu, pois viu no olhar de Jocelyn que ela estava prestes a explodir.
"Ok. Pessoal, guardem essas teorias, eu quero ouvir todas!" Ela disse enquanto os outros saíam. Jocelyn pegou uma foto. Foi tirada de longe, mas aquele Nova Espécie com as duas crianças, um menino forte e uma menininha delicada, não era Pride North. Meu Deus! Paige estava louca! Ela sequer checou a informação.
"Eu sei, eu sei, você não quer se envolver nisso, mas são ordens do meu pai. Afinal, já que não podemos chutar sua bunda daqui, que você nos dê lucro então."
"Paige." Jocelyn respirou fundo e contou até dez.
"Paige, quem tirou essas fotos? Quem confirmou que este é Pride North?"
"Eu não vou expor minhas fontes."
Jocelyn estava por um fio. De repente trabalhar ali não se comparava com o prazer que sentiria se desse uma bofetada muito bem dada na cara de Paige. Cravar seus cinco dedos na cara dela!
"Paige, veja." Jocelyn ligou o computador e pesquisou no YouTube a entrevista que Pride e Olívia deram quando anunciaram seu namoro.
"Olhe para o Nova Espécie de mãos dadas com Livie e olhe para o das fotos. Parecem a mesma pessoa pra você?" Jocelyn deixou de fora o fato de que estava tendo que desenhar para Paige entender.
A outra mulher olhou bem para a tela do computador e depois pegou algumas das fotos e observou. Jocelyn teve pena. Como alguém que não diferenciava duas pessoas apenas por que as duas eram ruivas estava a frente de um jornal?
Paige olhava para a tela em silêncio. Jocelyn quase podia ouvir as engrenagens de seu cérebro trabalhando procurando uma desculpa para o erro colossal. Jocelyn pegou uma foto e examinou bem.
Novas Espécies! Homens incrivelmente bonitos, altos e fortes. Aquele era o supra sumo de tudo isso. Devia medir mais de dois metros, muito forte e bonito demais. Numa foto, seus olhos azuis ficaram em evidência e Jocelyn se sentiu derreter. As crianças eram filhos dele, com certeza. O menino, do tamanho de uma criança de quatro anos era idêntico a ele, uma miniatura perfeita. Já a menina tinha olhos verdes claros e seus cabelos eram de um vermelho mais escuro, como cobre escuro.
"Deve haver algum engano. Foi minha fonte que tirou essas fotos e ela ouviu da própria boca do menino seus nomes. O pai era Pride, a irmã, Lily e ele se chama Sheer. E ele disse que sua mãe morreu no seu parto." Paige procurou no meio das fotos.
"O áudio do menino está por aqui." Ela tirou um pequeno gravador do meio das fotos, ligou e as duas escutaram:
"Oi, querido, está perdido?"
"Eu acho que corri demais, agora não acho meu pai"
"Quantos anos você tem?"
"Dois anos, mas sou maior que minha idade aparenta."
"Qual é o nome de seu pai?"
"É Pride."
"E o seu?"
"Meu nome é Sheer. Eu sinto o cheiro dele e de minha irmã gêmea, mas todas essas pessoas me deixam confuso, não consigo sentir em que direção eles estão."
"Então, devemos ficar aqui. Ele pode ir na diretoria do Shopping e eles anunciam seu nome e onde você deve encontrar seu pai."
"Eu não sei. Eu não conheço você."
Nesse momento, Paige acelerou o áudio, a fim de ocultar o nome de sua fonte. Jocelyn entendia o sigilo fonte- jornalista, não se importou.
"Sheer! Você nos deu um baita susto, rapazinho. Vou contar tudo para a vovó."
"Não se preocupe, Senhor. Eu fiquei com ele, o convenci a ficar aqui paradinho e aguardar, ao invés de correr por aí."
"Obrigado, muito obrigado."
"De nada, senhor..."
"Pride. Pride North."
Paige olhou com muito desprezo para Jocelyn, e ela teve de admitir que mereceu aquilo, que não devia acusar sem provas. A gravação continuou.
" Foi um prazer conhecê-lo, senhor North. Presumo que há uma senhora North? A mãe das crianças?"
Jocelyn sentiu a bile subir a sua garganta. Aquilo era nojento, a tal mulher se oferecendo e em troca de informações que venderia depois.
" Minha mãe morreu no nosso parto."
"Mas a gente sonha com ela todo dia."
A segunda fala foi dita por uma vozinha doce, devia ser a menina.
Paige desligou o gravador.
"Convencida?"
"O que pretende?"
Paige sorriu, ela estava em êxtase, ela sabia o que os Novas Espécies significavam para Jocelyn.
"Primeiro, vamos colocar os Novas Espécies novamente na mídia. Vamos colocar a cara dos mais famosos em tudo o que pudermos, para que as pessoas se sintam curiosas por eles de novo. E aí, o furo! Ainda estou pensando no ângulo a abordar. Traição? Uma namorada antiga que foi deixada quando Pride conheceu Livie? E é aí que você entra, vai investigar essa história."
Jocelyn ia dizer não, infinitamente não. Mas o rosto satisfeito de Paige dizia que ela já esperava sua negativa.
Isso só podia significar uma coisa:
"Se eu me negar, vai dar a história para outra, a Jill muito provavelmente, não é?"
O sorriso da outra alargou, sua boca parecia que ia se rasgar a qualquer momento.
Jocelyn suspirou derrotada. Ela não queria ter mais nada que ver com os Novas Espécies, mas deixar Jill a frente dessa reportagem seria a pior coisa que poderia acontecer a eles.
"Quanto tempo eu tenho?"
Paige apertou os lábios. Ele era uma péssima ganhadora.
"Um mês, no máximo. Mas tem de prometer uma coisa: sei que vai descobrir a verdade, e tudo bem, mas não vai me impedir de publicar."
"Então, me prometa que não vai sujar a verdade, só por que vulgaridade vende mais."
Paige estendeu a mão.
"A verdade, apenas a verdade."
Jocelyn apertou a mão da outra, mas seu faro investigativo não se enganava, havia alguma coisa errada naquela história.

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