CAPÍTULO 9

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Florest fechou o laptop e suspirou enquanto ia para o banheiro. Não estava muito afim de ir no zoológico, mas sua mãe tinha olhos de águia e estava resolvida a afastar Florest das drogas regenerativas, então, colher o sangue de Hush logo após terem ministrado as drogas nele, era alguma coisa. Havia é claro o fato de Honest, que estava trabalhando no hospital, estar mentindo e não terem ministrado nada em Hush, da mesma forma que fizeram Silent mentir e dizer que Sunny estava com dor de barriga.
Florest sorriu debaixo do jato de água ao lembrar de Sunny tentando mentir.
Emma não gostou nada daquela história.
Ele se vestiu, desceu as escadas e deu um beijo na cabeça de sua mãe.
"Onde vai?" Seu pai perguntou antes de encher a boca de carne.
"Zoológico, quer ir?" Por favor diga que não, por favor diga que não! Ele implorou com os olhos a seu pai.
"Harley quer comprar uma moto nova, mas não consegue escolher, eu e Moon vamos com ele ajudar. Quer ir também?" Os olhos do seu pai diziam a mesma coisa que os dele: 'por favor, não vá.'
Com certeza, iam beber e assistir algum jogo idiota de futebol disfarçados num bar de uma das cidades do entorno. Florest acenou que não.
Florest passou no hospital, pegou um kit de coleta, subiu num jipe e foi para o zoológico. Lá, Honest o esperava na entrada da administração.
"Não vai rolar, vamos sair com algumas fêmeas." Ele disse e já ia lhe dando as costas quando Florest disse:
"É só um segundo, Honest. Só vou colher um pouco de sangue." Ele pediu. Honest coçou a cabeça.
"Hush não gosta de agulhas, acho que ele não vai querer." Florest fechou a cara, aquele filhote estava zoando com a cara dele?
"Como lhe ministraram as drogas, então, Honest?" Florest daria uns cascudos naquele filhote se ele estivesse fazendo-o de bobo.
"Eu já te disse, Ele foi mordido por um urso, que arrancou um pedaço do braço dele, sua mãe aplicou a injeção quando ele estava meio desmaiado, pode perguntar para ela." Florest não iria, sua mãe pegava as coisas no ar, se perguntasse, ela saberia. O pior é Honest sabia que Florest não perguntaria.
"Onde está Hush?" Ele mesmo ia perguntar se Hush aceitaria que Florest colhesse um pouco do seu sangue.
Honest suspirou como se pedisse paciência, e Florest rosnou.
"Onde ele está?" Florest desceu do jipe e avançou para cima do filhote.
"Calma. Eu vou dizer a verdade, Florest." Florest parou bem perto de Honest. Seu pai era um pouco menor que Valiant, então, Honest aos nove anos, era quase do tamanho de Florest. Quase. Florest não teria pena dele.
"Diga logo. Se eu tiver vindo aqui a toa, vou quebrar a sua cara." Florest colou seu nariz com o do outro.
Os olhos de Honest, porém, estavam calmos, a ameaça de Florest não fez o mínimo efeito nele.
"Você pode tentar." Florest rosnou, mas não tinha interesse em brigar com ele.
"Hush não está aqui, ele ficou meio agressivo, Leo o prendeu numa jaula.
Se você tiver coragem pode ir lá, embora não recomendo. A jaula fica a uma boa distância daqui, é só correr ou ir de jipe por essa trilha. Jaula número 78." Ele jogou uma chave para Florest e voltou para dentro da administração.
Filhote maldito. Florest não via nada de adorável nem nele ou em seus irmãos. Para ele, Honest só trabalhava no hospital por interesse, ainda que não soubesse o tipo de interesse que poderia ser. Quando soubesse o exporia sem dó.
Ele preferiu andar a ir de jipe e descobriu que a porra da jaula ficava muito longe, então correu. As jaulas ficavam muito distantes umas das outras e eram numeradas. Florest parou em frente a uma jaula e praguejou quando viu que era a de número 60.
"Porra!" Ele continuou correndo.
As jaulas foram passando e a paciência dele estava se esgotando. Tinha sido uma má idéia, mas agora já tinha andado toda aquela distância. A única coisa em que pensava era no soco que daria bem no meio da cara de Honest se Hush não estivesse na tal jaula.
Ele chegou na bendita jaula, todo suado. O sol já estava alto, ele não tinha tomado café da manhã, estava faminto e muito irritado. Não sentiu cheiro nenhum no entorno da jaula, mas era comum aspergir valeriana no local onde um Nova Espécie estivesse de repouso. Ele inseriu a chave, mas a jaula estava aberta, então entrou. A jaula se fechou com um clique a suas costas, mas ele não ligou, estava com a chave. Era uma jaula grande, daquelas que recriavam uma área natural com árvores e moitas. Havia até um laguinho artificial. Ele andou pela jaula e viu uma cesta sobre um tronco caído. Estava cheia com vasilhas fechadas com carne, uma garrafa de café, torradas, ovos cozidos em outra vasilha, suco em caixinha, mangas, morangos e até uma barra de chocolate. Ele abriu uma das vasilhas e comeu a carne que havia nela.
Indo para o fundo da jaula, ele se deparou com Daisy deitada com os olhos fechados. Que merda era aquela?
"Daisy?" Ela não se moveu.
"Daisy! Abra os olhos ou vou eu mesmo surrar o seu traseiro." Ela não se moveu. Florest inspirou e sentiu o cheiro de anestésico. Ela estava usando valeriana, mas ele podia sentir o cheiro da droga nela.
Florest se aproximou com cuidado, aquela filhote o perseguia, ele tinha sido atraído para aquela jaula, tudo indicava que era armação. Florest rosnou de raiva e deu meia volta. Não se importava se ela estivesse sedada, ele não cairia numa brincadeira idiota dessas!
Mas a jaula estava trancada e a chave que ele deixou na fechadura quando entrou não abriu a porta de grade. Florest amaldiçoou aqueles pestinhas. Ele iria dar uma surra em Honest. Ele voltou para perto de Daisy, ela estava no mesmo lugar, imóvel.
Ela continuou sem se mover durante muito tempo. Ainda que não quisesse tocá-la, Florest a examinou, seu coração estava batendo firme, seus sinais vitais estavam normais.
Ele comeu mais um pouco da carne e bebeu uma caixinha inteira de suco. Daisy continuava no chão desacordada. Ele acabou por pegá-la no colo e se sentou com ela no tronco caído. A cabeça dela caiu e ele a ajeitou em seu peito. Droga de filhote louca!
Louca, mas linda. Florest não pode deixar de se lembrar de Violet, dos olhos azuis, do rosto delicado. Elas eram muito parecidas mas não eram idênticas como os trigêmeos. Apenas eles, e Storm e Tempest, filhos de Grace e Torrent eram gêmeos idênticos em toda população Nova Espécie. Até James e Joe, que quando eram mais novos faziam travessuras e colocavam a culpa de um no outro, não eram gêmeos univitelinos.
O rosto de Daisy era muito bonito, suas feições eram fortes, seus malares eram altos, seu rosto simétrico, mas havia algo em Violet, que na opinião dele a deixava ainda mais bonita, com suas feições mais delicadas. Talvez fosse sua postura calma e firme, diferente da postura arrogante de Daisy.
Ele acariciou o rosto de Daisy pensando que talvez, se Violet não tivesse ido ao seu quarto naquela madrugada, nunca teria reparado nela, pois Violet era mais calada e ele vivia fugindo de Daisy, então, acabava não conversando com Violet também.
Os lábios dela, vermelhos e cheios estavam entreabertos e a sua respiração aquecia o rosto dele. Ela era uma mulher, já. Seu corpo era perfeito com pernas fortes, quadris de mulher feita e seios fartos, diferente das fêmeas Nova Espécie que eram musculosas e atléticas, com corpos perfeitos, mas de seios pequenos e durinhos e bunda também musculosa.
Daisy e a irmã, tinham um corpo lindo, generoso. Ela vestia uma camisola de algodão, seus seios quase escapavam do decote e as pernas bronzeadas estavam quase totalmente de fora. Ele não podia pensar essas coisas, mas estar com Daisy em seu colo, estava mexendo com ele, tanto que a colocou no chão de novo.
Ela acordaria em algum momento. E nesse momento ele exigiria que ela desse um jeito de saírem dali, e ele contaria para Tammy e Valiant, além de bater em Honest e expulsa-lo do hospital.
Mas havia um problema na história dele. Ele ficou preso na jaula porque entrou para colher o sangue de Hush, que supostamente estaria ainda sob o efeito da droga de regeneração. Se sua mãe soubesse! Que porra! Honest o enrolou direitinho!
Ele abriu outra vasilha de carne, comeu tudo e tomou uma garrafa de água que ele descobriu no fundo da cesta. Devia ser para Daisy, quando ela acordasse da sedação, iria sentir sede. Florest não conseguiu tomar tudo, deixou um pouco, mesmo estando com muita raiva dela e de seu irmão.
A respiração dela mudou, mas ela não abriu os olhos. É claro, daria uma boa examinada no cheiro do local antes de abrí-los. Era instinto.
Ela acabou abrindo os olhos, se sentou e segurou a cabeça. Florest continuou sentado no tronco, chupando uma manga.
"Florest?" Ela chamou enquanto se levantava. Ela cambaleou e se segurou num arbusto e fechou os olhos de novo. Ela tinha sido sedada de verdade, devia estar meio tonta mesmo. Ele estendeu a garrafa para ela, ela tomou todo o resto da água.
Ela olhou em volta e se sentou no tronco, Florest se levantou.
"Como está se sentindo?" Ele era um médico, não resistiu.
"Um pouco tonta e com fome." Ele estendeu uma vasilha de carne, ela abriu e comeu.
"Agora, que tal chamar seu irmão, para ele nos tirar daqui?" Ela estava olhando confusa para todos os lados, talvez, não tivesse tido parte nisso.
"Eu não tenho celular, segundo minha mãe, ainda não tenho idade. E eu não armei, isso, Florest. Eu juro!"
"Conta outra. Não há sinal aqui." Ele mostrou o celular e o colocou de volta no bolso.
Havia um bloqueio de sinal no zoológico, medida de segurança.
"Uma hora, irão aparecer e eu vou quebrar a cara deles." Ele disse se sentando no chão apoiado numa árvore.
"Dos três juntos? Acho meio difícil." Ela disse enquanto enchia a boca de morangos.
Florest se levantou num salto. Era muito convencimento daquela pirralha!
"Acha que não dou conta dos três juntos? Eles são três pestinhas que precisam de uma boa surra e eu vou resolver isso." Ela deu de ombros, seu rosto mostrando condescendência.
"Se você diz..." Aquilo era demais!
"Daisy, eu vou dizer de uma vez por todas, pare de me perseguir e dessa vez, eu juro que vou reclamar com seu pai." Ele se aproximou dela e se abaixou para ficar com os olhos na altura dos dela.
Ela riu.
"Fique a vontade. Mas vou logo dizendo que meu pai não vai gostar de saber que ficamos presos numa jaula muito distante da administração, eu vestindo apenas uma camisola. Eu já tenho um corpo de mulher, como pode ver." Ela desceu as mãos sobre os seios e Florest salivou. Ele foi incapaz de desviar os olhos das mãos dela.
Florest foi até as grades da jaula e as forçou. Ele tinha de sair dali. Chutou, chutou até seu pé doer, e a grade não cedeu.
"Que porra!" Ele xingou. Daisy continuava comendo sentada no tronco, uma expressão satisfeita no rosto.
"Qual o objetivo disso, Daisy? Só está fazendo eu ficar com raiva de você!"
Ele se sentou no chão, o mais longe dela que conseguiu. Era uma jaula muito grande.
"Eu não arquitetei isso, eles me sedaram e me colocaram aqui, não pedi para fazerem isso." Ela mordeu um morango grande, o suco escorreu pela sua boca, ela lambeu os lábios. Florest acompanhou o movimento da língua dela.
"Quer dizer que você não tem parte nenhuma nessa armadilha? Não foi você que os obrigou a me enganar e me atrair para cá?" Ele riu. Ela tinha de ser muito ingênua para achar que Florest acreditaria nela.
"E como eu os obrigaria a te enganarem? Por que eles fariam isso? Logo você que todo mundo sabe que não tem senso de humor? Por que acha que arriscariam ter a cara quebrada por você? E por que eu iria querer ficar presa com você me dizendo todas essas grosserias?" Ela o olhou com os olhos frios. Florest resistiu a olhar para o chão, travou seu olhar no dela.
Mas ela tinha um ponto. O que ela ganharia ficando presa com ele, se ele já tinha dito várias vezes a ela para parar de perseguí-lo?
Ela achou copos na cesta, encheu de café e estendeu um copo para ele. Ele tomou um gole e depois tomou todo o café do copo de uma vez, estava delicioso.
"Tudo bem, eu sei porque fizeram isso." Ela disse enquanto chupava uma manga. Florest esperou pacientemente ela contar.
"Eles estão fazendo festinhas regadas a prostitutas no zoológico e eu descobri. Nos colocaram aqui para que eu não conte pro papai, pois se eu contar, eles vão dizer que eu os obriguei a fazer isso." Ela gesticulou com o dedo envolvendo a jaula.
"Vão dizer que eu os coagi a me trancarem com você nessa jaula. E devem ter algo contra você também, não fariam isso, se você pudesse contar para o papai."
Florest pensou no que ela disse. Fazia sentido, pois se sua mãe soubesse que ele tencionava examinar o sangue de Hush após lhe injetarem a droga de regeneração, ele seria expulso do hospital, sua mãe só o aceitou lá quando ele afirmou que não iria se envolver com as drogas.
"Droga!" Ela assentiu e comeu o resto dos morangos.
"Ei, eu não comi nenhum morango, você comeu tudo!" Ela sorriu, seus lábios mais vermelhos devido aos morangos.
"Não comeu por que não quis, eles estavam aí." Ela disse e ele acabou sorrindo.
E conversaram durante o resto da manhã e o princípio da tarde. Ela contou que adorava bebês espécie, que seu afilhado, o Tempest, estava demonstrando uma aptidão incrível para a matemática, que ela odiava química e que não gostava de cozinhar.
Florest também falou da dificuldade e da solidão que sentiu na faculdade, ainda que ele tenha ido apenas nas semanas de provas, falou das traquinagens de seu pai, Harley e Moon, falou sobre o orgulho que tinha de sua mãe, e do quando ela era esperta e linha dura.
E ela falou de Violet. Florest tentou não parecer interessado demais e acabou dizendo.
"Eu meio que nunca conversei com ela, acho ela calada demais, muito tímida." Daisy praticamente arreganhou os dentes para ele.
"Você não a conhece! Vi é a melhor irmã do mundo, ela não é tímida, se nunca conversou com você deve ser por não ter nada pra te dizer. Nem todo mundo acha você o máximo."
Florest riu, Daisy era arrogante, cheia de si e sabia usar sua beleza como ninguém. Ele quase lamentou o dia em que teve o corpo de Violet debaixo do dele. Quase. Daisy não era a cabeça de vento que ele imaginava, mas Violet era misteriosa, intrigante e inteligente. E parecia que ele ainda podia sentir o contorno dos seios dela esmagados contra seu peito.
Eles comeram e beberam tudo o que havia na cesta e a tarde caiu. Do nada, a jaula se abriu com um clique.
"O que é isso?" Ele olhou para ela.
"Fechadura eletrônica. Eles devem ter programado para abrir agora. Assim, não precisam enfrentar você, embora eu ache que eles te dariam uma surra, Honest, e estou falando do verdadeiro Honest, luta sujo, e Candid é muito forte. Ninguém repara nisso, mas ele se exercita muito."
Ela pegou a cesta e caminhou para fora da jaula.
"Foi bom mostrar a você que eu não sou uma filhote mimada e perseguidora. Eu espero acasalar com você, mas isso ainda vai demorar e é claro que talvez você se vincule com outra fêmea nesse meio tempo, mas tenho esperança de que não." Ela se voltou agilmente e puxou a cabeça dele pelos cabelos e o beijou. Não foi um beijo de língua, ele se recuperou rápido e a afastou, mas ele sentiu os lábios cheios dela contra os dele e foi bom, ele não podia negar isso. Ela saiu andando, rebolando até que já longe ela correu e logo estava longe, fora de vista.
Florest suspirou. Seu pai dizia que deviam ter amarrado Valiant numa árvore e arrancado as bolas dele depois que Noble nasceu e às vezes, Florest ria e concordava com ele, agora, não estava tão certo disso.

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