'Os leãozinhos tem um plano'. Há dois dias atrás, Jocelyn ouviu Leo dizer isso, sair da administração e não voltar mais.
Dois dias em que ela ficou sem ter o que fazer, proibida de sair. Hush lhe fez companhia e de tempos em tempos, um dos 'leãozinhos' aparecia fazendo algumas perguntas. Jocelyn respondia e implorava saber detalhes do tal plano deles, mas eles não diziam nada.
Ela andava pelas jaulas observando o tamanho e cada animal que as habitava. Todos resgatados. Cavalos, pôneis, leões e leoas, uma inclusive estava prenha e logo o público poderia vir escolher um filhote para apadrinhar. Nas jaulas haviam enormes cartazes com o nome do animal, história de resgate, origem, data de nascimento e uma foto e o nome do padrinho. Algumas não haviam foto, só o nome. Era o caso do cavalo Flash, cujo padrinho era John. Seria o John que Jonathan seguiu? John era um nome muito comum.
"Ele é bonito, não é?" Ela se virou e quase abriu a boca ao ver o próprio John ali. Altura mediana, forte, cabelos negros e lisos e olhos castanhos muito claros, da cor de uísque.
"Sim. Ele é. Sou Jocelyn e você nem imagina o prazer que é te conhecer. Eu li os livros de Hush."
Ele sorriu. Seus olhos eram inteligentes e estavam um pouquinho alertas.
"Não é difícil desenhar o que Flora imagina, ela que é a responsável pelos livros ficarem bons. Bom, pelo menos eu os considero bons, mas eu devo ser o maior fã dela." Ele disse, um certo brilho de orgulho pairava nos olhos claros.
"Oi." Jocelyn se virou e uma linda menininha vinha puxando um pônei pelas rédeas.
"Você chegou primeiro." Ela sorriu para ele.
"É. Vamos?" Ele abriu a baia e eles saíram puxando os cavalos apenas pelo freio de boca.
"Não vão selá-los?" Jocelyn perguntou.
"Não, hoje só iremos levá-los para passear. Gostamos de andar com eles por aí." Jocelyn acenou e eles se foram.
"John tem tanta sorte. Seu pau nem deve ter crescido direito e ele já tem duas bucetinhas doidas por ele." Candid apareceu, cruzou os braços e disse. Ele não parecia estar falando com ela, mas era muito desrespeito.
"Desculpe?" Ela colocou as mãos na cintura. O olhar que recebeu de volta estava cheio de desdém.
"Eu pensei alto, Lynn. Foi mal." Deus! Ele a chamou de Lynn como se a lembrasse que ela se passou por prostituta. Ela nunca imaginou que iria sentir raiva de um adolescente, mas aquele ali estava tentando-a.
"Candid. O que a mamãe diria se eu contasse o que você acabou de dizer a uma convidada de Leo? E a propósito, sou Violet." Uma linda mocinha ruiva, de vivos olhos azuis se aproximou.
"Acho que nada, uma vez que você teria de explicar uma certa saída de madrugada." Ele sorriu para a irmã.
Ela suspirou.
"Já conhece o canguru?" Ela perguntou a Jocelyn.
"Não. Eu adoraria conhecer!" Elas se afastaram.
"Não é pessoal. O mês deles está virando e eles adoram colocar um ao outro em maus lençóis."
"Como assim?" Jocelyn perguntou. Ela piscou.
"Por favor, apenas tenha em mente que não é pessoal e que meu irmão não é um filhote nojento." Ela disse.
"Tudo bem. Eu esperava que me tratassem pior. Hush é um fofo, seus irmãos, os gêmeos, são educados e até conversei um pouco com John e Flora.
"Eu adoro eles. Já leu algum livro deles? Se conheceu Hush, com certeza ele deve ter te mostrado." Ah, sim, ele mostrou.
"Sim. Ele trata aqueles livros como presentes valiosos." Ela sorriu.
"E são. Você não é daqui, é?"
"Flórida."
"Ah. Uma vez, meu irmão Simple fez uma propaganda de um livro deles. Um livro que fizeram para os trigêmeos. Ele gravou John e Flora conversando sobre a história, sobre o processo criativo, sem eles saberem e jogou na internet. O livro foi leiloado e alcançou incríveis vinte mil dólares." Ela disse e sorriu.
"Não acredito!" Jocelyn não acreditava mesmo! Era muito dinheiro.
"Acredite. Minha irmã descobriu e contou tudo pra mamãe. Mamãe e papai os fizeram devolver o dinheiro para o humano que comprou, ele devolveu o livro e implorou um outro para John e Flora. Ele ofereceu mais dinheiro, era um grande admirador dos Novas Espécies."
"John e Flora fizeram um livro para ele?" Ela sorriu, os olhos brilharam.
"Sim. E de graça. Os dois são os amigos mais bondosos que eu conheço, eu e Flora somos boas amigas."
"Ela é bem mais nova que você, não é?" Violet tinha quase a altura de Jocelyn, e já era uma mulher feita.
"Não muito. Ela cinco tem anos e meio. Eu tenho sete." Jocelyn se admirou. Flora parecia uma menina de uns dez anos e Violet de uns quinze.
"Você sabe de meu filho com Leo?" Ela perguntou.
"É claro." Elas se sentaram, o sol estava forte. A jaula ainda estava distante.
"Ele tem o mesmo problema que vocês. Muito grande, forte e muito novo." Ela suspirou. Estava com muita saudade dele.
"Nós não vemos como um problema. É assim que as coisas são, não podemos fazer nada, só nos adaptar."
"Eu o criei como criança. Até o ensino dele eu 'atrasei'." Ela fez aspas com as mãos.
"Eu monitoro tudo o que ele vê na tv, brinco com ele, leio livros infantis para ele, tudo na esperança de proporcionar uma infância memorável, para que ele aproveite bem seu tempo de criança."
"Alguns pais aqui fazem isso também, acho que Brass é o maior adepto disso. Os filhotes dele são novos e ele sabe o que esperar. No tempo dos meus irmãos mais velhos, era tudo novo, ninguém sabia como criar um filhote Nova Espécie. Então, assim que começavam a andar, com uns dois meses, papai os colocava nas costas e iam caçar."
Jocelyn se sentiu tonta. Uma criança de dois meses caçando?
Violet riu.
"Meus irmãos não caçavam, eles observavam. Só podiam correr atrás de coelhos ou esquilos."
"Mesmo assim, é difícil de imaginar." Era impossível!
"Havia um casal aqui, eles viveram por um tempo no hotel, mas a fêmea tinha um doença, uma fobia, não sei. Eles se mudaram para uma área distante e os filhotes deles comiam coelhos crus."
"Não." Jocelyn balançou a cabeça com força.
Violet se dobrou de rir.
"Estou brincando, embora, o tal macho e papai meio que competiam entre si. A companheira dele, porém conseguiu ficar em quatro filhotes. Ela quase morreu no parto do último, então ela teve apenas quatro. Sempre que se encontram, meu pai pergunta como vão os quatro filhotes dele, e diz que seus dez filhotes estão muito bem." Ela sorriu. Jocelyn estava encantada com ela.
"Acho que vou conhecer o canguru outro dia. Está na hora do almoço."
Ela sorriu ainda mais e convidou:
"Quer almoçar na minha casa? Minha mãe adora visitas." Jocelyn estava mesmo querendo andar um pouco pela Reserva, então concordou.
Na administração, Violet ligou para casa dizendo que precisava de um jipe e elas esperavam o jipe na entrada quando Jocelyn quase caiu para trás ao ver quem dirigia o jipe que veio buscá-las.
"Jo, esse é o meu irmão Pride. Pride, essa é Jocelyn, mãe do filhote de Leo."
Jocelyn não soube o que dizer.
"Oi, prazer em conhecê-la. Segundo meu irmão, Candid, você está aqui para escrever uma reportagem a meu respeito. Depois do almoço, podemos conversar." Ele disse e sorriu.
Jocelyn, é claro, não estava preparada para se deparar com um homem tão bonito e amável, ela abriu e fechou a boca algumas vezes, como se fosse um peixe fora da água.
"Esse é um novo costume humano, o macho estende a mão e a fêmea fica de boca aberta, sem apertar a mão do macho?" Leo perguntou. Jocelyn fechou a boca com força e o olhou com raiva ao vê-lo entrar no jipe também. Ela apertou a mão de Pride.
Violet se sentou atrás depois de dar um beijo no rosto de Leo. Ele fechou os olhos demonstrando imenso carinho pela menina. Jocelyn subiu e se sentou no banco do passageiro.
Pride manobrava quando Candid passou por eles.
"Você pode vir aqui, ainda há espaço, Honest." Pride parou o jipe. Candid, ou Honest, no entanto balançou a cabeça e correu. Jocelyn estranhou Pride confundir seus irmãos, mas não disse nada.
Eles fizeram o trageto com Violet contando uma história sobre uma tal de Jewel que segundo ela não gostava de ninguém e que agora, aceitava que Violet a carregasse. Jocelyn entendeu, então de que se tratava de um novo bebê espécie.
"Sempre que eu chego perto dela, ela faz beicinho e meus ouvidos se preparam." Leo comentou.
"Ela gosta de Lily." Pride comentou. Jocelyn achou a voz dele muito diferente da voz dos outros. Era uma voz aguda, mas agradável, ele falava meio cantado, bem diferente da voz grave e baixa da maioria dos homens Nova Espécie.
"Lily cantou para ela. Ninguém resiste ao canto de Lily." Violet disse encerrando a questão. Jocelyn, é claro evocou em sua mente o rostinho bonito de Lily.
"Daisy, porém, ficou possessa. Eu já disse milhares de vezes para ela parar de competir comigo. Há coisas em que eu sou melhor e outras em que ela é melhor, e ponto. O que acha tio?" Ela perguntou a Leo. Jocelyn prendeu a respiração.
"Acho que a culpa não é dela, querida. A culpa é dos machos que estão sempre colocando seus filhotes para competir. Esse clima de competição e apostas contagia a todos. Eu não concordo com isso. Daisy é inquieta e precoce demais, e ela te ama e sabe a fêmea extraordinária que você é, então, ela se sente na obrigação de te superar, não por maldade, mas por medo de ser menos." Jocelyn nunca viu Leo falar tanto. E quase derreteu no banco, por ele ser tão sábio.
"Eu também a amo, sabe. Ela é corajosa! Eu sou meio medrosa." Ela encostou a cabeça no ombro dele e fechou os olhos. Era uma visão bonita.
A casa deles apareceu, majestosa e moderna com uma ampla fachada de vidros. Jocelyn se admirou.
"Esperava algo feito de troncos?" Ele zombou e entrou atrás de Violet. Pride galantemente a esperou entrar.
A sala era enorme, com sofás e cadeiras confortáveis
espalhados ao redor de uma grande mesinha de café. Uma mulher pequena de longos cabelos escuros, pele clara e bonitos olhos azuis se levantou e se aproximou de Jocelyn.
"Oi, querida. Sou Tammy e esse é Valiant. Estamos contentes por você vir almoçar conosco." Ela enganchou o braço no de Jocelyn e chamou todos para a sala de jantar, outro cômodo enorme onde uma mesa imensa ocupava o centro. Jocelyn sentia os olhos de Leo queimando suas costas enquanto andava até uma das inúmeras cadeiras que rodeavam a mesa. Ela se sentou e logo ficou entre Violet e outra moça muito parecida com ela, que deveria ser a famosa irmã gêmea.
Leo observava cada movimento dela com olhos frios, mas ainda assim, ela se sentia aquecer com aqueles olhos verdes intensos fixos nela.
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LEO
FanfictionLeo sempre odiou os humanos. Tanto que viver na Reserva, bem na Zona Selvagem o fazia feliz, exatamente por não haver humanos ali. Ele tinha tudo o que precisava: amigos, trabalho duro e uma paisagem linda. Até o dia em que encontrou uma linda human...