CAPÍTULO 30

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Jocelyn beijou a testa de seu pai e saiu do quarto. Sua mãe dormia no outro, a poder de remédios, claro, e ainda não tinha acordado.
O pesadelo parecia não ter fim. Ela abriu a janela e inspirou o ar da Flórida, o ar que sempre a ajudava a limpar sua mente.
"Nunca pensei que pudesse ter pensamentos suicidas, querida." Andrew disse, lhe estendendo uma cerveja.
"E não tenho. Não facilitaria as coisas pra você assim, Andrew." A garrafa estava esbranquiçada, devia estar bem gelada, mas ela recusou.
"Acha que eu colocaria alguma coisa numa garrafa fechada?" Ele abriu a garrafa, tomou um gole e sorriu enquanto estendia para ela. Jocelyn pegou e bebeu. O líquido gelado fez cócegas na sua garganta. Ela segurou um suspiro. Estava exatamente do jeito que ela gostava.
"O que pretende? Seus brutamontes espancaram o meu pai e assustaram minha mãe até a morte e agora estou aqui. O que quer? Hunter vai entrar na justiça. Você é um conhecido reitor de uma universidade famosa, quer mesmo que tudo o que construiu venha abaixo?" Ela estava possessa, mas manteria a calma. Andrew era mais forte que ela, não devia fazer nenhuma besteira. Ela deixou Jonathan na casa de Andrew e eles saíram, ele mentiu dizendo que seus pais estavam num hospital. Agora ela estava separada de Jonathan.
" Brutamontes? Que brutamontes, querida? Seu pai foi espancado por bandidos, sua mãe está muito assustada. Você veio se encontrar comigo, para conversarmos sobre a guarda de Jonathan. Saiu do aeroporto num táxi e foi deixada na porta do meu condomínio. Como pôde me acusar de uma coisa dessas? Eu, o marido apaixonado que viu a esposa expor o caso com um Nova Espécie numa revista, a aceitou assim mesmo e criou o filho desse Nova Espécie como se fosse meu?"
Jocelyn lhe deu as costas. Era impossível olhá-lo e não jogar a garrafa em suas mãos na cara nojenta dele.
"Então, é isso? Vai nos matar? A mim, a Jonathan, aos meus pais?" Ela precisava que ele dissesse.
"Não. Eu amo, você, amo Jonathan. De onde você tirou que eu faria isso? Eu quero que conversemos, só isso."
Jocelyn se sentou. Noah. É claro que ele saberia do plano dela. Andrew veio por trás e puxou o fio que seu amigo policial, tinha instalado em suas costas. Ele sorriu e tirou todo o equipamento.
"Vamos conversar, meu bem. Estou disposto a ver Jonathan apenas uma vez por mês, se você permitir. Vocês voltam para a Reserva, eu sei que mulheres não resistem àqueles..., Bom deve ter alguma coisa neles que atraem as mulheres e viram a cabeça delas. Eu entendo que você queira ficar com ele, mas eu amo Jonathan como se fosse meu filho. Me deixe passar uns dias com ele, depois vocês vão embora.Pense nisso." Ele disse, beijou o rosto dela e saiu do apartamento.
Jocelyn se rendeu às lágrimas. Que porra! Ela procurou seu amigo na delegacia, ela explicou o caso, ele custou acreditar e concordar com Jocelyn e pedir uma autorização de escuta. Tudo para Andrew a frustrar e ainda criar provas de que era um bom pai. Quando eles chegaram na casa dele, Andrew deu um show como um pai preocupado que estava com saudade de seu filhinho.
O celular descartável tocou, ela tinha de atender ainda que não quisesse.
"Que merda foi essa, Jo?" Cameron estava puto e com razão.
"Fica difícil acreditar em você! Seu pai não deu entrada num hospital, não há provas de que foram agredidos. E não há nada que o ligue a seus pais! E você ainda é mãe de um Nova Espécie que foi criado longe deles! Não posso te ajudar, querida, eu já estou me arriscando, eu ainda não consegui a autorização pra essa escuta! Você disse que ele queria matar você e ficar com seu filho. Agora, tudo parece indicar que você quer que ele perca a guarda compartilhada. E ainda me colocou no meio dessa porra! Jogue esses fios fora, estou apagando tudo."
"Cameron, por favor! Ele sabia! Ele puxou os fios das minhas costas, ele sabia!" Ela ouviu Cameron respirar fundo.
"Como?" Jocelyn não sabia o que responder.
"Ele tem um vidente. Um vidente Nova Espécie. Ele é um clone de ..." Jocelyn parou de falar. Ela estava passando o recibo de que estava louca.
"Vidente? Olha só, Jocelyn, eu gostei de você por muito tempo. Você sempre me usou quando precisava, prometendo pensar na possibilidade da nossa amizade ir além, e eu sabia, eu via que de mim, você só queria o distintivo, e tudo bem. Sério. Tudo bem, eu me beneficiei da nossa parceria, você trouxe informações valiosas pra mim, eu fui promovido graças a isso. Mas vamos ficar por aqui, ok? Pelos velhos tempos, eu vou apagar a requisição de escuta e vou voltar pra minha vida e você pra sua. E ainda te desejo sorte nessa embrulhada." Ele desligou. Jocelyn ficou com o celular na orelha, a boca aberta.
Sua mãe gemeu no quarto e ela foi vê-la. Ela se sentou na cama segurando a cabeça, parecia ter envelhecido uns dez anos. Toda a culpa por deixá-los desprotegidos bateu nela, ela começou a chorar e se deitou com a cabeça no colo da mãe.
"Ei! Está tudo bem. Seu pai tem uma cabeça muito dura, querida. Vamos ficar bem." Ela acariciou o rosto de Jocelyn a fazendo se sentir um pouco menos culpada.
"Eu nunca poderia pensar que Andrew faria mal a vocês. De qualquer forma, vamos para a delegacia assim que papai acordar. Vamos prestar queixa. Cameron vai ter de acreditar quando vir o estado em que Noah o deixou." Ela se levantou.
"Não. Não vai resolver nada. Você tem de ir atrás de Jonathan."
Jocelyn se sentou de novo. Seus pais estavam com ela agora, ela tinha era de ligar para Leo.
Ela buscou seu verdadeiro celular e discou o número da Reserva. Ela saiu com tanta dor no peito que esqueceu de pedir o telefone do zoológico, ou o dele. Ela era uma idiota!
"Reserva Nova Espécie, boa tarde." Devia ser um funcionário humano, como eles falavam.
"Boa tarde. Eu sou Jocelyn, sou mãe de Jonathan, que é filho de Leo. Eu estava aí, no zoológico e tive de vir embora, mas agora eu preciso falar com o Leo, ou qualquer outro. Pode ser Slade, ou Vengeance."
"Querida, você sabe quantas mulheres ligam pra cá, todos os dias dizendo nomes de Novas Espécies, como se os conhecessem? Leo não tem filhos. Desculpe, mas não posso te ajudar."
Ele ia desligar, quando uma ideia passou pela cabeça de Jocelyn.
"Conhece os leãozinhos? Simple, Candid e Honest? Se os conhece sabe que estão de castigo e que Honest está trabalhando no Zoológico. E eu estive lá. As pessoas ligam pedindo para falar com eles? As pessoas sabem a idade deles? E, outra coisa, se você não ir perguntar para alguém, se uma humana chamada Jocelyn mãe de Jonathan esteve no zoológico, antes de desligar, vou me queixar a eles. Não para Slade. Para eles. Se você trabalha aí há algum tempo, sabe que não é bom irrita-los." Ela torceu para o medo que sentia dos leãozinhos fosse estendido para os humanos que trabalhavam lá.
"Espere um momento." Ela soltou o ar que estava prendendo.
Não demorou muito e a voz de Slade soou no telefone. Jocelyn quase caiu de joelhos de alívio.
"Jocelyn? Onde você está? Onde está Jonathan?" É claro que ele se preocuparia com Jonathan e apenas com ele. Ela era a humana sem coração que foi embora da Reserva levando o filhote de seu amigo. E por duas vezes.
"Slade! Eu preciso muito falar com Leo. Eu não tenho o número dele, eu saí daí ontem e cheguei na Flórida de madrugada. Eu estou no apartamento dos meus pais. Eu preciso de ajuda, Jonathan está na casa de Andrew. Ele..." Ela não sabia mais o que dizer.
"Calma. Primeiro, eu nem sabia que você e Jonathan tinham saído daqui, pois parece que eu não sou a porra do diretor da merda desse lugar. Segundo, não ameace meus funcionários, eles se borram de medo daqueles pestinhas, nem quero saber porque. Terceiro, um helicóptero saiu daqui na madrugada, ninguém me disse para onde estavam indo e nem quem estava a bordo."
"Então, você não pode me ajudar?" Ela voltou a ficar nervosa. Iriam atacar a casa de Andrew e tirar Jonathan de lá? Meu Deus! Eles não seriam loucos a esse ponto! Slade rosnou.
"É claro que não! Eu só sou a autoridade dessa porra para os civilizados, os que entendem e presam pela hierarquia, os selvagens, como Leo e companhia, não me respeitam. Eu vou atrás de Vengeance. Se ele está envolvido nisso, a bunda dele é minha. Se souber de alguma coisa, eu te ligo." E desligou na cara dela. Ele estava possesso.
"E agora?" Sua mãe perguntou, vendo a indecisão no rosto de Jocelyn.
"Eu vou ligar de novo, ele nem me deixou falar, o idiota!" Jocelyn discou de novo.
"Reserva Nova Espécie, boa tarde." Ela suspirou. Pelo menos era o mesmo atendente.
"Oi, sou eu, Jocelyn de novo. Eu preciso falar com Slade de novo. Ele praticamente desligou na minha cara."
"Ele saiu. Correndo. Não posso fornecer seu número para você. Posso ligar para ele e pedir que te retorne."
"Mas que porra! Eu preciso de proteção, eu preciso falar com algum deles para protegerem meus pais!" Jocelyn estava a ponto de bater a cabeça na parede. Como ela foi tão burra a ponto de deixar Slade desligar?
"Olha, moça, sei que você é amiga de Simple e tal, mas isso não te dá o direito de falar assim comigo." Ela ia pedir desculpas, quando outra voz atendeu.
"Oi, sou Moon, posso ajudar?"
"Moon, graças a Deus! Esse atendente não entende que eu preciso muito falar com Slade e..."
"Eu também. Vim aqui procurá-lo. Mas é só com ele?"
"Não sei! Eu não sei! Estou desesperada, Moon! Jonathan está com Andrew! Não consigo falar com Leo. Eu fui uma idiota, eu saí daí tentando resolver as coisas, mas agora, parece que tudo está dando errado, meu pai está machucado. Eu preciso que venham me ajudar!" Ela disse. Nunca se sentiu tão desesperada. O sentimento de culpa era o maior, doía demais saber que saiu da Reserva para socorrer os pais e que para socorrer os pais deixou Jonathan nas mãos de Andrew.
"Calma. Estamos longe daí, querida. Eu vou pedir uma equipe para ir te proteger e ir atrás de Jonathan, mas iremos dentro da lei. Eu conheço o xerife, ele pode fazer contato em nosso nome com a polícia daí e talvez até mandar um policial no endereço de... Como é o nome dele?" Jocelyn escutou ele mexer em algumas folhas de papel, devia estar pegando uma caneta.
"Andrew Hoffman." Ela deu o endereço.
"Acho que o máximo que vão fazer é checar se ele está lá e se está bem."
"Já é alguma coisa, Moon. Slade disse que um helicóptero saiu daí, eles podem estar vindo pra cá?"
"Provavelmente. Me deixaram fora da diversão." Ele pareceu sorrir.
"Você tem o número de Leo, ou de algum dos leãozinhos?"
"Você também os chama assim? Eu não morro de amores por eles, por causa da minha filhote. Mas tenho, de Simple. Tem como anotar?" Jocelyn finalmente sentiu alguma esperança. Os leãozinhos estavam nisso. Eles conseguiram tirar Jonathan da casa de Andrew uma vez, tinham que conseguir de novo!
Ela discou o número e esperou. Cada sinal de chamada soava por todo seu corpo.
"Oi." Ela se assustou, estava no limite de suas forças.
"Simple? Simple, graças a Deus! Simple, Jonathan..."
"Calma, alguém está indo para o apartamento de seus pais, vamos levar você e eles de volta a Reserva."
"Não. Eu não vou. Aceito levarem meus pais, mas eu vou ficar, eu preciso ficar com Jonathan, eu não saio desse estado sem ele."
"Que seja, desde que não atrapalhe. Alguém está indo." Ele desligou. Jocelyn respirou fundo. Era isso. Agora só podia rezar e esperar.

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