CAPÍTULO 14

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Romulus examinou o conteúdo da placa mais uma vez. Droga!
E os pensamentos dos seus irmãos subindo a colina não ajudavam.
Quer dizer... Não eram seus irmãos.
Romulus foi criado sem carinho, mas também sem sofrimentos, sem testes, sem drogas experimentais, ele apenas existia, afinal sua capacidade psíquica era algo extraordinário, segundo o velho Bishop. Ele morreu quando Romulus tinha cinco anos e Dean preocupado em pagar as dividas, e em alimenta-los, se jogou de cabeça no hospital em que trabalhava, sem ter tempo de estudar ou ler o material que o velho tinha deixado. Romulus foi criado como uma criança normal, a casa velha em que moravam ficava numa área de poucas casas e ele passava seus dias lendo ou na companhia de Mônica. Já Mônica tinha sofrido todo o tipo de abuso por parte do velho, ela era um pouco mais velha que ele e Peter. Ela tinha fobia de multidões, era calada e muito agressiva. Romulus estava feliz por ela estar fazendo amigos no hospital de Homeland. A doutora Alli se esforçou para se aproximar dela, algo pelo qual, Romulus era muito grato.
A última vez que eles se falaram, Mônica estava dividida entre dar um patinete ou um jogo eletrônico de presente para o filho dela. Ela tinha diminuído a espessura das sobrancelhas e tinha tirado o aparelho dos dentes que deformava seu rosto. Segundo ela não devia ter feito isso, pois agora, vários homens Novas Espécies perguntavam se ela queria compartilhar sexo.
Peace bateu na porta com força e ele suspirou. Fazer seu pai, Vengeance, ir embora não foi fácil. Agora tinha de lidar com os ir... Com os filhos de Vengeance.
Ele apertou o botão e eles entraram. Peter, é claro como se fosse dono do lugar, Harrison o fitando intensamente e Peace começou a correr por toda a cabana.
"Que cheiro é esse Rom?" Peace foi logo perguntando.
"Cheiro do que perdedores fazem quando estão sozinhos. Você ainda é pequeno pra entender." Peter disse.
Peace correu para a cozinha e começou a mexer nas coisas.
"Viemos te buscar." Harrison disse.
É claro que vieram. Eles não entendiam. Nem ele entendia direito todas as implicações de ser um clone, mas sabia que não deveria esperar que eles entendessem.
"O que está tentando fazer?" Peter pegou um frasco e colocou contra a luz. Quando viu o que era fez cara de nojo.
"Os... Nadadores. Não morrem?"
"Nadadores? Deixa eu ver!" Peace deu um salto arrancou o frasco da mão de Peter e correu.
"Só tem um líquido fedorento aqui, credo!" Antes que Romulus pudesse pegar ele jogou o frasco no chão. O cheiro que subiu do meio dos cacos de vidro realmente não era nada bom.
Não era fácil se masturbar quando se passava por uma crise de identidade. Droga!
"Por que o trouxeram?" Romulus perguntou. O pestinha em questão sorriu ficando tão parecido com Vengeance que o coração de Romulus doeu.
"Eu ouvi quando Harrison atendeu ao telefonema de Peter." Harrison fechou a cara.
Peace e Beauty o encantaram desde que nasceram. Romulus ficava horas amamentando Peace, pois ele era um bebê super guloso. E dar banho nele era uma tarefa digna de Hércules.
Parecendo adivinhar o rumo dos pensamentos de Romulus o estômago de Peace roncou.
"Tem comida aqui?" Romulus se lembrou então de que desde que se enfiou naquela cabana fria, não tinha comido nada.
"Sinto muito, Peace, mas não tem." Seu estômago roncou alto também.
"Quer voltar a ser o fracote que era antes de vir pra cá?" Peter perguntou. Ele discou um número no celular e saiu conversando com alguém.
"Quer descobrir como você foi feito?" Harrison perguntou. Ele sempre sabia das coisas.
"Eu passei a infância lendo as anotações do velho Bishop. O desgraçado era tão inteligente que não anotava tudo, sempre deixava uma lacuna, principalmente nas fórmulas. Mas havia coisas que ele anotava integralmente, e uma delas foi que ele e um tal de Anderson tinham produzido clones. Clones que morreram antes de completarem um ano. Havia uma variedades de datas, algumas com um coração na frente, outras com uma cruz. E nesse emaranhado havia a minha data de nascimento, Harry, seguida de um coração e à frente, outra data, seguida de uma cruz. Para daqui a cinco anos." Ele se levantou e parou no meio da sala/laboratório e fechou as mãos em punhos.
Harrison começou a revirar os frascos, e até jogou o microscópio no chão. Estava desesperado para desenhar.
"Não, Harry, não desenhe nada, por favor." Romulus o abraçou apertado, Harrison começou espernear. E ele era forte. É claro, forte como seu pai.
Peter entrou no meio, tentando tirar Harrison dos braços dele
"Deixe, Rom. Deixe, ele precisa!" Peter era muito forte, mas Romulus não podia deixar Harrison confirmar.
"Eu ajudo quem?" Peace perguntou, mas ainda falava quando deu um pontapé na canela de Peter. Deve ter doído, pois Peter rosnou.
"Chute Rom, seu pirralho!" Peter ordenou e Peace deu um chute potente na canela de Romulus.
"Mas não viemos buscá-lo?" Ele disse e deu outro chute em Romulus. Doeu.
"Por favor, Harrison, eu te imploro, não desenhe!" Romulus soltou Harrison e aproveitou para dar um soco bem na cara de Peter.
Peter, é lógico, sorriu, cuspiu o sangue e revidou. Foi como se uma parede caísse bem sobre a cara de Romulus. Peter era mais forte, ele sabia disso, mas nunca imaginou que fosse tão forte. Exatamente como Vengeance, como o pai incrível que ele agradecia a Deus todas as noites por tê-lo em sua vida. Agora não havia pai, nem mãe, nada. Só a escuridão.

O vale de Mariah. Era estranho nunca ter estado ali, e saber que a direita havia uma cachoeira e a esquerda ficava a árvore pequena que Blue, na forma de um gato selvagem, gostava de subir e dormir em seus galhos. Ele estava lá, a propósito. Só o olhou desinteressado e se virou no galho.
Romulus andou e chegou até o lago. Não fazia muito sentido ter um lago ali, mas o mundo de sonhos de sua fami...
Ele suspirou. Não era a sua família, ele não tinha família.
"E eu que pensei que o dramático era Peter." Livie disse o abraçando por trás.
"Eu também, mas acabei descobrindo que na verdade, ele é o que soca tão forte que te manda pra outro mundo."
Ela o soltou, pegou nas mãos dele e foi descendo o corpo até estarem de joelhos, um na frente do outro. Ela se sentou sobre os pés.
"Você cresceu." Ela sorriu, estava mais parecida com Grace e Mariah.
"Como puderam pensar que Ann era a sua mãe? Você é igualzinha a Mariah."
"Acho que é por que vemos apenas aquilo que queremos ver." Ela disse e ele entendeu que ela estava falando dele.
"Eu sei que sou amado, Livie. Papai... Vengeance, ele continua me olhando do mesmo jeito e sei que mamãe está sofrendo." Ele não a chamaria de Marianne. Se fizesse, seu coração se partiria.
"Qual é o problema, então?" Ela o mirou com os incríveis olhos verdes claros e ele suspirou.
"Eu li algumas anotações do velho Bishop, eu vivia procurando coisas para ler, e na casa de Dean não tinha muita coisa. Eu li as anotações, mas era muito pequeno pra entender, depois que cresci não pensei mais nelas, as deixei no fundo da mente. Mas quando soube que eu... Bom, que eu sou um clone, eu me concentrei e reli tudo de novo, devagar página por página e numa maldita página estava a confirmação de que eu sou um clone. E que tenho data de validade."
Ela ficou séria, muito séria.
"Dean, o filho, não pode reverter? Ou, pelo menos, estudar a sua fisiologia? Ou fazer alguma coisa?"
"Eu não liguei pra ele. Ele vai surtar quando souber. Irão crescer fios de cabelo na cabeça dele só pra ele os arrancar."
"Como esses fios cresceriam?" Ela perguntou e eles riram.
"Talvez ele poderia fazer um implante. Imagina, ele chega na clínica e pede: 'Moça, preciso urgente de um pouco de cabelo, um pouco bem no meio da minha careca, por favor. Que cresça na próxima meia hora, de preferência.' Ela o olha e ele pergunta: ' O quê? Ninguém nunca veio aqui e pediu cabelos apenas para os arrancar de raiva? Sério?'"
Romulus riu muito da imitação dela de Dean. Essa era Livie, sua irmãzinha, sua melhor amiga.
"Eu te amo, sabia?" Ele tocou na bochecha dela."
"E eu tenho fé em você. Sempre tive e sempre terei. Vamos envelhecer juntos, Pride vai ter muito ciúme de você." Ela sorriu triste. Ela e Pride ainda tinham coisas para acertar.
"E eu vou ser a pior cunhada que se pode ser." Ela completou.
"Pior que Grace?"
"Grace se apaixona por todo mundo! A talzinha que se envolver com você só vai precisar sorrir para ela e ela já vai querer reservar a igreja que vocês se casarão. Eu vou ser mais difícil de conquistar."
"Eu ouvi isso." Grace apareceu e o abraçou.
"Vocês estão fazendo a tentativa de me fazer voltar pra casa dos rapazes parecer algo muito pobre, coitados."
"O que podemos dizer? Somos melhores que vocês." Grace deu de ombros, ela ainda estava o abraçando.
"Ei! É assim que quer me fazer sentir como da família?"
"Exatamente. Eu te amo, Rom." Grace disse.
"Eu talvez tenha de ir ficar com Dean." Ele disse.
"É. Mas antes vamos fazer um grande jantar, para que você saiba o quanto te amamos." Grace disse.
"Eu queria tanto participar!" Livie disse.
"Haverão outros jantares, irmã. Eu adoro organizar jantares. Podemos fazer um jantar especial a cada semana quando você voltar. Eu estou com saudade."
"Quando eu voltar..." Romulus viu o medo nos olhos claros e se lembrou que o problema de Livie era bem mais complicado que o dele.
"Vai dar tudo certo! Eu juro!" Grace a abraçou e Romulus abraçou as duas. Ele fechou os olhos com força.

Quando os abriu estava em casa. No sofá e sua mãe o olhava com olhos marejados.
"De onde você tirou essa idéia de que não é o mais o meu filho? Que diferença faz se você foi misturado num tubo de ensaio, ou se foi um embrião congelado? Nenhuma!" Ela o abraçou forte.
Romulus deixou toda a incerteza sobre seu futuro se escoar dele e colou sua testa na dela.
"Eu te amo, mamãe." Ela sorriu.
"E eu, você ama também?" Beauty perguntou se sentando no colo dele, se enfiando entre ele e a mãe deles.
"É claro, irmãzinha. Eu te amo demais!"

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