Leo ouviu um barulho a suas costas, mas não se virou, pelo contrário, ele suspirou.
Candid. Mas Leo apostava que ele estava vestindo vermelho.
"Castigo? De novo? Eu preciso dizer ao seu pai que quem acaba sendo castigado com esses castigos dele, somos eu, Thorment e Destiny. O que foi dessa vez?"
"Prostitutas. E é mamãe quem está nos castigando, então terá de reclamar com ela."
"Deus me livre. Bom, já que está aqui, vá dar água aos animais." Ele assentiu e saiu.
Leo observou o leãozinho, como Vengeance o chamava e deu de ombros. Mandá-lo trabalhar no zoológico não era um castigo. Novas Espécies se compraziam no trabalho duro. Candid recolheu feno, limpou baias, alimentou animais, tudo sem reclamar e com um sorriso no rosto.
No almoço, ele dizimou uma bacia de carne, tomou dois litros de refrigerante e voltou alegremente ao trabalho.
Ele só parou quando já estava totalmente escuro e Leo o chamou para jantar.
"Sabe, eu posso acabar me acostumando com você aqui." Leo disse.
"Não será por muito tempo. Somos inquietos, essa tranquilidade daqui vai acabar me entediando."
"Mas não é sua mãe que decide quando o castigo acaba?" Leo ergueu uma sobrancelha.
"Sim, mas me dê uma semana e se ela não vier aqui me buscar, eu te dou cem dólares. Da outra vez, meu pai chegou a dormir no sofá duas noites."
"Onde uma criança como você arrumaria cem dólares?" Ele sorriu, malandro, e não respondeu.
"Você se ofende quando lhe chamam de criança? Seu irmão James não gostava." Leo tinha muita curiosidade acerca deles, afinal, esse rodízio de personalidade que eles faziam era quase perfeito.
Candid balançou a cabeça, dizendo que não.
"Somos o que somos, Leo." Ele disse e a simples frase tinha tanto significado que Leo se calou.
Candid escolheu um dos quartos ao lado do quarto de Hush e Leo levou cobertores, lençóis e travesseiro.
"Ele ronca?" Candid indicou o quarto de Hush.
"Não. Ele não é como Silent, ele é surdo, sempre foi." Candid acenou.
Leo ia saindo, mas resolveu voltar.
"Só mais uma coisa. Você está de vermelho, e tal, mas eu não consigo chamar você de Simple, uma vez que eu sei que você é Candid."
Candid fechou a cara. Toda a amabilidade sumiu do seu rosto e seus olhos se transformaram em pedacinhos dourados de gelo.
"Então, me chame de Candid. Só não reclame quando me perguntarem por que você está me chamando pelo nome do meu irmão e eu responder que a solidão daqui está afetando sua cabeça. Por que sou Simple e nada do que você faça vai mudar isso."
"Quer conversar?" Leo viu um relance de dúvida passar pelos olhos dele, mas foi muito rápido. Ele suspirou.
"Você não entenderia, Leo. E pare de se meter nos nossos assuntos, afinal você também tem os seus."
Leo achou justo. E os assuntos dele, eram algo que ele já tinha superado a muito tempo, não iria querer mexer nisso.
E a semana se passou com ele, Candid e Hush cuidando dos animais, nadando no lago, pescando e assistindo tv em meio a uma montanha de pipoca, até que, como Candid disse, Tammy apareceu para buscar seu filhote. Ela o abraçou apertado e implorou para ele votar pra casa, coisa que o leãozinho não quis. Tammy tentou convencê-lo, mas devido a firmeza dele em ficar ali, ela desistiu.
"Só mais uma semana, estou me divertindo aqui, mamãe." Candid disse.
"Quando o mandamos pra cá, era pra dar trabalho a ele, Leo, não fazer parecer que ele estava num acampamento."
"Ele tem trabalhado, Tammy, duro. Mas eu não posso amarrá-lo no pé da cama e só soltá-lo na hora de trabalhar." Leo gostava dela, pelo menos o mínimo que ele já gostou de um humano, mas não estava com paciência.
Ela ergueu o queixo. Não seria companheira de Valiant se se deixasse intimidar por qualquer um.
"Certo. Mas então dê um trabalho mais pesado pra ele." Ela não esperou Leo responder e se foi.
"Humanos!" Leo disse enquanto comia um bife.
"Ela é uma de nós, Leo. Se não consegue enxergar isso é por que ainda tem muito rancor em seu coração."
Ele elevou os olhos de seu prato e viu que o leãozinho estava todo tensionado, pronto para saltar sobre ele. Leo sorriu.
"Você parece pronto pra briga. Relaxe. Sua mãe é uma das poucas humanas que eu tolero."
"Por que os odeia tanto?"
"Sua mãe me pediu pra te dar um trabalho mais duro, vejamos... Tem um leão que está doente e precisamos aplicar isso nele. Topa?" Leo estendeu a seringa já pronta com a medicação.
"Isso!" Candid riu, pegou a seringa e saiu em disparada, Leo foi atrás mais devagar.
Ele odiava humanos! Homem ou mulher, ele odiava!
Mas não foi sempre assim, é claro.
Leo um dia acreditou que não havia diferença entre humanos e Novas Espécies, que cada um era responsável por suas escolhas, e que o bem e o mal eram escolhas. Mas ele descobriu que humanos eram seduzidos pelo mal e que apenas uns poucos tinham força suficiente para resistir a tentação do mal e optar pelo bem.
No seu caso, a humana pela qual ele se deixou apaixonar, era o próprio mal encarnado.
Leo ficou observando Candid lutar com o leão, segurando-o pelas orelhas, a seringa na boca. Esperto, poucos Novas Espécies teriam a idéia de abordar o grande felino daquela forma. Demonstrava muita força também.
Candid aplicou a seringa no pescoço do leão e o soltou.
"Disso eu gostei. Tem mais algum bicho precisando de remédio, Leo?" Ele perguntou, ofegante.
Leo riu.
"Não, mas amanhã, aquele leao precisa de mais uma dose. Agora vá alimentar as cabras."
Candid saiu correndo alegremente.
Leo ponderou o tanto que Valiant era sortudo e entendeu o porquê dele e Tammy terem tantos filhos. Essas semanas com Candid ali estavam deixando aquele lugar diferente, no lugar da solidão e silêncio, agora se ouviam risadas.
"Oi, Leo." A voz de Flora as suas costas o fez sorrir.
"Oi, querida. Veio ver Snow?" Ela sorriu.
Leo andou pelo caminho que levava as baias até que chegaram a baia do poney dela. Era um lindo poney, totalmente branco.
"Oi, Hush." Ela cumprimentou Hush que estava em outra baia tocando na barriga de uma égua prenha. Flora era uma das poucas filhotes que ia ali. Todas tinham animais ali, mas apenas Flora vinha toda semana, às vezes vinha dia sim, dia não.
Ela colou sua testa com a do poney e fechou os olhos, assim como o animal também fechou os dele. Havia uma coisa mágica nela, ela parecia se comunicar com o poney.
Leo abriu a baia, arreou o poney e ficou olhando Flora se afastar cavalgando. Leo teve um envolvimento com a mãe dela, Halfpint. Não havia amor envolvido, apenas amizade regada a muito, muito sexo. Mas então, ela foi ficar com Kit na mansão do congressista, conheceu seu jardineiro e teve Flora.
Flora, com sua pequena estatura, seus olhos castanhos cor de mel e cabelos longos, cacheados. Ela era um sonho, um milagre, pois foi concebida por acaso. E ele agradecia aos Céus toda vez que ela aparecia.
"Ela é incrível, não? Sabe, com o fato de meu tio ser vidente e Romulus ler mentes, eu não ficaria surpreso se Flora falasse com os animais, você ficaria?" Candid disse.
"Você está fedendo a leão." Leo o repreendeu. Candid riu.
"Então talvez eu deva te dar um abraço." E o abraçou apertado pelo pescoço enquanto o envolvia com as pernas. Leo se viu preso e lutou. Ficaram se engalfinhando por um tempo até que Hush apareceu com a mangueira ligada e lhes encharcou de água
"Hush!" Leo reclamou.
"Vocês estavam fedendo." Hush sinalizou.
"Oi, Simple, oi, Leo." John apareceu. Como sempre acontecia quando Flora estava ali.
"Oi, John. Veio ver o Flash?" Ele tinha um cavalo. John acenou que sim. Hush o guiou até a baia e o ajudou a montar. Logo ele e Flora cavalgavam juntos e se perdiam de vista.
Leo tirou a camisa molhada e entrou na cozinha. Candid tirou toda a roupa e ficou uns instantes debaixo da água da mangueira, entrou em seu quarto e saiu depois de vestir uma bermuda.
"Sabe, eu gosto de ficar aqui, por que podemos ficar quase nus."
"Não. Não podemos não. Vá vestir uma camiseta, Flora não demora a voltar.
"Ela e John estão... Ocupados, vão demorar." Candid observou, seus olhos tinham um quê de maldade.
"Não diga isso. Eles são crianças inocentes." Leo disse, mas sem convicção. John já ostentavam um corpo adolescente e Flora, ainda que bem menor que as outras fêmeas, já tinha um corpo de mulher.
"Crianças inocentes. Se você diz " Candid deu de ombros.
"Não é problema nosso, de qualquer forma." Leo disse encerrando o assunto.
"Mas essa conversa vem bem a calhar, Leo. Me diga, você tem algo contra uma festinha particular aqui?"
Leo franziu as sobrancelhas.
"Sim, apenas eu, meus irmãos, você, Hush, se ele quiser, claro." Hush sorriu e balançou a cabeça pra cima e para baixo.
" E algumas amigas. Só uma reuniãozinha."
Leo não acreditava no que estava ouvindo. Aquele filhote estava sugerindo trazer prostitutas para o zoológico.
"Eu sei, eu sei que você odeia humanos, mas não precisa conversar com elas. Só não... Fazer essa cara."
"Não. Nada de prostitutas aqui."
"Eu sugiro uma votação. Quem gostaria de passar algumas horas sendo entretido pelas garotas mais bonitas e animadas da região levante a mão." Ele ergueu a mão e Hush o imitou.
"Eu mando aqui e digo não. Isso não é uma democracia."
"Bom, o que acontece se eu disser que já convidei as garotas?" Leo fechou os punhos. Era exatamente isso que queria dizer quando disse que o castigado seria ele e não Candid."
"Eu chamarei o seu pai."
Candid baixou os ombros, derrotado.
"Nós tentamos, Hush." Ele sinalizou para Hush que sorriu triste.
E isso quebrou a resolução de Leo. Hush era surdo e consequentemente mudo, não havia muita gente com quem ele tinha convivência e ainda menos fêmeas dispostas a compartilhar sexo com ele. A idéia das prostitutas poderia ser boa.
"Tudo bem, mas será só uma vez."

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LEO
FanfictionLeo sempre odiou os humanos. Tanto que viver na Reserva, bem na Zona Selvagem o fazia feliz, exatamente por não haver humanos ali. Ele tinha tudo o que precisava: amigos, trabalho duro e uma paisagem linda. Até o dia em que encontrou uma linda human...