CAPÍTULO 13

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Jocelyn entrou no escritório e Leo estava sentado batendo num laptop.
"Posso ajudar?" Ele levantou os olhos para ela e franziu o nariz como se ela estivesse cheirando mal. Jocelyn não deixou se intimidar pelo 'olhar que afastava humanos' como ele mesmo já tinha contado para ela. Ela não esqueceu de nenhuma palavra que eles trocaram.
"Eu quero ver o meu filhote, mas não sei mexer nessa coisa direito." Ele indicou o laptop.
Ela se aproximou devagar afastou uma mecha de cabelo e tocou nas teclas. Havia um atalho com as filmagens do dia anterior.
"Eu também quero vê-lo. Estou com tanta saudade!" Ela se sentou numa cadeira e a aproximou da mesa.
E viu Jonathan disfarçado no meio das pessoas. Ele entrou fugindo de Adam e Noah e se camuflou no meio das pessoas. Do jeito que deu, é claro. Ele, com nove anos, já era maior que muitos adultos.
Leo tocou a tela do laptop.
"Como ele é?" Ela sorriu.
"Doce, inocente, puro. Bondoso, tanto que chega a ser ingênuo. Forte. Esperto. Inteligente..."
"Inteligente?" Ele devia achar que por ser filho dele, Jonathan não fosse muito inteligente. Mas ele era.
"Sim. Inteligente como você. Você é observador, esperto e inteligente, Leo. Eu sempre achei isso."
Ele sorriu, amargo, mas mesmo assim disparou o coração dela.
"Um macho esperto não se envolveria com você, não baixaria a guarda, não confiaria." Ela merecia aquilo. E já fazia tanto tempo, agora, a prioridade era saber o que fariam com Jonathan.
"Você vai tomá-lo de mim?" Ela perguntou. Doía imaginar-se sem seu filho. Ele dormia com ela, comiam juntos, estudavam juntos. Jonathan era literalmente a vida dela.
"Sim. É meu direito." Ele tinha razão. Mas sua voz tremeu quando disse isso. Ele estaria pensando no quanto seria difícil para Jonathan?
"E vai me deixar vê-lo?" Ela perguntou baixinho a dor no peito fazendo ela se encolher. Tudo o que mais temia, aconteceu. Ela já tinha tentado contar, tinha tentado conversar com Leo. Mas não fez. Agora pagaria por sua covardia.
"Você abriria mão do seu grande emprego? Deixaria de ser uma contadora de mentiras oficial?"
"Eu não conto mentiras!" Ela disse num impulso, ele rosnou. Ela respirou fundo, sabia que tinha de lidar com ele com calma. A justiça deles era implacável e Jonathan era cidadão Nova Espécie. Eles poderiam até processá-la se quisessem.
"Você está me perguntando se eu deixaria meu emprego por que eu poderia ficar aqui? Com ele?"
Leo se levantou. Ele andou até a janela e olhou para fora. Sua calda se movia, inquieta, mostrando que ele estava nervoso.
"Seria muita maldade tirar você dele, só por que não gosto de você. Eu estaria sendo mesquinho da mesma forma que você foi. Não sou como você."
As palavras doeram tanto! Não havia um dia em sua maldita vida em que ela não se arrependesse de ter saído da Reserva no dia seguinte a noite que passou com ele.
"Então, posso ficar?"
Ele se virou e a encarou. Jocelyn se encolheu na cadeira, o olhar dele era puro ódio.
"Sim. Eu vou conversar com Slade, que é o diretor da Reserva. Existem muitas cabanas disponíveis na área familiar, e a minha não fica muito longe. Podemos ajeitar as coisas."
Ele suspirou.
"Acho que ficar com outros filhotes deve fazer bem a ele. Olha como seguiu John e Ann." Ele indicou o vídeo que continuava sendo reproduzido na tela do laptop.
Jonathan seguia um menino e uma menina que andavam segurando as rédeas de seus cavalos. O da garotinha era um pônei, na verdade.
O menino por vezes parava e olhava em volta, Jonathan se escondia ou andava rápido para outra direção.
"Ele sentiu a presença dele? O menino?" Ela apontou para a tela. Era um menino claramente Espécie, quase do tamanho de Jonathan, com compridos cabelos lisos e negros. A menina parecia humana, com cabelos loiros bem claros. Era o que dava para perceber na filmagem.
"Ela é humana?" Jocelyn apontou para a tela.
"Ann Sophie? Não, ela é Nova Espécie. Mas seu pai é humano, então, suas características são mais como ele. Ela é filha de Kit."
Kit? A Nova Espécie metida, que gostava de humilhar os homens? Nas poucas vezes que esteve na Reserva, Jocelyn a conheceu.
"Ann Sophie North Crane. Sim, está registrada, só que eu pensei que ela fosse parecida com Kit, ruiva e tudo o mais." Ele assentiu.
"As fêmeas são um pouco diferentes. Lunna é muito parecida com seu pai, Moon. As florzinhas são ruivas como Valiant, mas tem os olhos da mãe. Ann e Flora se parecem com seus pais humanos. E tem Rubi que se parece muito com Flame. Grace e Beauty são parecidas com suas mães. E Lily..."
Lily fazia parte do motivo dela estar ali, então, ele se calou.
"Eu tenho que fazer a reportagem, Leo. Discutirei com os trigêmeos, ou com o próprio Pride o que deve ser escrito, mas se eu não fizer, outro repórter fará. E não estarão preocupados com a verdade, mas com ganhar dinheiro."
"Do mesmo jeito que ganharam muito dinheiro com a sua reportagem sobre mim?" Ele voltou a carga. Jocelyn quase relaxou enquanto ele falava das meninas Nova Espécie.
"Algum dia vai me deixar explicar, Leo?" Ela suspirou.
"Você pode se explicar agora mesmo se quiser, porém não vou acreditar. Pode fazer passar de novo?" Ele indicou a tela.
Jocelyn voltou a filmagem e ele fixou seus olhos verdes na tela. Suas pupilas eram alongadas exatamente como as de um gato. Na claridade estavam finas, um risco vertical em meio ao verde intenso, com algumas pintinhas amarelas. Eram olhos incríveis. Os de Jonathan era iguais.
Eles ficaram assistindo o vídeo calados e por mais que ele disse coisas duras para ela, a promessa de deixá-la morar ali com o filho deles, aquecia o coração dela. Jonathan teria amigos!
Adam e Noah eram más influências para ele. Ele poderia talvez ser amigo do garoto que ele seguiu no zoológico, John. E havia garotas. Jocelyn sempre sentia o coração apertar ao imaginar como lidaria com Jonathan na adolescência, quando os instintos dele aflorassem.
"Quantos anos os trigêmeos têm?" As vezes eles pareciam mais jovens que o tamanho deles indicavam. Jonathan era quase do mesmo tamanho que eles, mas ele tinha sido criado como uma criança grande. Não pensava em sexo ou garotas ainda.
Leo sorriu, um sorriso completamente maldoso.
"Você quase compartilhou sexo com filhotes de nove anos. Se não tivesse sido destinada a Hush, você teria."
Nove anos? Jocelyn abriu a boca e esqueceu de fechar.
"Jonathan vai fazer nove anos daqui a um mês! Tem certeza de que eles tem nove anos? Nove anos só?"
"Tammy estava grávida deles quando você esteve aqui, quando nós... Ela, Valiant e seus filhotes na época foram ficar em Homeland. Os filhotes de Valiant aprontaram tanto lá, que alguns lugares ainda são proibidos para eles."
Jocelyn sorriu. Leo falava com orgulho dos filhos do amigo.
"Acha que serão amigos de Jonathan?" Ela perguntou. Não sabia como se sentir sobre eles na verdade. Tinham uma mente muito avançada, eram precoces demais. E se levassem Jonathan para um bordel?
"Sim, vão ser, todo mundo gosta muito deles. Não se preocupe em deixá-los sair juntos. Eles são ótimos filhotes."
"E as prostitutas?" Ela perguntou, a voz de Kat e as outras elogiando a performance sexual deles ressoando em sua cabeça.
Leo coçou a barba. Quando o conheceu ele não usava barba. Ela o achou ainda mais bonito barbudo.
"Bom, ele já está na idade..."
"Não, Leo! Ele tem nove anos! Ele deve aproveitar a infância!" Ela se levantou meio desesperada. Jonathan fazendo sexo! Meu Deus!
"Você o conhece melhor que eu, então você sabe melhor. É só dizer que não quer que o levem até às prostitutas e não levarão." Ele disse encerrando a questão. Jocelyn se sentiu feliz por eles já estarem conversando sobre a vida de Jonathan. Tudo ficaria melhor quando ele viesse.
E isso a levou a abordar a questão.
"Quando quer trazê-lo?"
Ele a fitou, os olhos resolutos.
"O mais rápido possível. Candid disse que irá consultar Peter, ele é advogado e nos dirá quais procedimentos temos que realizar." Jocelyn achou estranho ele dizer que Candid consultaria esse tal Peter. Candid era muito calado, ele não deveria dizer que Simple faria isso?
"Peter é..." Eles deveriam ter um departamento jurídico.
"Nova Espécie." Ele estava respondendo ou afirmando?
"Filho de Vengeance. Se formou em advocacia e trabalha com um desses." Ele apontou o laptop. Jocelyn gostava tanto da simplicidade com que ele encarava as coisas!
"Quantos filhos Vengeance tem?" Ele estreitou os olhos. Era uma questão irrelevante para a conversa deles, mas respondeu.
"Sete. Três fêmeas e quatro machos. Quer dizer..." Ele a olhou confuso. Havia alguma outra coisa que ele não queria contar.
"Eu estou errado. São duas fêmeas. Grace e Beauty."
Ela achou estranho ele errar no número de filhos de seu amigo, mas ele devia estar com a cabeça cheia, como ela também estava. Jocelyn resolveu voltar ao assunto da vinda de Jonathan para a Reserva.
"Se eu estiver aqui, ele pode ficar aqui comigo, e então, você entra com um processo de reconhecimento de paternidade. Quando for reconhecido legalmente, por que pode demorar, ele já estaria morando aqui."
Ele levantou outra questão desagradável.
"E o seu macho? Ele vai tentar impedir Jonathan de vir?" Ela afastou os cabelos do rosto. Era uma questão delicada.
"Ele já não era meu 'macho', como você diz, desde bem antes de eu conhecer você, Leo. Mas ele ama Jonathan e Jonathan o ama. Se quiser que ele venha, terá que garantir que Jonathan queira vir e que ele verá Andrew de tempos em tempos." Ela disse.
Leo rosnou.
"Se não fosse uma falsa, uma mentirosa, ele teria crescido aqui, comigo, e seria meu filhote. Eu não teria que dividí-lo com outro macho." Mais uma vez ele estava certo. Jocelyn nunca sentiu tanto pesar quanto ela sentia agora. Ela errou e muito, ela magoou Leo sem ele merecer. E agora criaria uma confusão na cabeça de seu filho. Não seria fácil para ele se adaptar ali, no meio de estranhos. E ainda longe de seu pai e de seus 'irmãos'.
"Eu sinto muito, Leo. Sinto mesmo, sei que não acredita, mas eu estou muito arrependida de tudo o que fiz, de todas as decisões erradas que tomei. Eu mereço sofrer, você e Jonathan não." O que mais ela podia dizer? Que ela não queria? É claro que não! Mas agora era muito tarde.
"Vamos olhar para frente. Eu não perdoo você, tampouco quero que vivamos brigando, pois não fará bem ao Jonathan. E eu reconheço que devo ele a você, você o levou no ventre, você o criou, você o ama. Você o teve sozinha, sem amparo, pelo que entendi. Não posso deixar de te agradecer por isso. Eu sei que muitas mulheres humanas matam seus bebês no ventre quando não os querem. Você podia ter feito isso, ainda mais por causa do fato de eu não ser humano, de eu te odiar, de tudo que você teria de sacrificar. Você não fez isso e eu agradeço." Ele a olhou com firmeza, ele queria dizer isso. Jocelyn sofreu ainda mais por ter perdido ele. Leo era um presente para qualquer mulher.

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