CAPÍTULO 17

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Uma lua muito grande clareava todo o bairro, iluminando os telhados das casas grandes, todas muito afastadas entre si. Curiosamente, Adam e Noah estavam dormindo tranquilamente no quarto deles, Jonathan podia ouvir o suave ressonar de Adam e os roucos de Noah. Jonathan sorriu, Noah era o mais poderoso deles, com sua inteligência e as visões ainda por cima, mas dos dois era ele que roncava.
Sua mãe também roncava às vezes, quando ela chegava muito cansada do trabalho. Jonathan estava com tanta saudade! Ele queria tanto ir pra casa! Até da sua avó, que falava um monte de coisas estranhas ele sentia saudade. E o vovô, então! Jonathan queria muito contar pra ele que tinha estado no zoológico dos Novas Espécies, na Califórnia. Era para irem em mais lugares, Mas seu pai acabou viajando sozinho, não deu pra fazerem a viagem.
Sentia falta de sua mãe, mas sentia raiva também, por que ela mentiu pra ele. Jonathan pensava que ela nunca mentiria, mas ela mentiu. E magoou o papai. Logo o papai que ainda gostava muito dela.
"Oi." Jonathan se assustou tanto que quase caiu do telhado. Ele derrapou por cima das telhas, e olhou para a direção da voz. Era aquele menino!
"Como? Como você me achou? Quem..."
"Chiiii!" Ele franziu os lábios. O coração de Jonathan estava disparado. Ele tinha de chamar seus irmãos, mas ele sabia que Adam poderia machucar aquele menino.
"Calma, você é maior que eu, eu não posso te machucar. Nem tentaria." Ele sorriu.
E tinha razão, Jonathan pensou. Jonathan era bem maior que ele e mais forte também.
"Quem é você?" Jonathan ainda tremia.
"Se tem mais alguém com você, eu vou chamar meus irmãos." Ele ameaçou. O pior é que Jonathan fez muito barulho e nem Adam, nem Noah perceberam, continuaram dormindo.
"Eles não são seus irmãos." O menino falou.
"Você sabe o que eles são?"
"Eles são iguais mim, e cuidam de mim, são meus irmãos." Jonathan respondeu. Ele ia gritar.
"Eles são caninos e você é Felino, pra começar. E o seu pai e a sua mãe fizeram você, eles não foram feitos do mesmo jeito que nós." Ele ergueu o queixo e disse. Aquele menino já estava enchendo! Só havia um jeito de se fazer uma pessoa e Jonathan sabia muito bem, ele não era bobo.
"Como sabe que eu sou Felino?" Ele perguntou.
"Eu conheço seu pai, você é igual a ele." Jonathan se sentou. Ele correu do pai dele, de medo. E esse menino menor que ele não tinha medo?
"Você não tem medo dele?" Jonathan não devia ter perguntado, agora o menino ia pensar que ele era um medroso.
"Por que eu teria medo dele? Ele é um dos melhores tios que eu tenho. Eu adoro ir no zoológico. Ele cuida muito bem do meu cavalo Flash."
"Ele é seu tio? Você é meu primo?" Jonathan ficou na dúvida se gostaria de ter um primo.
"Não. Todos os filhotes chamam os adultos de tio." Jonathan ficou olhando a cara daquele menino. Ele tinha cabelos compridos negros e os olhos eram claros, esquisitos. Jonathan nunca viu olhos daquela cor, cor de chá. Jonathan reparou que os olhos do menino pareciam com os de Adam e Noah, mais redondos, e os dele eram puxados.
"Ele é mau. Ele magoou muito a minha mãe, e não deixou ela contar sobre mim." Aquilo doía quando ele falava.
"Você sabia que ela está na Reserva?" O menino irritante perguntou.
Sua mãe na Reserva? Ela foi pra lá e não o levou? Mas que mentira!
"Se continuar mentindo, vou chamar meus irmãos." Jonathan resolveu chamar eles mesmo assim.
"Você não sente saudade dela? Eu saí da Reserva hoje, e já tô com saudade. Até dos meus irmãos, estou sentindo falta e olha que são uns capetas."
"Capetas? Como assim?" Jonathan perguntou e o menino sorriu, mostrando as presas. Jonathan vivia ensaiando como sorrir sem mostrá-las, e esse menino não se importava a mínima pelo que parecia.
"Levados, terríveis, inquietos, demônios, pestinhas e por aí vai. Eles são tudo isso. São gêmeos. O mais velho se chama Gift, um verdadeiro presente de grego, na minha opinião. O mais novo é o Brave, e o nome combina com ele quando o assunto é banho, cortar o cabelo ou as unhas." Jonathan riu, ele adoraria ser um irmão mais velho.
"E você cuida deles?" Não devia ser nada fácil.
"Não. Por que eu cuidaria? Eles vão completar seis anos. Já até saíram escondido uma vez. Meu pai só não surrou o traseiro deles por que mamãe não deixou." Ele contou, sua cara ficando diferente quando ele falou de sua mãe.
"E aquela menina? Quem é ela?" Jonathan queria muito perguntar.
"Ann Sophie?" Ann Sophie, meu Deus até o nome dela era lindo.
"Ela é filha da minha madrinha." Só isso? O que Jonathan faria com esse tipo de informação?
"Você gosta de cavalos? Sabe, talvez você será o primeiro filhote a ser padrinho de um leão. Os trigêmeos têm gatos selvagens, que eles nunca cuidam, na verdade, mas ninguém tem um leão, e como seu pai é o diretor do zoológico e tem uma leoa prenha..." Os olhos dele brilharam, ele parecia achar que ter um leão era algo muito bom. Mas Jonathan morreria de medo. Leões eram selvagens. E ele não disse mais nada sobre a garota.
"Um cavalo é mais legal, dá pra montar." O menino franziu o nariz.
"Eu não monto muito no meu. Quando ele começa a correr, dá vontade de saltar e correr com ele, você sabe como é, não é?" Jonathan não sabia. Ele já tinha cavalgado num parque, o vovô o levou escondido, mas o cavalo, era um cavalo pequeno, não correu.
"E você corre? Com o cavalo?" O menino sorriu, parecendo feliz
"Sim. Eu corro com Flash, é muito bom, talvez você possa ir com a gente." Jonathan pensou que seria estranho correr ao lado de um cavalo, mas será que Ann Sophie iria junto?
"Quando você fala a gente, quer dizer você, o cavalo e mais alguém?" Ele não iria falar o nome dela, esse menino talvez gostasse dela e ficasse com raiva de Jonathan.
"Depende." Ele o olhou sério. Engraçado, esse menino ficava meio sombrio sem sorrir. Ainda bem que ele sorria sempre, Jonathan pensou.
"Você já se interessa por garotas?" Ele descobriu! Como ele pôde entender que Jonathan queria saber se Ann Sophie também corria com o poney dela? Ele era bem esperto!
"Não. Por que a pergunta?" Jonathan ficou o mais calmo possível.
"É que eu tenho uma amiga. Ela é a fêmea mais incrível do mundo. Ela gosta de tudo que eu gosto, ela é lin... Quer dizer, ela é muito animada. E ela corre com o poney dela junto comigo e Flash. Como amigos. Somos crianças. Se você olhar pra ela com olhar de macho, vai se arrepender do dia em que nasceu." Ele queria dizer isso.
Jonathan era maior e mais forte que ele, mas Jonathan sentiu medo. Os olhos dele escureceram e ele fechou a cara. Ann Sophie era dele, mesmo eles sendo crianças. E Jonathan quis ir se deitar.
"Eu vou descer. Tchau." Ele ia pular, quando uma sombra subiu no telhado, seguida de outras duas.
"Porra, John. Você devia contar pra ele como o tio Leo é legal e como é bom viver na Reserva e não ameaçá-lo." Um deles disse.
Jonathan arregalou os olhos. Eles iam pegá-lo, iam levá-lo a força. Ele gritou:
"Adam! Noah! Socorro!" Um deles se jogou sobre Jonathan e caiu sobre ele. O telhado começou a desmoronar. Ele segurou Jonathan que quase caiu. Mas acabaram pulando para o chão. Jonathan tentava se soltar do agarre, mas a mão dele o segurava como uma correia de ferro.
"Noah!" Jonathan gritou e fez um som igual a o de um leão de verdade. Ele arregalou os olhos. Como ele fez isso?
A sombra que o segurava lhe tapou a boca.
"Calma, Jonathan. É só o Candid. Ele é meu amigo. Não acorde seus irmãos." John disse. Agora que sabia o nome dele, Jonathan achava que talvez não fosse boa ideia gritar.
A sombra continuava segurando Jonathan, mas ele ficou com medo de Adam machucar John. Adam era muito mal.
"Somos como você, Jonathan. Não chame seus irmãos." A sombra que o segurava disse, o soltou e ele pode vê-los. Eram três. Iguais, exatamente iguais. Cabelos vermelhos cheios como os dele. Olhos puxados. Felinos?
"Quem são vocês?" Ele deu um passo a trás. Eles estavam nos fundos da casa. Adam e Noah ainda dormiam, ele ficou com medo. Se corresse em linha reta por dez minutos, encontraria o guarda na guarita. Esse era o plano, caso alguém aparecesse e seus irmãos não estivessem em casa.
"Não os chame." Jonathan olhou para um deles, eles eram tão iguais e estavam vestidos iguais e não importava pra onde olhasse, não havia diferença entre eles.
"Adam!" Ele gritou de novo.
Um deles avançou para cima de Jonathan, mas John o segurou.
"Não, Simple, por favor, ele é legal." Jonathan olhou para John. Ele ia chamar seus irmãos e a coisa ficaria feia, mesmo assim, John o defendia.
"Jonathan, você quer ir conosco? Ficar com sua mãe e seu pai?" Ele perguntou e ainda sorriu.
"Venha com a gente." Um dos felinos disse. Jonathan pensou. Ele não iria. Seu pai tinha ligado, eles viajariam dali a três dias mais ou menos. Ele não podia ir embora. Adam e Noah ficariam preocupados.
"Eu não posso. Papai não vai demorar a chegar, meus irmãos ficarão preocupados." Ele disse. John acenou. Ele entendia, ele queria ser seu amigo de verdade, os outros eram maus e pareciam querer machucá-lo. E onde estavam Adam e Noah? Jonathan olhou para os lados. Talvez se fizesse aquele som de novo...
"Jonathan, sua mãe pediu para virmos buscá-lo." John disse e Jonathan ficou em dúvida. Sua mãe ligaria para seu pai, ela não precisava mandar virem buscá-lo escondido.
"Mamãe não faria isso. É só ligar e papai me levaria para ela." Ele disse.
"Mesmo sabendo que você iria morar com o seu verdadeiro pai? E que sua mãe também está na Reserva?" Um dos malvados perguntou.
"Meu... O..." Ele não conseguia chamar o homem mal que fez sua mãe sofrer de pai.
"Leo. O nome do seu pai é Leo." John disse. John não sabia o que era ter um pai mau. O pai dele devia ser bom, John tinha até um cavalo!"
"Foi seu pai que te deu seu cavalo?" Jonathan perguntou. Ele apostava que John não sabia o que ele passava.
"Não, foi meu padrinho."
"Você não gostaria de morar com sua mãe e seu pai?" John perguntou.
Os felinos malvados olhavam para Jonathan e para todos os lados. Eles deviam estar com medo de Adam e Noah acordarem. Jonathan não gostou deles.
"Leo odeia a minha mãe." Leo. Era até um nome legal.
"Não. Eles se entenderam e estão ansiosos para você ir morar com eles. Na verdade, mentimos. Sua mãe vai ligar para seu pai adotivo, mas tivemos medo dele não liberar você e viemos fazer uma surpresa para eles. Ela está com muita saudade, e Leo está triste por que acha que assustou você." Um deles disse. Os olhos dele brilhavam no escuro. Ele não era tão malvado.
Sua mãe e seu pai juntos? Num zoológico? E ele teria amigos? Jonathan apurou os ouvidos. Adam e Noah ainda dormiam. Talvez devesse acordá-los para irem juntos.
"Venha. Agora!" Um dos felinos disse os olhos dele brilhavam estranhos. Mas Jonathan não iria sem falar com seus irmãos. Ele balançou a cabeça dizendo não. Os felinos ficaram se olhando.
"Eu posso até te apresentar a minha amiga. Desde que você entenda que somos crianças." John disse. Ann Sophie seria amiga dele?
"Mas somos crianças, eu não entendo por que você diz isso."
"Eu posso explicar isso. É por que temos a sua idade, mas não somos crianças mais." O mesmo felino falou.
"Você sabe a minha idade?" Jonathan perguntou para o felino menos malvado.
"Sim. Você tem quase nove anos. Nós já completamos nove anos."
"Mas... Minha mãe não contou ao meu pai sobre mim, por que ele não deixou ela falar."
"Foi isso que ela disse?" John perguntou.
"Não. Ela não me disse nada. Ela nunca falou nada! O meu pai, meu pai de verdade, que me criou, que gosta de mim, me contou." Jonathan sentiu vontade de chorar. E ele ficou nervoso. Ele queria quebrar alguma coisa. Quem aqueles felinos pensavam que eram? Ele olhou para o que estava mais perto. E fez um som de cachorro, sua mãe dizia pra ele não fazer isso, mas ele estava ficando muito nervoso.
O Felino o imitou. Ele arreganhou os dentes.
"Jonathan, calma. Vamos correr o que acha? Eu corro quando estou nervoso." Jonathan olhou para ele. Sua calda balançava, ele estava quase pulando na garganta daquele Felino que arreganhou os dentes para ele. Ele deu um passo para a direita, procurando se posicionar para saltar. Aquele Felino ia ver!
"Jonathan, que tal conversar com minha amiga?" John perguntou.
Ann Sophie? Ela estaria dormindo, era mentira.
"Ann Sophie deve estar dormindo, pare de querer me enganar." Jonathan estava com voz de raiva. Ele ia explodir!
"Ann?" John perguntou, confuso.
"Ela dorme tarde! Vamos ligar pra ela!" O menos malvado disse e discou alguma coisa num celular.
Jonathan sentiu sua calda baixar.
"Oi Ann! É Honest tudo bem? Eu sei que você estava dormindo, mas John precisa de um favor."
Ela estaria mesmo no telefone? Ou estariam enganando ele?
"Eu conheço a voz dela, se estiverem..." O tal Honest passou o telefone para John que deu uns passos para ficar longe deles. Jonathan se aproximou, ele não seria enganado.
"Oi, querida. Se lembra daquele dia no zoológico?"
Querida? Jonathan fez som de cachorro. Honest e os dois iguais a ele se aproximaram dele. Ele mostrou os dentes.
"É, o humano que seguiu a gente. Adivinha só, ele é Nova Espécie. E estamos tentando convencê-lo a ir com a gente pra Reserva. Ele é filhote do tio Leo. Você pode nos ajudar? É só dizer o quanto o tio Leo é legal." John ouviu ela dizer alguma coisa. Ele tinha uma expressão esquisita, como se estivesse nervoso também. Ele lhe passou o celular.
"Ela quer falar com você." Ele estendeu o celular, mas Jonathan ficou indeciso. O que diria para ela? Oi, seus olhos parecem com um pedaço do céu? John insistiu:
"Fale com ela, ou só ouça até seus ouvidos sangrarem." Jonathan não entendeu. Honest deu uma cotovelada em John.
Jonathan pegou o telefone e o colocou ante o ouvido.
"Alô? Alô? John?" Ela estava falando. Era mesmo ela, sua voz era tão doce como a voz de um anjo devia ser.
"Oi." Ele disse.
"Você é mesmo filhote do tio Leo?" Ela perguntou. Ela falava estranho igual a John.
"Sim, ele é meu pai." Ele confirmou. Era estranho, mas parecia que para ela ser filho de Leo era uma coisa boa. Ele sentiu seu peito aquecer.
"Sabe, eu queria apadrinhar um dos filhotes da leoa prenha. Você pode pedir para ele me ajudar? Dizem que vai ser sorteio, mas se ele quiser pode me dar uma leoa, meu pai paga. Você conversa com ele pra mim?" Ela pediu.
"Eu falo com ele, mas não sei se ele vai..."
"Ah, você é filhote dele! Se pedir ele faz. Meu pai faz tudo o que eu peço!" Ela o cortou. Jonathan pensou que não podia dar uma resposta sem perguntar primeiro. E o pai dela era pai dela a vida inteira, o dele nem o conhecia.
"E então, você vai me ajudar?" Ela perguntou.
"Sim. Eu vou te ajudar, Ann Sophie." Agora ele tinha mesmo de ir para a Reserva.
"Ótimo, diga pra John que minha mãe vai convidar ele, Sarah e os gêmeos para o final de semana, e que agora ele tem de vir."
"Eu digo. Você mora em Homeland?"
"Deus me livre! Você pode vir também se quiser. Só diga a ele por favor. Estou com sono, tchau." Ela desligou. Jonathan ficou um tempo olhando para o celular. Ir na casa dela? E a sua calda, será que ela se assustaria?
"Viu? Se vier com a gente, hoje, faremos uma surpresa para seus pais. E você terá amigos." Honest disse. Os outros ainda olhavam para os lados.
"Ela disse que a mãe dela convidou você, Sarah e seus irmãos para o fim de semana." Ele informou.
"O quê? O fim de semana todo?" John fez cara de desânimo. Será que estava com medo dos irmãos dele aprontarem muito?
"Ela disse que eu posso ir também. Eu não vou olhar como macho para ela, eu juro. E ajudo a vigiar seus irmãos."
"Eu sabia que ela ia..." John começou a dizer mas Honest o cortou:
"Certo, você vê isso com ela depois, John. Vamos, Jonathan, que tal uma corrida até o helicóptero?"
Jonathan arregalou os olhos e sorriu, a voz de Ann Sophie o acalmou.
"Você vieram de Helicóptero?" Ele mal podia acreditar.
"Sim, vamos?" Honest girou o corpo para começar a correr, mas Jonathan se adiantou, ele mostraria como era rápido.
"Siga em linha reta nessa direção." John informou. Eles correram. Jonathan descobriu que eles eram mais rápidos, até John, que era menor, corria mais que ele. Mas quando eles ficavam muito a frente, John desacelerava e emparelhava com ele. John era legal, ele estava descobrindo isso. Ele ia estar com sua mãe e conhecer Leo. Honest e os irmãos não eram tão maus se foram buscar Jonathan para fazer uma surpresa. E no fim de semana iria na casa de Ann Sophie. Ele tinha até aquela data para convencer Leo a deixar ela ficar com uma leoa. Jonathan esperava que Leo permitisse, se não, ela podia nunca mais o convidar.




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