CAPÍTULO 8

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Leo ficou imóvel olhando os Novas Espécies desconhecidos. Armados e cruéis. No meio de um monte de humanos. Ele não andava com celular, não havia como pedir reforços. Eles se dirigiram a área das jaulas de felinos. Leo foi atrás mantendo a distância. Ele sabia que devia chamar alguém, mas não os deixaria ali, ele não podia deixar que algum humano fosse ferido.
Os desgraçados andavam silenciosos no meio das pessoas como se fossem donos do lugar. Eles não tinham cheiro, mas não eram humanos, Leo sabia disso. E pelo andar, ele tinha uma suspeita de quem era o pai deles. Na verdade, um deles tirou o óculos de sol que usavam e sorriu. Só havia um Nova Espécie com olhos assim em todo povo deles.
Uma humana esbarrou em Leo e quase caiu. Leo a segurou pelos braços e viu que ela estava desesperada.
"Posso ajudar?"
"Eu não encontro a minha filha! Me ajuda, moço. Eu estava indo pra administração, mas não sei onde é." Ela chorou. Leo os viu sumir numa esquina e lamentou, mas não podia deixar a fêmea humana e ir atrás deles.
Leo inspirou bem forte, a fêmea tinha cheiro de suor, perfume, hidratante, sexo e no meio de todas esses cheiros, o dela, o cheiro pessoal. Ele fechou os olhos e se concentrou. Havia alguém com um cheiro bem parecido longe dali, a esquerda. Os Novas Espécies estavam longe, já. Era como se soubessem que ele não poderia seguí-los.
"Venha." Ele segurou no braço da fêmea e foram andando. Ela andou uns passos e gritou:
"Mel! Melissa! Onde..."
"Cale a boca! Quer fazer meus ouvidos sangrarem?" Ele tirou os óculos e a mulher abriu a boca e não fechou.
"Eu já senti o cheiro dela, não precisa machucar meus ouvidos."
"Desculpa. Qual o seu nome?"
"Leo." Ele disse. Humanos!
A filhote estava chorando e um humano ajoelhado enxugava o rosto dela no momento em que chegaram. A fêmea a chamou ela virou o rostinho vermelho de tanto chorar e correu para sua mãe, que a abraçou. Leo arquivou o pensamento de que tinham de criar um fluxo para crianças humanas perdidas.
A fêmea estendeu a mão para o humano que consolava a filhote, ele hesitou, mas apertou a mão dela. Leo deu uma boa olhada nele, estava vestindo uma calça de moletom, camiseta, boné e óculos. E quando Leo inspirou o ar, viu que esse humano usava valeriana. Como assim?
"Quem é você?"
Ele olhou confuso para Leo. Porque um humano usaria valeriana? E como a obteria? Ele estava junto com os outros?
O humano, porém, saiu correndo e se embrenhou no meio das pessoas. Leo não correu, seria melhor correr atrás dos leãozinhos. Leo saltou uma grade e correu o caminho para a colina que eles foram. Não era longe, só era muito inclinado. Leo não demorou nada para subir. Ele inspirou e notou que Hush estava mais perto. Hush também tinha um faro muito bom, ele poderia já descer e rastrear a valeriana.
Quando se aproximou a ponto de ver Hush e a tal Lynn, estacou. Hush e ela se beijavam. Ele limpou a garganta, mesmo sabendo que Hush não escutaria. Ela abriu os olhos e Leo pode ver o rosto dela. Céus! Jocelyn?
Ela empurrou Hush, mas ele a abraçou mais apertado,  Leo inconsciente deu um passo a frente e rosnou baixo. Droga de herança Nova Espécie que fazia ele se eriçar todo, ante alguém tocando no que era dele.
Dele? Não. Ela não era dele, ele não a queria, ele a odiava!
Ela mostrou a Hush que Leo estava ali, Hush olhou para trás, seu rosto mostrando que estava chateado com a interrupção.
"Ela é a mesma fêmea humana que me enganou e me expôs. Ela é a Jocelyn." Leo sinalizou. Hush a olhou, se afastou uns passos, passou por Leo e correu. O amigo estava triste, mas Leo o consolaria depois. Agora, ele tinha uma mentirosa para expulsar dali.
"Saia! Vá embora e nunca mais volte aqui." Ele disse e fechou as mãos em punhos. Ela abriu e fechou a boca, parecendo sem saber o que dizer. Taí uma coisa nova, a desgraçada tinha resposta para tudo.
"Leo. Hush passou como um raio por nós, o que aconteceu?" Candid apareceu.
"Vejam perigo que trouxeram pro Zoológico, Simple. Ela é uma repórter." Candid voltou seus olhos para ela e Jocelyn deu um passo para trás. Então, ela tinha medo dele, mas não de Leo? Ela julgava que iria engana-lo de novo? Achava que ele era tão idiota assim? Leo rosnou.
"Eu vi dois Novas Espécies desconhecidos e armados no meio dos humanos e um humano estranho que usava valeriana. Vão investigar." Ele ordenou. Candid saiu às pressas. Leo não se importava mais com nada, só queria expulsar essa mentirosa dali.
"Leo, eu posso explicar." Ela disse. Leo não conseguiu deixar de passar os olhos pelo corpo dela, afinal, ela usava o mesmo vestido daquela noite, decotado e curto. Os seios brancos dela quase saltavam pra fora do decote. Ela puxou o vestido tentando cobrir as pernas. Ela estava mais magra do que ele se lembrava, estava mais velha também, embora ainda fosse muito bonita. Seu pau ganhou vida e ele se odiou por isso, como seu corpo podia reagir a ela?
"Hush não merece ser magoado desse jeito, como você pôde? Como alguém pode ser tão baixo a ponto de usar um macho bom como ele? Qual seria a matéria? Eu dormi com um Nova Espécie mudo?" Ele deu dois passos, ficando próximo dela. A vontade de bater nela e de beijá-la se degladiando dentro dele.
"Eu só vim para falar com você, eu não ia transar com ele, eu precisava falar com você!" Ela sabia bem como manipulá-lo. Ela era mestre nisso, mas dessa vez seria diferente.
"Saia daqui, Jocelyn ou vou jogá-la daqui." Ele falou rosnando.
"Leo, por favor, me deixe explicar, não seja um..." Ela fechou a boca.
"Um animal? Diga, pode dizer. É assim que você me vê, não é? Como um animal. Mas eu tenho orgulho dos meus genes animais, se quer saber. Eu tenho nojo de minha parte humana, essa é a verdade." Ela empurrou os cabelos ruivos para trás do rosto, como sempre fazia quando estava nervosa.
"Leo, eu ia conversar com você, eu ia pedir a Hush que me levasse até você."
"Depois do sexo? Depois de usá-lo?"
Ela ergueu o queixo como se estivesse ofendida. Como alguém poderia ser tão falsa?
"Eu não ia transar com ele!" Ela disse e aquilo foi a gota d'água. Leo a jogou como se joga um saco de batatas no ombro e a sensação do corpo dela o encheu de luxúria. Ele andou até onde as outras estavam, Molly estava vestindo sua roupa, a deixou no chão de qualquer jeito, ela caiu sentada.
"Saiam! E não pensem em voltar."
"Mas Simple pediu para nós esperarmos aqui!" Uma delas o enfrentou. Era muita audácia daquelas humanas!
Leo rugiu:
"SAIAM!!!!" Uma delas puxou a que tinha falado e começaram a descer a encosta. O jipe não devia estar longe.
Jocelyn continuou onde estava.
"Leo, por favor, eu preciso..." Ele a empurrou e ela caiu. Ele não usou força, só queria humilhá-la. Ela se levantou e desceu atrás das outras.
Todo o corpo de Leo tremia, sua calda se agitava dentro da perna da calça larga. Tudo nele gritava para abraçá-la bem forte e não deixá-la sair de perto dele, nunca mais.
Mas não era o momento de se lamentar, havia o problema dos Novas Espécies desconhecidos e do humano estranho que correu rápido demais. Ele não notou, pois foi atrás dos leãozinhos, mas o humano foi muito veloz, ele praticamente sumiu entre as pessoas. Seria outro Nova Espécie?
Enquanto corria até a administração, ele imaginava que Candid iria pra lá, ou ligaria pro telefone de lá, ele reviveu em sua mente tudo o que pode sobre o humano.
Sua mente estava tão agitada! O rosto dela, implorando para que ele a escutasse não saía da sua cabeça. E então revivia ela e Hush se beijando e sentia vontade de rugir de ódio.
Hush estava na administração, é claro. No seu quarto. Leo se sentou numa das mesas da área de trás, o espaço de convivência dos funcionários, que os leãozinhos transformaram num lugar aconchegante. Eles encheram cada canto com plantas, colocaram até almofadas nas cadeiras de madeira. Tudo para prostitutas! Ele iria tirar tudo aquilo, iria quebrar todo aquele lugar!
Ele respirou fundo. Não. Era hora de resolver o problema maior. Ele se forçou de novo a se lembrar do humano. Ele estava de boné, mas uns fios de cabelo loiro escapavam. Cabelo comprido?
Ele estava com um joelho no chão e acariciava o rosto da garotinha com leveza, com carinho. Qual seria a altura dele? Não era tão grande como Leo, isso ficou fácil de perceber. Ele tinha um tamanho mediano, talvez do tamanho dos leãozinhos?
E era forte. Leo lembrava dele correndo, a camiseta que ele usava estava colada ao corpo. Leo franziu as sobrancelhas. Difícil dizer se era Nova Espécie ou não, porém se fosse seria um filhote.
Hush apareceu e se sentou a frente dele.
"Eu sinto muito. Eu não a tocaria se soubesse que ela era sua." Ele sinalizou.
Dele? E era por isso que Hush sentia muito? E quanto ao fato dela ter usado ele?
Leo sinalizou:
"Ela não é minha. Ela enganou você, da mesma forma que me enganou. Ela queria expor você, ganhar dinheiro vendendo revistas com a sua foto, exatamente como fez comigo."  Leo sinalizou e Hush balançou a cabeça.
"Ela não queria compartilhar sexo comigo, Leo. Eu queria, mas não senti cheiro de excitação nela, a não ser o primeiro dia quando ela viu você. Eu não me importaria se ela fizesse uma reportagem comigo, se isso significasse compartilhar sexo com ela, eu gostei dela, ela leu pra mim." Hush explicou. Leo sabia que ele era muito inocente, ele não entendia direito o conceito de ser usado, e não era hora de ensinar isso a ele.
Mas tudo estava tão a flor da pele! Tanta raiva! Leo foi ao escritório e procurou numa caixa, uma caixa que ficava num armário, no alto, com coisas que não eram usadas no dia a dia e retirou a revista de lá.
Voltou a mesa e jogou a revista sobre a mesa.
Hush pegou a revista e ficou olhando a capa. Uma foto de Leo só de bermuda com sua calda enroscada numa perna tomava toda a capa.
"Veja." Leo disse. Hush não sabia ler. Muitos quiseram ensina-lo, mas por algum motivo oculto, ele não quis aprender. Leo sinalizou:
"A capa diz: "Eu dormi com um Nova Espécie, e ele tem calda!" Isso é o tipo de pessoa que ela é. Mentirosa, interesseira, indigna!"
Hush não mudou sua expressão, então Leo abriu a revista e bem no meio havia uma foto de duas páginas de Leo nu dormindo de bruços, sua calda repousando sobre suas pernas.
Hush baixou os olhos.
"Leo, que bunda peluda! Veja isso, Candid, eu disse que ele devia ser mais peludo que nós." Simple que era Honest e falava essas coisas idiotas disse e com um movimento muito rápido pegou a revista e jogou para seu irmão.
O verdadeiro Honest, que era Candid aquele mês, olhou a revista e depois para Leo com aqueles olhos frios dele. Ele era de longe o mais cruel dos três.
"Isso deve ter rendido uma fortuna para essa revista." Candid entrou na cabana, e só passou os olhos pela foto. Ele era o líder, tinha coisas mais importantes para dizer.
"Onde estão as fêmeas? Onde está Lynn?"
Leo se levantou.
"Eu as expulsei. Elas desceram a colina, já devem estar fora daqui.
Ele estreitou os olhos dourados.
"Você é um idiota. Não devia ter mandado ela embora, não vê que ela está envolvida? Não parou para pensar que é muita coincidência uma fêmea que não é prostituta aparecer aqui se fingindo de prostituta? No mesmo dia em que Novas Espécies desconhecidos aparecem no Zoológico?" Ele balançou a cabeça.
Leo não disse nada, Candid tinha razão, que droga!
"Elas ainda estão na colina, devem ter se perdido. Vão." Ele ordenou aos irmãos:
"Honest, traga Lynn. Candid, leve as outras para fora." Eles obedeceram e saíram. Era incrível a organização deles.
"Como sabe que estão aqui ainda?"
Candid suspirou.
"Pelo cheiro." Ele balançou a mão, como se afastasse essa questão  insignificante. Mas não era insignificante. Leo sentia os cheiros de diversos humanos, pois o zoológico estava lotado nesse domingo, haviam ainda os cheiros dos funcionários humanos, dos filhotes Nova Espécie que estavam ali, dos animais, dos Novas Espécies adultos, tudo isso ele sentia, mas podia separar o cheiro de um ou dois, mesmo assim com muito esforço, agora, nesse momento, sua mente conturbada sentia todos aqueles cheiros misturados.
Candid respirou fundo e tirou o celular do bolso.
"Vou ligar para o meu tio. Quando ele chegar eu direi as conclusões que chegamos, não quero ter de falar mais de uma vez."
"Tem de ligar para Slade também, ele é o diretor daqui e..."
"Não. Nada de Slade, ainda mais depois que Florest... Não vamos colocar Slade nessa história." Ele disse encerrando o assunto, enquanto esperava Vengeance atender.
Leo estava ficando de saco cheio com a arrogância daquele filhote. Hush olhava de um para outro, lendo seus lábios.
"Sei que você não respeita hierarquia, Candid, mas se não chamar Slade, eu chamarei." Candid voltou seus olhos para ele, e ele viu que Honest talvez fosse o mais cruel, mas Candid tinha uma veia muito violenta também.
"Meu tio está impedido de se meter nos assuntos da Reserva. Se chamar Slade, meu tio terá de ficar calado, ou talvez até vai ter de esperar em casa." Leo não viu problema nisso.
"Que seja, nós resolveremos o que fazer e o deixaremos saber." Hush fez que não com a cabeça de forma muito veemente. Hush era um dos que achavam que Vengeance era o protetor do lugar.
"Parece que você esqueceu a surra que meu tio deu em você, no meu pai, em Thorment, em Brass e também do estrago que ele fez na cara de Slade. Tudo ao mesmo tempo. Quer que ele faça Slade engolir os dentes que implantou?" Ele disse, mas parecia que Vengeance não estava atendendo.
Leo se lembrou do dia em que tentaram proteger Torrent de Vengeance. Ele mesmo ficou com a coluna doendo por dias,  Vengeance o lançou contra uma parede, a parede se rachou. Talvez fosse melhor não contestar Candid.
"Tio? O quê? Sim, estamos na administração do zoológico. Ok." Ele desligou.
"Ele já está vindo, não vai demorar."
Candid disse o orgulho pelo seu 'tio' aparecendo em seu sorriso, Leo bufou.
Nesse momento Simple entrou com Jocelyn no ombro, ela esperneava, ele a jogou de qualquer jeito no chão, Leo rosnou para ele, ele sorriu seu sorriso malvado.

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