Leo não sentia o gosto da deliciosa carne de Tammy. Ele tentava pregar seus olhos no prato e se forçava a mastigar devagar, mas a presença de Jocelyn a mesa o incomodava demais. O pior é que ela estava no meio das florzinhas que riam com ela como se fossem velhas amigas. Como ela se atrevia?
A sobremesa veio e ele nem se deu ao trabalho de provar.
"Não gosta de torta, tio? A torta da minha mãe é famosa! Experimente!" Candid disse, seus olhos mostrando que ele captou cada movimento de Leo.
Tammy sorriu para ele, o sorriso travesso que todos os seus filhotes herdaram e o serviu de torta.
"Você sempre gostou de doces." Jocelyn disse o olhando nos olhos. Leo quase fraquejou e mergulhou no azul dos olhos dela, que evocavam a lembrança do primeiro beijo deles, o primeiro beijo de Leo.
Ele baixou os olhos e se concentrou na torta.
O almoço estava no fim quando Pride limpou a garganta.
"Vi, pode cuidar de Lily durante um tempo, por favor?" Enquanto Violet sorria para o irmão, todos os outros se levantaram rapidamente das cadeiras e saíram rapidamente da sala.
"Honor?" Pride chamou. Como Honor foi o mais lento a sair, ele se voltou.
"Pode ficar com Sheer?" O pequeno filhote deu um salto na cadeira, pousou no chão e deu outro salto contra o corpo de Honor que o pegou.
Honor nem mesmo respondeu. Sheer escalou o corpo dele e se encaixou em seus ombros. Os dois saíram.
"Ainda bem que Honor é lento. Quase que sobrou pra mim ..." Tammy olhou feio para Valiant.
"Acho que ele tem energia demais, e eu já estou ficando velho." Ele disse como se se desculpasse com Pride.
"Talvez devesse ligar para Vengeance, Pride. Ele adora passar um tempo com o neto dele, e nunca reclamou da energia de Sheer."
Valiant estava indo para a sala e se voltou.
"Vengeance? Vengeance não aguenta uma hora com Sheer. Da última vez ele brincou com ele dez minutos! Eu cronometrei!" Ele mudou sua trajetória.
"Sheer? Quer ir no lago com o vovô?"
Tammy sorriu e começou a tirar a louça ajudada por Daisy e Sarah que Leo nem tinha reparado que estava à mesa. Noble não estava presente.
Pride abriu a porta que levava ao jardim dos fundos e esperou ela passar. Jocelyn passou com um grande sorriso no rosto, o que não o surpreendeu. Pride tinha esse efeito nas fêmeas. Leo foi também, afinal ela não era flor que se cheirasse, poderia seduzir Pride no jardim de rosas da mãe dele.
Ela e Pride se sentaram num banco e Leo numa cadeira.
"Pride, eu agradeço por me conceder seu tempo. Não sei o que seu irmão contou sobre mim, então, vou contar.
Estou aqui para escrever uma história sobre você e seus filhos. Eu não trouxe gravador e deixarei meu celular com você, pode examiná-lo por favor?" Pride pegou o celular que ela estendeu o ligou e desligou. Ele parecia confiar nela, o que Leo não recomendava.
"Pride, não precisa falar nada se não quiser, ela diz que se não for ela será outra, mas na minha opinião, acho que não deveria dizer nada." Leo se sentiu na obrigação de avisar.
Jocelyn o olhou com raiva nos olhos, mas quem respondeu foi Pride:
"Eu sou culpado por ela estar aqui, tio. Eu conversei com uma humana no shopping e depois saí com ela, eu não devia ter feito isso. Só espero sinceridade de você Jocelyn." Ele disse olhando bem nos olhos dela e Jocelyn piscou. Pride estaria usando sua sugestão?
"Minha chefe recebeu fotos e áudio da conversa de vocês no shopping. Com isso, ela poderia fazer uma matéria bomba sobre o fato de que você não é o mesmo Nova Espécie que apareceu na tv, na entrevista, e ainda há o fato de que seus filhos tem idade para terem sido gerados enquanto Livie estava viva, sugerindo traição. Eu quero ajudar, Pride. Eu passei todos esses anos tentando ajudar a minimizar as reportagens ofensivas a vocês, Novas Espécies. Eu tenho vários artigos que defendem sua forma de vida e que mostram aos leitores o quão justa, igualitária e respeitosa é a comunidade de vocês. Eu..." Ela colocou a mão na cabeça.
"Respire fundo, Jocelyn. Com calma." Pride disse baixinho e Leo rosnou.
"O que fez com ela?" Leo se ajoelhou ante ela e tocou seu rosto.
"Jo? Tudo bem?" Pride podia fazer a cabeça dela virar pudim!
"Jo! Olha pra mim!" Ela respirou fundo e olhou nos olhos de Leo, com os olhos curiosos e altivos de sempre. Ele lhe tocou o rosto, ela tocou a mão dele a apertando contra sua face e fechou os olhos. Foi a vez de Leo respirar fundo. A pele dela era tão macia! Tão suave!
Pride limpou a garganta.
"Papai não dura trinta minutos com Sheer, ainda mais no lago. Podemos continuar?"
"O que fez comigo?" Ela perguntou. Ainda segurava a mão de Leo, e ele ainda estava de joelhos em frente a ela. Ele devia se levantar e voltar a cadeira. Ele devia, mas não queria.
Porém, voltou, quando ela soltou sua mão e Pride o olhou com uma sobrancelha levantada.
"Sugestão. Você deve ter notado que minha voz é diferente. Eu precisava saber se o que diz é verdade. Sua mente é bem forte, a tonteira é prova disso. Respire fundo e vai passar.
Ela assentiu e se levantou. Leo se levantou também. Ela se aproximou e tocou no rosto dele.
"Você se preocupa comigo?" Ela sussurrou. Leo não sabia o que dizer.
"Talvez seja melhor vocês conversarem e eu..." Pride disse, mas ela não o deixou terminar.
"Não. Não, por favor, vamos terminar com isso. Eu estou melhor, eu consigo." Ela se sentou.
"Vamos lá! Eu trouxe um caderno, eu o deixei... Ah, aqui. Está aqui. Tudo o que eu escrever você pode ler. Eu vou escrever a matéria toda e você também vai ler. Só escreverei o que você autorizar. Tudo bem?" Ela assumiu o tom profissional, mas seus olhos iam de Pride a ele, como se esperasse sua concordância.
Pride acenou.
"Como funciona sua sugestão? Minha cabeça parece leve, estou estranha."
Pride sorriu.
"Me desculpa, Jocelyn, mil desculpas! Você é uma das poucas humanas que eu sugestionei, e a primeira a ter uma mente forte o suficiente para lutar contra. Eu não sei como funciona, eu evito fazer ao máximo. Há um tom de voz para cada tipo de sugestão, isso eu sei. Eu queria te ouvir dizer a verdade, então a sugeri fazer isso. Não sei quando vai passar o efeito." Ele disse, olhando para Leo. Era a oportunidade de perguntar alguma coisa para ela, ele percebeu que foi isso que os olhos dele lhe disseram.
Mas ele não acreditava nessa história de sugestão. E ela era muito esperta, Leo já estava afetado demais por ela, estava agindo como não agia normalmente, então, ficou calado.
"Certo. Vamos começar pela fonte de Paige. Qual era o nome dela? Você diz que saiu com ela?"
"Sim. Ela se apresentou como Pamela Atkins. Eu gostei dela, ela conversou com Sheer, o acalmou quando ele se perdeu de mim no shopping. Ele correu para longe, eu não o perdi, mas ele se desesperou quando o cheiro de todas as pessoas o confundiu. Ela conversou com ele até que eu cheguei. E daí conversamos, ela parecia uma humana legal e eu a convidei para ir em algum lugar, sem meus filhotes. Eu estava querendo conhecer pessoas novas, Jocelyn. Fazer amigos. Mas aparentemente, ela queria algo mais. Eu fiquei triste quando percebi, pois ela era divertida, mas eu não vou me envolver com ninguém mais, eu não posso. Eu deixei isso bem claro para ela e ela mudou. Eu senti isso e logo nos despedimos. Essa é toda a minha história com Pamela."
Leo a olhava, ela não estava normal. Mexia muito no cabelo, estava ansiosa.
"Pelo que vejo, Pamela deve ser uma informante. Deve morar aqui por perto e sempre estar de olho no que vocês fazem. Ela pode até ter seguido o carro de vocês. Você foi simpático com ela e a tratou com respeito, para muitas mulheres acostumadas a homens vulgares ou grosseiros, isso significa que você pudesse querer algo mais com ela. Não estou justificando o que ela fez, e provavelmente fez como vingança, mas tenha cuidado no futuro, ok? Novas Espécies não namoram, isso é dito por aí e faz as mulheres acreditarem que se um de vocês a beijar, que isso já será o bastante para acasalarem e viverem felizes para sempre." Leo acenou. Pride era só um jovem, um filhote.
"Ela tirou fotos, você percebeu?" Pride disse que não com a cabeça.
"Talvez houvesse outra pessoa com ela, é costume informantes se ajudarem, ou outra pessoa também seguia vocês." Pride se levantou, nervoso.
"Eu nunca imaginei que conversar com uma humana, uma que parecia simpática pudesse me causar tantos problemas. Eu não disse nada que ela pudesse pensar que queria compartilhar sexo com ela!" Leo teve pena dele. Pride vivia para seus filhotes. Ele deve ter querido respirar um ar diferente, e conversar com alguém que não fosse seu parente. E aquela humana desprezível, Pamela, se aproveitou disso.
"Bom. Vamos encerrar esse assunto, e eu sinto muito, Pride. Informantes são importantes na minha profissão, infelizmente. Eu não os uso sempre, mas já comprei informações. Vou tentar descobrir o que puder e..." Pride a cortou:
"Não será necessário, Jocelyn. Meu irmão James vai cuidar dela." Pride disse e Jocelyn o encarou. Ele sorriu e ela sorriu também, meio indecisa, mas mudou de assunto.
"Então, Pride, gostaria que me explicasse por que é Noble, ou Honor, embora acredito que seja Noble, que está naquela entrevista." Ela esperou.
"Eu estava incapacitado no momento. E a entrevista era uma forma de Livie ir em segurança para casa, então, Noble assumiu o meu lugar. Eu nunca quis ver essa entrevista, me faz sofrer." Leo entendia Pride. Na entrevista, Noble e Livie estavam de mãos dadas. Se fosse Jocelyn no lugar de Livie, ele iria querer a cabeça do macho que segurava sua mão.
De onde esse pensamento saiu? Se fosse Jocelyn? Como assim. Leo se sentiu estranho, não devia ter tocado nela. Droga!
"Em segurança? Há uma longa história por trás disto tudo, não há? E Livie é mãe de Lily e Sheer, não é?" Pride sorriu. Jocelyn era esperta.
"É uma longa história, você tem razão. Acho que nem você sabe tudo, não é, tio?" Leo acenou. Ele só sabia que após a invasão a família de Valiant foi para Homeland. Quando voltaram Joe lhe contou que Pride tinha se envolvido com Livie, que era outra filhote de Vengeance, a tinha engravidado e ela estava cativa pelo seu pai humano, o macho que a registrou como dele. Leo sabia que houve um resgate e que Livie tinha morrido de parto.
Pride usou um tom baixo e amigável que os fez ficar presos a cada palavra que ele dizia. Contou como conheceu Livie, numa escada, e que compartilharam sexo ali mesmo. Que dormiram juntos e que atacou James depois. Contou que o pai dela queria que ela engravidasse para estudar o filhote. Que se isolou numa caverna pensando que Livie tinha o usado. E que por fim, quando ela disse que iria embora, que ele correu para ela e ela o derrubou com um comando, e ele ficou dias desacordado.
"Mas como ela fez isso?" É claro que ela iria perguntar.
"Livie é Nova Espécie. De segunda geração. Ela é filhote de Vengeance e Vengeance tem um tipo de premonição, vidência. Todos os filhotes dele tem algum tipo de poder mental, sei lá. Livie me fez dormir, eu dormi e não pude impedir que ela fosse embora."
Leo não sabia de todos aqueles detalhes. Pride ainda disse que Peter foi preso por Evan o pai humano de Livie, na invasão, e que Livie engravidou em troca da liberdade dele.
"Evan disse que trocaria Livie grávida por Peter, mas não havia garantias. Então, Kit convocou uma entrevista com uma repórter amiga dela, para deixar o namoro deles público. Kit e a repórter escoltaram Livie até sua casa. E Evan foi avisado de que iriam contar ao mundo a barganha terrível que Livie teve que fazer para libertar Peter se ele não o libertasse. Evan aceitou, Peter foi solto. Ele sumiu com Livie, e durante a gravidez não podíamos resgata-la, pois ela era menor de idade e Evan era responsável legal por ela. Tínhamos de esperar e esperamos."
Leo se lembrava do Pânico que Valiant e Tammy sentiram. Ele como amigo de Valiant, o ajudou como pôde, mas havia muito pouco a fazer.
Pride continuou contando a história, contou que foram ao resgate de Livie e que ela foi atingida quando dava à luz. Contou que tentaram de tudo mais ela não resistiu. Contou do acordo que fizeram com Evan quando ele se rendeu, do dinheiro que ele entregou e da ameaça que fez de processá-los por terem invadido sua propriedade e matado vários 'seguranças'. Livie estava morta, não havia provas de que ele a levou a força. A própria entrevista fez um desfavor, pois havia um momento em que Livie e seus pais falaram com a repórter, parecendo uma família muito feliz.
"A mãe de Graham foi quem notificou a imprensa, o avião foi periciado num hangar, isso suscitou algumas dúvidas, mas o sentimento de tristeza que tomou as pessoas devido a morte de uma linda adolescente e seus pais fez qualquer matéria questionando o acidente parecer mórbida e desnecessária." Jocelyn explicou.
"Pelo que eu sei, foi o próprio Evan que tomou todas as providências e foi embora para a Inglaterra."
Leo esperou Jocelyn perguntar sobre Ann. Ele ficou curioso sobre como Pride iria responder. Ele não sabia o que pensar sobre ela.
"E Ann Graham?" Leo segurou um sorriso.
"Ela está aqui. Na invasão, ela mandou um soldado deles matar um dos nossos. No resgate de Livie, ela atirou em Vengeance. Está aqui, eu não a vi, embora se eu for sincero com você, Jocelyn, eu não a odeio. Ela criou Livie, ainda que foi ausente, ela era carinhosa com ela, eu não me sinto bem odiando uma pessoa que Livie amou."
Pride demonstrava maturidade ao dizer aquilo. Ao invés do ressentimento e mágoa, ele escolheu a paz e apenas se distanciou de Ann.
Leo e Jocelyn se encararam. Era uma lição para eles. Leo baixou os olhos.
"Bom, Pride, a primeira vista, tenho duas versões que podemos usar. Preciso do seu número, irei fazer um esboço e se tiver alguma dúvida eu ligarei para perguntar, está bem?" Ele sorriu e ela suspirou ao se levantar.
"Você me leva de volta? Só vou me despedir." Ela entrou na casa.
"Devia ter aproveitado, tio. Ela falaria o que você quisesse saber."
Leo acenou e apertou o ombro de Pride. Ele não quis perguntar, com medo da resposta.
"Tudo bem?" Ele perguntou, os olhos de Pride estavam duros, impessoais.
"Ela foi embora voluntariamente, tio. Grávida. Sei que Hunter estava preso, mas o tio V. acordaria e nenhum exercito o impediria de trazer o filhote dele de volta. Hoje eu vejo que ela foi ingênua e também não confiou em mim." Leo lamentou. Pride não podia conversar com ela, não podia mais tocá-la, ela estava morta.
"Agora, nada disso importa. Você conhece Mourn? Ele perdeu sua companheira e deu a volta por cima, hoje ele está feliz com sua nova companheira humana, tem um ou dois filhotes." Pride sorriu e balançou a cabeça.
"Mourn sonhava com sua companheira? Sonhava que a tinha nos braços, que beijava sua boca? Por que eu sofro dessa maldição, tio. Eu não quero vê-la mais, estou cansado de acordar sozinho. Eu achei Pamela interessante, mas quando ela começou a exalar excitação, eu me senti mal. Não quero ninguém, tio, mas também estou cansado de sonhar com o que não posso mais ter."
Leo suspirou. A dor de Pride era definitiva, Livie não voltaria. Leo se entristeceu pelo filhote.
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LEO
FanficLeo sempre odiou os humanos. Tanto que viver na Reserva, bem na Zona Selvagem o fazia feliz, exatamente por não haver humanos ali. Ele tinha tudo o que precisava: amigos, trabalho duro e uma paisagem linda. Até o dia em que encontrou uma linda human...