O barulho do táxi fez Gabriel sorrir. E lá vamos nós! Ele aproveitou os últimos minutos de sossego enquanto ouvia Andrew entrar, fechar a porta, soltar as chaves no pote do aparador, pendurar seu casaco e bolsas, chamar Jonathan, chamar por Noah, andar pela casa e por fim, abrir a porta do porão, totalmente descontrolado. Tanto que se esqueceu do frio glacial que o climatizador gerava, tomou uma rajada gelada na cara, soltou um palavrão, fechou a porta, provavelmente colocou um casaco e voltou a abrir.
Gabriel ouvia tudo tomando um gole de café. Incrível como Vengeance cozinhava tão mal e seu clone conseguia fazer até um café coado a dois dias atrás ainda ser gostoso.
"Filho da puta! Como fizeram? Como os levaram? Você ajudou. Seu desgraçado!"Andrew veio com fúria pra cima de Gabriel, que apenas suspirou e não reagiu quando Andrew lhe apertou o pescoço. Os olhos dele estavam arregalados, ele até babava um pouquinho. Gabriel teve pena e ficou imóvel, segurando a vontade de tripudiar. Andrew apertou, apertou, e até conseguiu impedir o fluxo de ar, mas Gabriel era praticamente um zumbi, podia ficar muito tempo sem ar.
Andrew soltou o pescoço dele e se sentou. Gabriel encheu sua xícara com o resto do café (uma pena!), e estendeu a xícara para ele. Ele tomou, mesmo com o casaco grosso, devia estar com frio.
"Onde estão Um e Dois? Estão mortos?" Gabriel balançou a cabeça dizendo que não.
"Dormindo. Não foi ao quarto deles?" Ele se levantou.
"O que eu faria no quarto deles?"
"Ouvi seus passos, você gritava por eles, pensei que tinha ido ao quarto deles." Gabriel deu de ombros. Conviver com Novas Espécies tinha seu preço: paciência mínima com imbecis.
"Foram dopados?" Gabriel acenou.
"Como? E por quem?" Agora sim ele ficaria possesso. Gabriel respirou fundo segurando a vontade de rir que sabia que viria.
"Os leãozinhos." Andrew não o decepcionou. Se o ódio tinha um rosto era o dele, olhos esbugalhados, maxilar travado, dentes a mostra, narinas abertas. E ele não podia rir.
Ele socou o rosto de Gabriel. Socou de novo e de novo, até sentir um dedo estralar e ficar fora do lugar. Ele sacudiu a mão, deve ter doído muito. Gabriel pegou a mão e puxou o dedo até o osso voltar para o lugar
"PUTA QUE PARIU!" Andrew gritou.
"Deveria saber que meus ossos são duros " Gabriel disse se desculpando.
"Como eu os acordo? O que esses desgraçados usaram?" Ele se sentou, o dedo estava inchado e roxo.
"Não deve demorar muito agora. Quem fez essa substância foi Michael. Eu não sei muito sobre ela, só fiquei sabendo que Grace a usou em Torrent, quando ela transou com ele. Spray de limpeza, é como chamam. Em pequenas quantidades de forma gradual, ele inibe capacidades neurais, mas se inspirado em grande quantidade diluído no ar, provoca perda de consciência e de memória."
Andrew andou de um lado a outro esfregando a mão dolorida.
"Se você teve algo a ver com isso, deixarei Um acabar com sua raça, devagar, bem devagar." Andrew disse o olhando com olhos cruéis.
Gabriel deu de ombros.
"Fique a vontade. Eu estou preso aqui, da mesma forma que estava preso lá. Não tive contato com eles, não trouxe nada de lá."
Andrew suspirou.
"E se eu subir lá, jogar água na cara deles, ou machucá-los de alguma forma?" Ele perguntou já de pé, pronto para subir.
Gabriel deu de ombros.
"Eu não fiz, nem tive contato com essa substância, não sei."
Ele sabia, mas não diria, é claro, era divertido pensar em Andrew esfaqueando número Um, ele acordando e arrancando a cabeça de seu 'pai'.
"Pelo tempo que estão dormindo, e pelo cheiro de medo que captei nos leãozinhos, não devem demorar a acordar."
"Cheiro de medo?" Andrew perguntou.
"Eles gostam de arriscar, estavam armados com munição pesada, mas sentiram medo. Eles não sabiam quanto tempo o efeito duraria, eu acho." Pestes! Gabriel não sabia se os
admirava ou odiava. O plano de Andrew para Jonathan tinha seus atrativos.
"Você ouviu tudo?" Gabriel assentiu.
"Como convenceram Jonathan a ir com eles? Ou o amarraram?"
"John. Jonathan o observou no zoológico. Ele veio com eles e conversou com Jonathan. Não foi fácil, mas aí, veja só, o colocaram para falar com Ann Sophie no celular e ele saiu correndo com eles. Parece que não adiantou muito criar ele como uma criança inocente. No fim das contas ele é um Nova Espécie e corre atrás de uma buceta exatamente como todos os outros."
Andrew ficou pensativo. Jonathan era crucial para seu plano, uma vez que os clones eram estéreis. Ele faria de tudo para reaver Jonathan, seria divertido ver se ele seria mais esperto que os Novas Espécies. Ou ele poderia fazer como todos os outros e tentar invadir. Gabriel torcia para ele não fazer isso, não tinha vontade nenhuma de impedir aqueles clones de morrer. Na verdade, se pudesse envenenar os dois, faria com prazer.
Um rosnou baixo em seu quarto e Gabriel o ouviu sacudir número Dois. Agora vinha a dor, Gabriel suspirou. Quando estava com os Novas Espécies, pelo menos ele só apanhou quando lutou com Dusky. Foi uma surra épica, mas Dusky tinha honra, o que não poderia esperar nem de Um, muito menos de Dois.
"Eles acordaram?" Andrew se sentou.
"Não vai subir?" Gabriel estava louco para ele sair dali. Humanos cheiravam mal, e ele estava viajando, não tinha tomado banho, tinha feito sexo com alguém e tudo isso passava pelo nariz sensível dele.
A porta foi aberta e Gabriel sentiu um leve cheiro de medo no ar. Não vinha deles, porém, vinha do próprio Gabriel.
"Jonathan não está aqui." Dois desceu uns dois degraus já dizendo.
"O que aconteceu?" Ele falava num tom frio e impessoal. Até que seus olhos vagaram, vazios e ele pareceu ver alguma coisa. Um o olhou como se tivesse visto o mesmo.
"Pai, suba e vamos conversar. Podemos tentar explicar, não fique aí, pode adoecer." Número Um disse o tom um pouco alterado.
Gabriel, porém, pensou no que Andrew poderia fazer com eles, deixá-los sem sobremesa?
Andrew continuou no lugar.
"Tragam um cobertor, o mais grosso. E desçam. Nus." Gabriel franziu a sobrancelha. Andrew não era tão idiota, afinal. O porão estava totalmente gelado, Novas Espécies tinham o sangue mais quente, mas não eram imunes ao frio. Resistiam bem, mas poderiam ter uma hipotermia se permanecessem por muito tempo.
Um e dois desceram as escadas totalmente nus, o semblante vazio.
"Fale, Dois. Me conte como três Novas Espécies de nove anos superaram você." Andrew não tinha respeito nenhum por número Um.
Dois o olhou sem expressão. Parecia um boneco super musculoso, o enorme pênis em repouso pendendo do meio de suas pernas. Um era ainda mais forte e mais ameaçador com a cabeça careca.
Gabriel o olhava e ao subir o olhar deu de cara com os olhos frios dele
"O que foi? Pensei que seu pau não funcionasse. Esqueça, eu sinto nojo só de pensar em tocar em você." Um disse. Andrew pegou uma cadeira e a quebrou na cabeça dele.
"Cale a boca! Cale essa sua boca podre!" Andrew bufava.
"Prostitutas. Bateram aqui e foram entrando, diziam estar perdidas e pediram ajuda, mas elas estavam cheirando bem, nos provocaram, nos excitararam, e é a última coisa que me lembro." Dois explicou, seu rosto continuava sem expressão, mas seus olhos estavam fixos em Andrew.
"E não é só isso. Desde anteontem eu me sinto estranho. Não consigo ver as coisas direito, agora mesmo, não sei onde Jonathan está. Só o sinto confuso, mas também está feliz."
Andrew rosnou.
"Ele só pode estar na Reserva. Vamos lá e o buscamos, vamos arrebentar com tudo e o trazer de volta." Um disse.
"Quantas vezes aquele lugar foi invadido e eles mataram todos que entraram, seu idiota? Acha que eu faria uma idiotice dessas? Se você abrir a boca de novo..."
Gabriel ficou curioso. Qual seria a ameaça que Andrew podia fazer?
Ele respirou fundo.
"Eu vou procurar um advogado. Jonathan é meu filho e se sente como tal. Jocelyn o levou daqui sem a minha permissão, e ela está envolvida com alguma reportagem sobre eles. Vou descansar, vou pensar bem e amanhã eu terei um plano de ação."
Ele subiu as escadas e quando chegou a porta olhou para baixo, Um e Dois estavam imóveis esperando. A pele deles já estava meio azulada.
"Lutem. Até um dos dois ficar inconsciente. O que apagar fica aqui até amanhã." E ele fechou a porta. Gabriel procurou um lugar onde pudesse sair do caminho deles e logo os dois se engalfinharam. O barulho de garras, rosnados, chutes, socos era assustador.
![](https://img.wattpad.com/cover/298639699-288-k426237.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
LEO
FanficLeo sempre odiou os humanos. Tanto que viver na Reserva, bem na Zona Selvagem o fazia feliz, exatamente por não haver humanos ali. Ele tinha tudo o que precisava: amigos, trabalho duro e uma paisagem linda. Até o dia em que encontrou uma linda human...