CAPÍTULO 4

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Leo observava os trigêmeos limpando e pendurando luzes na área de churrasco. Eles colocaram até flores nas mesas, tinham transformado o lugar prático de antes numa área aconchegante de convivência. Leo balançou a cabeça. Aqueles leãozinhos eram terríveis!
Noble apareceu com várias sacolas, cheias de comida e começou a arrumar um aparador ao lado da churrasqueira. Quando terminou, passou as mãos pelo cabelo, parecendo nervoso.
"Simple, tem uma coisa, eu..."
Candid se virou, limpou as mãos num pano, ele estava mexendo na churrasqueira, e esperou. Leo achou engraçado o irmão mais velho ficar nervoso em contar uma coisa para o irmão caçula.
"James. Eu deixei escapar que viríamos pra cá e, ele insistiu e eu acabei contando.
Candid estreitou os olhos e Noble se encolheu.
"Ele fica com Susan e você fica com a sua mão. Não dá tempo de arrumar uma pra ele." Candid deu de ombros.
Noble suspirou. Leo estava adorando ouvir a conversa.
"O problema é que Florest também vem, será que não dá pra ligar pra Kat? Talvez..."
"Florest?" Candid rugiu. Mesmo sendo surdo, Hush saiu da cozinha e também ficou observando. Ele lia lábios.
"Ele estava conversando com James, o que queria que eu fizesse? E talvez ele possa vir mais tarde ou..."
Candid puxou os cabelos. Leo não entendeu porque ele ficou tão agitado.
"Você é burro desse jeito mesmo, ou só finge que é? Se Florest aparece aqui, Daisy também aparece. Se Florest ficar com uma das humanas, o que acha que Daisy faria com essa fêmea?"
Noble empalideceu. Daisy era a irmãzinha mais nova deles. Era uma fêmea muito bonita e simpática, mas já tinha um tempo que ela não aparecia ali, será que era mesmo perigosa assim?
Os pensamentos de Leo foram interrompidos pelo barulho do jipe que James dirigia.
Enquanto eles desciam do jipe, Candid pegou o celular, conversou com alguém baixinho e olhou feio para Noble.
"Você me deve." Ele se virou e continuou a mexer na churrasqueira.
Florest e James chegaram com grandes sorrisos nos rostos.
"Oi, Leo, oi, Hush!" Florest parecia bem animado.
"Fiquei sabendo que as humanas que virão são as melhores, é verdade, Simple?" Florest perguntou.
Candid ia responder, mas o celular de Florest tocou e ele atendeu.
"Oi, Silent. Algum problema?" Florest ficou um momento escutando.
"Talvez só seja algo que Sunny comeu, Silent. Apenas dê muita água pra ele e amanhã..." Leo olhou para Candid e balançou a cabeça, meu Deus! Candid era impossível!
Florest suspirou. Ele tentava conversar com Silent, mas acabou desistindo.
"Certo. Estou indo. Não, não, tudo bem, Silent." Ele desligou o celular
"Sunny comeu alguma coisa que não lhe fez bem e Silent disse que ele está com dor. Bom, fica pra próxima, pessoal. James vou levar o jipe." Florest disse e saiu dirigindo. Seu semblante chateado.
"Sunny com dor de barriga? Sunny que eu já vi comer terra?" James perguntou com os braços cruzados.
"Você é um idiota, James. Sinta-se com sorte por eu livrar o seu traseiro."
"Não entendi." Ele se aproximou de Candid, seu rosto estava ameaçador. Candid não se moveu. A diferença de altura entre eles era pequena e Leo tinha visto em primeira mão o quanto Candid estava forte.
"Daisy, idiota! Se Florest continuasse aqui, Daisy iria acabar com tudo."
"Daisy está na casa de Bells, ela e Violet estão cuidando de Jewel."
"Não, idiota. Daisy está vindo."
E não demorou muito, uma Daisy descabelada, descalça e furiosa entrou na área de churrasco pisando duro.
"O que estão fazendo aqui? Papai sabe? E por que convidou Florest, James?"
Candid como sempre tomou a iniciativa de acalmar a irmã, uma vez que seus irmãos e até Leo se sentiram acossados pela fúria da pequena leoa.
"Ele já se foi, não está aqui, querida."
"Eu sei, ele passou por mim no jipe. Eu não acredito que vocês me traíram desse jeito. Falta tão pouco pra eu ficar adulta! E se ele acaba gostando de uma dessas..." Ela enxugou o rosto.
"Eu acho que falta muito, Daisy. Nove anos é muita coisa." Simple disse. Ele era Honest esse mês. Leo as vezes se confundia com eles. Estava até chamando Candid de Simple.
A florzinha voltou seus olhos azuis para ele e ele deu um passo para trás.
"Que tal um dia inteiro com ele, D.? Eu posso dar um jeito. Mas você tem de ir embora agora e não contar nada disso aqui, nem pro papai ou para a mamãe." Candid disse.
Daisy piscou, devia estar pesando as possibilidades. Deve ter achado mais vantagem concordar com o irmão, então acenou e saiu. Leo ficou olhando ela ir embora, primeiro andando e depois correndo. Ela era rápida, e o impressionou ainda mais quando saltou, segurou num galho, se balançou e sumiu de vista, saltando pelos galhos das árvores.
Hush o cutucou e sinalizou quando Leo o encarou:
"Ela é incrível!" Leo concordou.
As fêmeas humanas chegaram num Táxi que deve ter sido autorizado a entrar pelo portão escondido. Leo ficou imaginando como Candid conseguiu isso.
Cinco fêmeas desceram do carro, quatro sorridentes e uma, morena,com longos cabelos negros, tinha o rosto baixo, olhava para o chão. Leo achou melhor ir para a sua cabana, não queria conversa com elas.
Ele começou a longa caminhada até a sua cabana andando bem devagar, aproveitando o cheiro do mato. Ele odiava aquele cheiro do sabonete que elas passavam. Ele entendia que era para camuflar o cheiro de outro macho, mas era estranho não sentir o cheiro pessoal delas.
A fêmea morena que olhou para o chão quando desceu do táxi, tinha um corpo sensual, ele percebeu, mesmo olhando para ela por apenas um segundo. Ela vestia um vestido minúsculo e suas pernas eram bonitas, torneadas, como as pernas de... Leo balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos ruins.
Embora o pouco tempo em que foi enganado por aquela filha de satanás não foi ruim.
Não. Foram os dias mais felizes de sua vida. Leo as vezes pensava que tinha valido a pena todo o sofrimento que veio depois.
Os primeiros dias...
O primeiro beijo...
A primeira vez que eles... Leo se forçou a parar de pensar nisso. Olhou em volta e ao longe viu luz na cabana de Dusky. Fazia muito tempo que não conversava com seu amigo, então mudou a direção e foi até a cabana destruída de Dusky.
Que não estava tão destruída assim, diga-se de passagem. Havia até um tapete na entrada da porta que tinha sido consertada. Um chiado o fez se virar e ele viu os olhos brilhantes do gato selvagem que fazia as vezes de animal de estimação para Dusky. Ele estava deitado num canto enrolado numa colcha feita com vários pedaços de tecido.
Dusky abriu a porta antes que ele batesse e o olhou nos olhos. A luz acesa na varanda o ajudava a enxergar.
"Vá embora, não quero conversar." Ele tinha um mal aspecto, como se não dormisse a meses. Seu cabelo estava ensebado, despenteado e ele ostentava uma barba grande. Leo sentiu pena do amigo. Os tempo passava e o sofrimento de Dusky só aumentava.
Um cheiro diferente, porém chegou as narinas de Leo e ele ergueu as sobrancelhas. Dusky piscou.
"Vá embora." E bateu a porta na cara de Leo.
"Eu só queria conversar um pouco. Não o julgo por suas decisões, Dus."
Ele se sentou numa cadeira, o gato chiou e ele chiou de volta.
Dusky saiu da cabana e se sentou na outra cadeira.
"O filho da puta do doutor fugiu e a fêmea maldita voltou pra mim. Eu pensei em mandá-la para Fuller, mas ela foi dada como morta e a administração de lá é formada por humanos e por alguns dos nossos, pode dar algum problema, então, como ela é minha, está aqui."
Leo ponderou a dificuldade do amigo. A fêmea em questão era a culpada pela morte do companheiro de Dusky. E agora, ele estava responsável por ela.
"Sobre o que quer conversar?" Dusky perguntou.
"Os trigêmeos transformaram o zoológico num bordel." Leo contou.
"Sério? Pensei que Simple foi mandado para lá como castigo." Dusky disse. A porta se abriu e a tal fêmea apareceu segurando uma bandeja.
Ela colocou a bandeja na mesa e voltou para dentro da cabana silenciosamente.
Leo deu um gole na cerveja gelada e suspirou.
"Ela leva a sério sua condição de ser minha. Como se eu me importasse com ela! Eu sinto ganas de torcer o pescoço bonito dela todos os dias!"
Leo registrou as palavras pescoço bonito, mas não comentou nada. Ele não tinha visto a fêmea antes daquele dia, mas soube que antes ela era muito bonita. Bem diferente de agora, pois Leo nunca tinha visto uma fêmea tão feia. Careca e com o rosto encovado, sem sobrancelhas, sem dentes e muito, muito magra.
"Uma das humanas contratadas me suscitou lembranças. Eu achei que havia enterrado tudo bem fundo, mas bastou ver pernas como as dela e eu..."
"Vá atrás dela." Dusky disse de repente. Leo arregalou os olhos.
"Dusky, você não pode estar falando sério."
"Ah, vá pro inferno! Você vê as pernas de uma fêmea e fica pensando nela? Você algum dia parou de pensar nela? Duvido, porra! Então, faça alguma coisa, perdoe ela e fique com ela, acredite quando eu digo que não vale a pena! Não vale a pena perder quem você ama! Não vale a pena ficar sozinho, veja como eu estou. Eu tenho tanto ódio de tudo! Tanto ódio, por que Blue não vai voltar! Aquela desgraçada lá dentro acabou com a minha vida! Eu tenho que acabar com ela!" Dusky saltou da cadeira e entrou na cabana como um raio e Leo foi atrás. Dusky deu um safanão muito forte na fêmea e ela voou longe. Leo conseguiu segurar Dusky por trás, pelo pescoço, mas por mais que Dusky era muito menor que Leo, Leo sabia que não era páreo para o primata. Leo só pôde fechar os olhos quando ele foi lançado contra a parede. Leo saltou,mas não a tempo de impedir Dusky de envolver o pescoço da fêmea com a mão. Ele aproximou o rosto da fêmea ao dele e rugiu bem na cara dela
"Eu odeio você! Odeio!" Ele a sacudiu e a cabeça dela bateu na parede.
A fêmea, porém não fechou os olhos e sua expressão era de paz. Ela queria morrer, Leo viu isso nos olhos verdes claros cegos dela.
Dusky também deve ter visto, ou sentido no caso, a soltou e saiu da cabana.
Leo a levantou e a deitou no sofá. Ele não sabia como se sentir sobre ela.
Ela se embolou no sofá e chorou. Um cheiro sentido, doído, tão doído que Leo teve que sair dali.
Ele entrou em sua cabana e retirou um pedaço de carne congelada no congelador e colocou na nuca. Leo suspirou, se fosse um humano teria sua coluna partida. Leo sentia muita dor, Dusky era muito forte.
No dia seguinte, iria convocar uma reunião com Vengeance, Valiant, Brass e infelizmente Slade. Dusky precisava conversar com alguém, talvez a fêmea de Moon. Ela era uma daquelas doutoras de cabeça antes de acasalar com Moon.
Mas as palavras de Dusky ficaram gravadas em sua mente. Procurar Jocelyn? Depois de todo esse tempo? E por que? O que diria a ela? Algo do tipo: " Oi, Jocelyn, eu vi uma prostituta que tinha pernas parecidas com as suas e resolvi ver como você está."?
Ela riria da cara dele. Ela era alegre, teimosa e metida. Curiosa demais para o bem dela. Apaixonada. Inteligente, comunicativa.
Leo pensou em bater a cabeça na parede, que merda! As lembranças vieram como uma enxurrada na mente dele.
Era um dia malditamente quente e Leo vestia apenas um short quando sentiu um cheiro feminino irresistível. Uma fêmea humana. Ela corria, estava suada e sentia medo.
Leo facilmente a encontrou parada perto da cerca da área que agora fazia parte da Reserva, mas que naquela época ainda pertencia a cidade de Clemency.
"Perdida?" Ela estava de costas, Leo não conseguiu não olhar para as formas femininas do corpo dela, cobertas por uma saia justa e uma blusa de alças. Ela estava com um paletó da mesma cor da saia jogado no ombro.
Ela se virou e ele mergulhou no azul dos olhos dela. Lindos, misteriosos.
"Ah, graças a Deus! Eu fui convidada a vir aqui, mas meu carro teve um problema, e como eu sabia que esse mato dava na Reserva eu achei que encontraria alguém." Era mentira, ele logo viu, mas achou melhor entrar no jogo dela.
"Seu carro está na estrada?" Ele perguntou, ela acenou. A estrada estava muito longe dali.
"Essa minha idéia foi horrível, eu sei. Mas o convite é verdadeiro, veja."
Ela mostrou uma carta timbrada com o logotipo dos Novas Espécies e Leo acenou.
"Venha por aqui." Ele se virou e deu um passo quando ouviu a fêmea fazer um barulho engasgado. Ela devia ter visto a sua calda. Fêmeas humanas sempre se assustavam.
Ele se voltou e ela arregalou os olhos.
"Você vem? Não precisa ter medo de mim. Mas se quiser ficar aqui, fique, não me importo. Ele continuou andando e ouviu os passos dela atrás dele. Ela tropeçou várias vezes, até Leo se virar, se abaixar e tirar os sapatos de saltos dos pés dela.
Continuaram andando mais um pouco até ela soltar um gemido, Leo se virou e viu que ela tinha pisado numa pedra afiada e tinha cortado o pé. Ele rosnou. Ela se afastou assustada.
"Quer que eu te carregue?" Ele deu um passo para perto dela e ela ergueu a cabeça para olhá-lo nos olhos.
"Eu..." Ele a pegou e jogou no ombro como faria com um saco de batatas e correu.
Depois de um tempo, ele alcançou o complexo e a desceu. Ela fez que ia vomitar, mas segurou bem.
Slade apareceu seguido de Justice e ela se empertigou, passou a mão em seus cabelos tentando arrumá-los. Leo lhe estendeu as sandálias.
"Senhora Hoffman, estávamos preocupados, aconteceu alguma coisa?"
Ela sorriu e Leo a achou mais linda ainda.
"Meu carro deu um problema na estrada, eu me embrenhei no mato, achando que estava próxima daqui, mas não estava, e se não fosse o..."
Ela olhou para ele.
"Leo." Ele completou.
"Leo? Nossa é um nome perfeito pra você!" Ela sorriu e Leo não resistiu, sorriu de volta. Os olhos dela fixos nos dele. Leo se sentiu quente, feliz.
Justice limpou a garganta e quebrou o encanto.
"Bom, senhora Hoffman, vamos conversar então? A sua revista é uma das que melhor fala de nós, sem sensacionalismo, sem mentiras, então estamos felizes com o interesse de vocês sobre a nossa Reserva." Ela acenou e entrou no Complexo seguida de Slade e Justice.
Justice frisou na palavra "senhora" e Leo não entendeu o porquê. Só depois é que soube que chamá-la de senhora significava que ela era casada, que pertencia a um macho.
E Leo só a viu dois dias depois. Dessa vez ela vestia uma calça jeans justa, que evidênciava seu traseiro e suas pernas, e uma camiseta branca. Leo nunca esqueceria o sorriso que ela lhe deu quando chegou em sua cabana e lhe informou que estava ali para saber mais sobre os animais resgatados e o plano futuro de construir um zoológico ali.
E eles passaram a tarde conversando, ela era inteligente e divertida, Leo estava cada vez mais encantado. Tanto que quando foi dormir naquela noite se surpreendeu em notar que nunca tinha conversado tanto com uma fêmea, talvez nem com um macho, se fosse ser sincero.
A dor nas costas o incomodava, ele se deitou de lado na cama. O sono demoraria a chegar e ele se preparou para uma noite de merda.







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