Jocelyn acabou dando razão à Sally, a garota que não quis voltar a Reserva, para não ter de ficar com Hush.
O Nova Espécie era o maior que ela já tivesse visto, maior que Leo. Moreno com olhos e cabelos castanhos, ele era simplesmente uma montanha de músculos, muito atraente, mas também muito assustador.
O coração dela ainda estava disparado por ver Leo. Depois de tantos anos, ele não mudou nada, continuava grande, forte e lindo. Ele lançou um olhar frio para elas, se virou e foi embora.
Jocelyn tinha aceitado ir no lugar da prostituta num impulso, depois, no quarto de hotel, ela colocou a mão na cabeça e pensou na loucura que ela estava prestes a fazer. No passado, Leo deixou bem claro que não queria vê-la, não a ouviu, mesmo ela implorando por uma chance de se explicar.
Ela passou todo o dia nervosa, andando de um lado para outro, imaginando o que aconteceria quando ele a visse. Ela se decidiu por uma peruca para evitar que ele a reconhecesse logo de cara e a expulsasse de lá.
Mas ele só virou as costas e ela ficou sem saber o que fazer.
Havia muita comida, refrigerantes, sucos e até cerveja para Kat e as outras garotas.
Jocelyn chegou sorrindo e conversando, ainda estava nervosa, afinal, Leo poderia voltar.
As garotas estavam muito animadas, e Jocelyn as entendia, afinal, como na profissão delas não havia como escolher para quem elas prestariam seus 'serviços', estar com um Nova Espécie, ainda mais com uns tão bonitos como os filhos de Valiant era o ápice da carreira delas.
Os trigêmeos eram lindos rapazes ruivos e de olhos dourados e os outros dois mais velhos também eram belos. O mais velho era uma cópia viva de Valiant, Jocelyn meio que engoliu em seco quando o viu, achou que era o grande Leão como ele já era chamado na ocasião da primeira vez que ela esteve na Reserva. Como eles esconderam os filhotes dela, ela não imaginava quantos anos eles tinham.
Kat e as outras já chegaram beijando todos na boca, e se esfregando neles, Jocelyn sorriu, mas ficou parada sem se aproximar de nenhum deles.
Parecia que eles já tinham decidido quem ficaria com quem, pois os trigêmeos pegaram na mão de cada uma e as sentaram em seus colos. Susan olhou esperançosa para Noble, mas ele se ocupou com a carne na churrasqueira e seu irmão, James, era engraçado como um nome comum acabava por ser incomum ali, a abordou e foram os primeiros a sumir pelo corredor que devia levar aos quartos.
Foi só James e Susan saírem e o enorme Nova Espécie moreno a tomou pela mão e a levou para um quarto que, pela decoração, devia ser dele.
Uma enorme cama ficava bem no meio do quarto, muito bem arrumada com uma colcha de retalhos muito bonita. Uma tv num canto, um guarda roupa no outro e uma estante pequena com várias estatuetas de madeira e algo parecido com livros feitos a mão. Ela deu um passo para perto da estante e o gigante a barrou, Jocelyn deu um passo atrás e ergueu as mãos.
"Você me entende?" Ela perguntou, falando devagar. Surdos liam lábios, talvez ele também fizesse isso.
Ele sorriu e se aproximou. Jocelyn estava com medo, ele devia estar sentindo, eles captavam muita coisa pelo cheiro. Ele tocou em seu rosto e levemente puxou sua peruca, Jocelyn sorriu, a idéia era ridícula.
Ele pegou uma coisa na estante e Jocelyn viu que era uma lousa mágica daquelas de criança. Ele escreveu a palavra 'Hush', apontou para seu peito e entregou a lousa para ela.
Jocelyn escreveu:
'Lynn' e devolveu. Ele acenou, mas parecia triste.
"Você não sabe ler?" Ele deu de ombros. Ela se sentou na cama pensando em como se negaria a transar com ele. Ela olhou novamente para a estante. Se ele não sabia ler, por que tinha livros no seu quarto?
Ele pegou um livro, o alisou com muito carinho e estendeu para ela.
Jocelyn se assombrou com a beleza da capa. Parecia ser feita de madeira, mas muito fina, quase como um papel grosso, mas era mesmo madeira. Em baixo relevo havia um desenho de um sapo sentado numa folha que boiava num lago, com o título as aventuras do sapinho mudo. Jocelyn correu as mãos pelos relevos da capa e se maravilhou. Nunca tinha visto algo tão delicado, bem feito e bonito. Ela abriu o livro e havia uma dedicatória:
"Para Hush, que me inspirou, me encantou e me mostrou que o silêncio tem seu próprio som. Obrigada por cuidar tão bem de Snow, Flora.
Abaixo da letra delicada, havia outra claramente masculina que dizia:
"Espero que goste da ilustração, Hush, eu as desenhei com todo carinho do meu coração, John"
Jocelyn estava sem palavras. O livro as dedicatórias, tudo tão bonito! E ela começou a ler, primeiro em voz alta, depois só movendo os lábios. A história era empolgante, cativante e cheia de reviravoltas, as ilustrações eram incríveis. Tanto que o último capítulo, ela leu bem devagar, tentando postergar o máximo o fim da história. Mas ela terminou e sentia seu coração alegre, como sempre se sentia ao terminar de ler algo que tinha gostado. Ela tinha gostado muito da história de Flora e das ilustrações de John.
Hush bateu palmas quando ela terminou e Jocelyn sorriu. Ele indicou a estante e ela assentiu quando ele pegou outro livro.
E ela leu para ele, ela sentada na cama, ele sentado no chão, os olhos castanhos dele fixos na boca dela. Quando bateram perguntando se eles já tinham terminado, Jocelyn estava acabando de ler a terceira história. Ela pediu que esperassem, terminou e entregou o livro a Hush.
Ele levou suas mãos aos lábios, deu um beijo cheio de carinho e sorriu.
O coração de Jocelyn bateu mais forte, era como se ele lhe dissesse que esperaria ela ficar mais cômoda com ele. Jocelyn sorriu e ficou imaginando como aquela idiota pôde perder a chance de passar um tempo com um cara tão especial quanto Hush.
O táxi já estava parado na frente da área de churrasco e o motorista conversava alegremente com o irmão mais velho, enquanto bebia alguma coisa e comia um pedaço de carne. Jocelyn aproveitou para comer também e pegou um prato e foi servida pelo Nova Espécie.
"Então, Hush ficou só na promessa hoje? Você apenas leu para ele?" Um dos trigêmeos perguntou. Jocelyn fez a burrice de olhar nos olhos dele e estremeceu. Olhos frios, malvados e calculistas, olhos de quem sabia das coisas, de quem pegava as coisas no ar.
"Eu... Eu fiquei com um pouco de medo, eu..."
"Você não é nova como as outras, já devia ter certa experiência, não? E até onde eu saiba, a primeira coisa que prostitutas aprendem é que não podem escolher." Ele falava baixinho,sua voz fria causava arrepios em Jocelyn.
"Simple, deixe ela." O mais velho veio socorrer Jocelyn. O tal Simple voltou seus olhos para o irmão e por um momento eles travaram uma briga de olhares. Surpreendentemente, o mais velho baixou seus olhos primeiro. Jocelyn anotou mentalmente não se aproximar de Simple novamente.
Ela comeu a carne deliciosa e ia entrar no táxi quando Hush lhe tocou a peruca bem de leve. Ela se voltou e ele sinalizou enquanto outro dos trigêmeos traduziu:
"Se quiser conhecer Flora e John, eles vêm todo domingo. Peça ao Tom e ele trará você. Três horas da tarde."
Ela sorriu e acenou. O trigêmeo que traduziu, olhou para o outro, o tal de Simple. Ele deu de ombros, como se estivesse autorizando. Jocelyn ficou feliz.
No táxi, as garotas falavam sem parar, animadas pelo 'sexo incrível' como Molly disse e pela generosidade do pagamento.
"Eu fiquei um pouco triste por Noble não me querer, mas James foi muito carinhoso e safado. Ele provavelmente pode ensinar algumas coisas ao irmão mais velho." Elas riram.
"E Honest? Cara! Aquele garoto sabe fazer uma mulher ter prazer na cama!"
E continuaram falando dos irmãos, até que Kat lhe perguntou:
"E você Lynn? Como foi com o Hush? Eu acho ele muito bonito, mas Sally disse que ele foi muito brusco e enérgico."
"Eu gostei dele. Ele foi muito carinhoso na verdade." Kat sorriu.
"É o que eu disse a Sally, ela só precisava conversar com ele. Ele é mudo, não é idiota."
Jocelyn acenou e não quis participar da conversa. O taxista parou em frente ao hotel dela, ela desceu e entrou em seu quarto.
Ela considerou a loucura que fez, a mescla de emoções que a tomaram quando viu Leo, ainda que por poucos segundos. Seu plano era pedir para conversar com ele. Falar com ele, ver se o tempo tinha abrandado o coração teimoso dele.
Ela se deitou derrotada.
Leo talvez até tivesse uma companheira agora. Pelo que ela entendeu, ele morava em uma cabana na Zona Selvagem, não no Zoológico.
Ela iria no complexo, iria insistir para falar com Slade ou talvez viajasse para Homeland e pediria uma audiência a Justice. Era do interesse deles que a história de Pride e Livie não fosse manchada.
Mas agora seria depois de domingo. Jocelyn ficou muito curiosa para conhecer Flora e John, e por mais que talvez Leo a expulsasse, ela queria vê-lo.
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LEO
Fiksi PenggemarLeo sempre odiou os humanos. Tanto que viver na Reserva, bem na Zona Selvagem o fazia feliz, exatamente por não haver humanos ali. Ele tinha tudo o que precisava: amigos, trabalho duro e uma paisagem linda. Até o dia em que encontrou uma linda human...