CAPÍTULO 26

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Leo custou para consertar a jaula, era uma simples troca de parafusos, mas a conversa com Simple, Bells e Vengeance ainda ecoava em sua mente. E passar quase uma hora explicando o contexto da situação para Jocelyn com ela em seu colo, entre beijos e carícias, mexeu com ele.
E o medo aumentou. O medo de perder tudo, de perder a família que eles estavam começando a formar bateu forte. Mas qual seria a alternativa? Não arriscar, não dormir com ela, não ser um pai para Jonathan? Perder tudo isso, pelo medo de perder?
Ele se encaminhou para a jaula do gato selvagem de Rubi para ver o progresso de Jonathan e viu que Flame acabava de estacionar um jipe perto da tal jaula.
Ele desceu do carro, deu a volta e abriu a porta para a fêmea descer. Leo nunca tinha prestado muita atenção a ela, ela não ficava correndo pela Reserva como as Florzinhas, ela era uma fêmea que ficava quase sempre em casa, com os pais.
Rubi tinha os mesmos cabelos flamejantes de seu pai, bem vermelhos e olhos azuis como os dele. Ela era muito bonita e estava maior do que Leo se lembrava. Ela ficaria alta como uma fêmea Nova Espécie, assim como as florzinhas, devido ao fato dos pais delas, Valiant e Flame, serem Nova Espécie.
"Olá, Flame. Oi, Rubi." Ela sorriu, Flame continuou sério. Só então, Leo se lembrou de Candid dizendo que Rubi viria naquela tarde, e se perguntou como ele sabia. A cara de Flame indicava que Candid aprontou alguma coisa.
"Oi, tio Leo. Boa tarde." Rubi respondeu com um sorriso.
"Boa tarde, Leo. Viemos visitar o gato selvagem de Rubi, já que você está pensando em arranjar outro padrinho para ele." Flame disse com o semblante fechado. Leo reprimiu um xingamento.
"Quem lhe disse isso?" Leo só queria ganhar tempo.
"Honest. Ele está trabalhando aqui, não?"
"Eu não disse isso, Honest deve ter entendido errado. Eu me lembro de dizer que o gato dela devia se sentir deixado de lado." Leo retrucou. Era mentira, ele não disse isso, mas nunca entendeu por que os pais apadrinhavam animais se seus filhotes não tinham intenção de cuidar deles.
"Eu sou muito novinha, tio. Mamãe e papai sempre estão ocupados na oficina e não tem tempo de me trazer aqui. Mas eu não quero que você o dê para outra pessoa. Eu gosto de Stinks."
Leo sorriu.
"Eu não faria isso, querida. Na verdade, acho que..." Jonathan apareceu e pareceu surpreso olhando para Flame. Para Rubi ele deu apenas um leve olhar, mas sua calda se mexeu. Ele tinha tomado banho, penteado o cabelo para trás e vestia outra calça bem ajustada e uma camisa pólo.
"Oi." Ele disse.
"Oi, Jonathan, você está trabalhando no zoológico também?" Flame perguntou olhando desconfiado para Jonathan.
"Sim, senhor. Hoje Hush me ensinou a fazer alguns animais a gastar energia. Eu ia entrar nessa jaula, esse gato parece meio triste, vocês não acham?" O gato selvagem em questão estava deitado num galho baixo, parecendo não se importar com as pessoas em frente a sua jaula.
"Como você vai fazer ele gastar energia?" Rubi perguntou os olhos examinando Jonathan de cima a baixo.
"Ele parece entediado. Embora, só viemos vê-lo, afinal, é um gato selvagem. Deve ser perigoso." Flame disse e tinha razão. Gatos selvagens eram... selvagens, Leo pensou.
"Eu estive em outras jaulas de manhã, o segredo é não mostrar medo." Jonathan abriu a jaula, Rubi arfou.
"Jonathan, você ainda está aprendendo. Talvez seja melhor você fazer outra coisa." Leo disse. Gatos selvagens geralmente não atacavam sozinhos, eles chiavam e demarcavam sua área.
"Eu apenas vou provocá-lo e fazê-lo correr atrás de mim. Ele vai gastar energia assim." Jonathan disse dando de ombros.
Flame o olhou desconfiado. Jonathan estava arrumado demais para estar trabalhando, tinha até passado gel no cabelo.
"E Victoria? É verdade que vocês estão trabalhando juntos?" Leo tentou tirar a atenção dele de Jonathan.
Flame sorriu.
"Sim. Eu fiz um curso de mecânica de carros pela internet. Você nem imagina o quanto Victoria é boa! O curso nem arranhou a superfície do que se precisa saber para se ser um bom mecânico. Ela cresceu debaixo de um carro, como ela mesmo disse." Os olhos de Flame brilharam quando ele falou da fêmea dele.
"Ela desistiu da oficina própria?" Leo perguntou se encostando no jipe, cobrindo a visão de Jonathan conversando com Rubi.
"Ela queria abrir uma oficina de carros de luxo, mas para isso, ser uma ótima mecânica não basta. É preciso ter um nome importante, e ela queria fazer seu nome trabalhando numa oficina famosa e..." Leo reprimiu um bocejo. Flame ficou um bom tempo contando como sua fêmea era incrível, habilidosa e incrível de novo. Leo só precisou fazer uma pergunta sobre o curso e ele falou por horas. Jonathan e Rubi chegaram até a jogar um galho para o gato selvagem ir buscar e Flame não viu. O estômago de Leo apertou num momento em que Flame falava em como ele tinha passado dias estudando um carburador e às costas dele, Jonathan entregava o galho para Rubi jogar para o gato, tirava uma mecha de cabelo vermelho do rosto dela e colocava atrás da delicada orelha de Rubi. Leo via tudo isso pelo canto do olho.
"Bom, eu quero te convidar para um almoço, Leo, o que acha? Victoria comentou ontem que gostou de Jocelyn, elas conversaram um pouco."
"Nós adoraríamos, Flame." Leo respondeu.
"E você também vai, Jonathan?" Rubi perguntou olhando ansiosa para ele.
Jonathan sorriu, todo dentes e presas.
"É claro. Você disse que tem um pouco de dificuldade em matemática, eu sou muito bom em matemática! Posso te ajudar."
Flame sorriu.
"Que bom! Jonathan. Harrison a ajudava, mas ele não obedece muito bem horários e com o trabalho na oficina, tudo tem de ser bem organizado." Leo acenou.
Flame e Rubi entraram no jipe.
"Eu vou tentar trazê-la mais vezes, para ver o gato." Flame disse e deu partida. Rubi acenou com um lindo sorriso no rosto e o jipe sumiu estrada adentro.
"Ela é incrível, pai! Você viu quando eu dei o galho pra ela jogar para Stinks? Eu toquei na mão dela, ela deixou!" Ele abriu um grande sorriso.
"Você deu foi sorte de eu estar passando. Flame meio que a protege demais, pelo que eu vi. E você se arrumou muito!"
"Foi Honest que sugeriu." Leo tinha de dar uma apertada em Candid, que mentiu usando o nome de Leo.
Eles voltaram com Jonathan falando pelos cotovelos sobre Rubi, do quanto ela era linda e inteligente. Ele até parecia Flame falando de Victoria.
Na entrada da administração, Hush sinalizou perguntando como Jonathan tinha se saído com Rubi e o gato selvagem. Jonathan contou tudo desde o momento em que ficou perto da jaula esperando Flame e Rubi chegarem. Hush sinalizou perguntando se ele conseguiu conversar com Rubi e Candid serviu de intérprete.
"Honest, você mentiu para Flame, dizendo que eu daria o gato de Rubi para outra pessoa apadrinhar?" Ele sorriu
"Foi só uma mentirinha, Leo. E o Jonathan aqui adorou conhecer a Rubi, não foi, Jonathan?" Jonathan sorriu.
"É pai, e você desmentiu ele, qual o problema?"
"O problema é que..." Leo olhou para a porta do corredor que levava aos quartos e Jocelyn estava parada lá.
O coração dele doeu, a expressão dela era triste, havia uma sacola aos seus pés.
"Jonathan, temos de voltar para a Flórida." Leo ouviu as palavras, mas sua mente se recusava a interpretar o que elas significavam. Ele ficou parado olhando para ela, esperando ela dizer que estava brincando.
"Ah não, mãe! Eu não vou! Vou ficar com o meu pai!" Ele disse e por mais que isso o deixou feliz por seu filhote querer ficar com ele, Leo não podia acreditar que ela estava querendo ir embora.
"Leo. Eu posso explicar. Eu e Jonathan temos de voltar. Andrew ligou e conversamos, eu tenho de voltar. Mas será por pouco tempo. Eu juro. Vamos voltar."
Ele ouvia, via o desespero de Jonathan, mas só conseguia sentir seu peito explodir.
"Mamãe. Por favor, vamos ficar. Eu não quero ir! Deixa eu ligar pro... Para o meu outro pai, eu falo com ele, eu falo que não quero ir, que eu gosto muito dele, que gosto de Adam e Noah, mas que aqui é o meu lugar. Eu falo tudo isso pra ele, mamãe!"
Ver seu filhote implorar para continuar ali, para continuarem formando uma família e ela nem mover uma sobrancelha, o machucou mais.
"Jonathan, nós vamos voltar. Só temos de ir agora, meu filho." Ela disse num fio de voz.
Candid rosnou.
"Ela é pequena, Leo. Seja macho e não a deixe ir. Prenda ela numa jaula, não a deixe sair daqui." Até Candid parecia um pouco desesperado.
Ela respirou fundo.
"Eu vou explicar depois, não torne as coisas mais difíceis, você sabe que..."
"Eu sei? O que eu sei, Jocelyn? Eu, o maior idiota que essa Reserva já conheceu! Eu, o otário que te recebeu de braços abertos quando você apareceu, mesmo descobrindo que você tinha escondido Jonathan de mim. Eu, o imbecil que deitou com você naquela cama, que te possuiu, acreditando que dessa vez eu conseguiria ter uma família, que eu e você ficaríamos juntos, mas agora você simplesmente diz que tem de ir. E eu pergunto, Jocelyn: O que eu sei?"

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