3| ᴏ ɪʟᴜsᴏʀɪᴏ ᴄᴏɴᴛᴏ ᴅᴇ ғᴀᴅᴀs

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LUKE

TODA VEZ QUE eu ando de carro gosto de ficar olhando a paisagem, principalmente o céu, porque imagino que minha mãe está alegrando todo mundo com aquele sorriso contagiante que ela tinha.

Assim que completei quinze anos meu pai me presenteou com um caderno que recebeu da minha mãe, quando ainda faltavam poucos dias para a viagem e eu deveria escrever as minhas memórias mais felizes nele. Está em branco até hoje. É muito provável que eu abra essa porta e não encontre ninguém, e foi isso que aconteceu, minha casa é bem grande, mas ao mesmo tempo, muito vazia. Desde a morte da minha mãe, minha irmã se tranca no quarto sempre que pode e meu pai... Não conversamos muito.

Me joguei no sofá e liguei a televisão em seguida, procurando alguma coisa que me afaste dessa vontade incontrolável de fumar que estou tendo agora.

— Você vai mesmo fingir que nada aconteceu? — Tomei um susto com Morgan descendo as escadas, falando no telefone, não consegui ver direito mas, parecia que tinha chorado bastante — Então vai se foder, otário! — Desligou na cara de quem seja.

— Problemas, irmãzinha? — Perguntei enquanto procurava uma série, sendo irônico, obviamente.

— Não é da sua conta — Olhei para ela, nunca imaginei que fosse capaz de me responder assim.

Não que eu cobre respeito por ser o irmão mais velho, mas Morgan sempre foi uma menina calma e paciente.

— Precisava desse tratamento? — Brinquei — Quer falar comigo sobre qualquer coisa? Talvez desabafar...

— Para de tentar ser legal, Luke, você não é assim — Voltou para o andar de cima me deixando com uma tremenda crise existencial.

Depois que ela disse isso fiquei pensando se as pessoas que eu convivo gostam de mim, da minha personalidade ou do meu senso de humor fracassado. Definitivamente não.

Subi as escadas indo direto para o banheiro, afogar meus pensamentos tolos numa água gelada, passando pelo corredor consegui ouvir o choro da minha irmã, meu subconsciente até me mandou bater na porta mas, eu não fui. Ao mesmo tempo em que as brutas gotas caiam nas minhas costas saiam também brutas gotas dos meus olhos.

➝➝

— Luke? Posso entrar?— Era a voz do Romeo, antes de responder olhei no celular e percebi que passei tempo demais jogando videogame.

Respondi que sim e depois de segundos ele entrou, trazendo uma caixa de cerveja, me cumprimentou e sentou na cama ao meu lado.

— Fiquei com medo do seu pai me barrar, mas o motorista disse que ele não tava — Pegou um controle que estava sobre a cômoda — Eu vi sua irmã saindo, ela tava meio estranha, usando umas roupas vulgares pra caralho.

Balancei os ombros.

— Que porra tá rolando nessa casa? Você me chama pra fumar e quando eu chego, fica aí jogando essa merda e nem olha na minha cara!

Desliguei o videogame e guardei os controles, ele ficou me olhando sem entender, abri o guarda-roupa procurando minha distração diária.

— Você quer fumar? — Joguei um cigarro na cama — Então vamo fumar!

Acendi um soltando a fumaça pra janela.

— Sua namoradinha me mandou mensagem cobrando um monte de coisa — Encarei espremendo os olhos — Aquela que você ficou na festa, a mina já tá achando que eu devo satisfações suas pra ela, ficou perguntando onde você tava...

— Bloqueia — Abri uma garrafa bebendo um gole da cerveja, que era bem falsificada — Caramba mano, tá devendo dinheiro pra agiota? Comprou a pior!

— Meu pai tá começando a controlar meus gastos, ele disse que eu sou muito mão aberta — Tragou mais uma vez — É amanhã que chegam os alunos bolsistas, acha que vai ter alguma interessante?

Sentei numa poltrona próxima a televisão, de frente para a cama.

— Levando em consideração o ego do diretor, com certeza vai ter alguma mina bonita sim porque ele jamais mancharia o nome da escola colocando gente feia pra estudar lá!

— Falando em mina bonita, a Ingrid disse um negócio hoje na biblioteca que deu a entender que eu sou uma variante do Leon, eu sou?

Balancei lentamente a cabeça.

— Não acho, mas a Ingrid é assim, num dia tá boa e no outro tá ruim — Percebi algo diferente — Não vai me dizer que tá ficando apaixonadinho nela porque isso seria burrice!

— Por quê?

— Paixão é coisa de louco, só louco entra numa coisa dessas! Ficam duas pessoas cheias de incertezas sem saber o que vai acontecer, destinados a algo inconstante.

— Mas eu não estou apaixonado nela, só queria conhecer melhor.

— A Ingrid ainda é uma curiosidade pra você, ela foi a única menina que te disse não mesmo sem você falar nada, ela conhece pessoas assim e tá querendo se distanciar.

— Como você sabe tantas coisas sendo que nunca namorou?

— Eu tenho minhas fontes — Rimos depois disso — Falando sério agora, não se envolve assim tão rápido e se a mina deixar claro que não quer nada contigo, vai embora!

Ficamos um bom tempo fumando e reclamando da cerveja barata, depois ele teve que ir embora e eu fiquei sentado na poltrona observando o jardineiro regar as flores do jardim. Morgan chegou faltando dez minutos para as onze, o meu pai ainda não estava em casa, mesmo eu sendo um ano mais velho que ela, ainda acho que nesse horário uma menina de quinze anos deveria estar na cama.

Desci as escadas correndo tentando ficar na sala antes dela, chegamos no mesmo momento, ela encontrava-se num estado deplorável: cabelo balançado, roupa amassada e uma cara de sono.

— Onde você tava? — Perguntei cruzando os braços — Isso é hora de chegar em casa? Deve tá ficando maluca, se o nosso pai pega você assim — Dei risada — Já era!

— Pelo o que eu sei, você é meu irmão mais velho e não meu dono — Foi na cozinha ao mesmo tempo em que digitava no celular, eu fui atrás.

— Morgan, para de tentar ser uma adolescente rebelde que não liga pra nada... Eu só tô tentando saber o que aconteceu!

Ela se virou jogando o celular no balcão de mármore, caminhando lentamente até mim.

— Você fuma pra caralho, bebe um monte, fica com várias meninas e ninguém fala nada! Agora, quando sou eu tudo muda — Eu poderia ver lágrimas aparecendo — Por que eu sou mulher?

— Porque você é nova demais pra certas coisas.

— Eu também era nova demais quando minha mãe morreu, eu era nova demais quando te vi fumando maconha na varanda — De repente uma onda de cenas invadiu minha mente — Pensa que isso é bom? Tudo bem, talvez a sensação de prazer que isso traz é legal mas... Você tá se matando e me matando também!

E depois desse balde de água gelada, ela foi embora para o quarto.

tchau tchau leitores

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