6| ᴀᴛʀᴀᴇɴᴛᴇ ᴀᴛᴇ́ ᴄᴇʀᴛᴏ ᴘᴏɴᴛᴏ

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⚠ ᴀʟᴇʀᴛᴀ: ᴘᴀʟᴀᴠʀᴀs ᴅᴇ ʙᴀɪxᴏ ᴄᴀʟᴀ̃ᴏ ⚠


ERIC

É A QUINTA vez que você manda mensagem pra mulher!

E aqui estou eu, sentado na cama ouvindo mais uma discussão dos meus pais - a terceira só hoje - eles não são a definição de casal apaixonado que criam os filhos da forma correta mas, até que minha mãe se esforça.

Ao todo eu tenho 3 irmãos, os mais velhos cursam faculdade em outro país, depois eu ( sem atributos positivos ) e minha irmã mais nova, que se tranca no quarto e ninguém sabe o que acontece. Quando eles brigam gosto de imaginar como seria minha ideal, mas isso é coisa de garoto depressivo e isso eu ainda não sou.

— Tira o dedo da minha cara, vadia! — Cada vez mais meu pai aumenta o tom de voz, já me acostumei.

A briga chega num ponto agressivo, minha irmã aparece chorando com medo de algum deles morrer, eu desço pedindo que eles parem na desculpa de que os vizinhos estão escutando ou algo do tipo.

Essas brigas acontecem porque meu pai acha que pode ter várias mulheres mesmo estando casado, quando meus irmãos ainda moravam conosco era tudo completamente diferente mas o motivo eu não sei, outra coisa que eu também não sei é o porquê minha mãe continua com ele, relacionamentos não funcionam assim.

— Já mandei parar porra! — Escuto um barulho semelhante a um tapa na mesa.

Talvez essa rotina tenha afetado tanto a minha cabeça que eu nem me aterrorizo mais com um grito, um tapa ou uma ameaça mas ainda aterroriza minha irmã, que teve um comportamento diferente hoje ao invés de me pedir ajuda, chegou no quarto chorando e me abraçou. É por esse e outros motivos que eu odeio Jonathan Evans, como ele consegue fazer uma menina de 13 anos chorar compulsivamente e nem sente arrependimento disso?

— Larga essa faca, Jonathan! — Lisa me olhou com os olhos arregalados, eu conseguia ver o horror neles e conseguia também ouvir o choro na voz da minha mãe.

— Fica aqui, tá bom? — Sussurrei — Não desce lá por nada nesse Mundo! Ouviu? — Ela balançou a cabeça, a deixei encolhida na cama e fui para o andar debaixo.

Ainda nos primeiros degraus enxerguei meu pai segurando uma faca, atrás do balcão, e minha mãe bem distante dele próxima a televisão.

— Você é louco, Jonathan! — A voz dela continuava trêmula — Esqueceu dos nossos filhos? Dos meninos que estudam fora, que nos dão orgulho e mandam dinheiro sempre que podem, do Eric e da Lisa?

Acho que eu nunca fui bom o suficiente para o meu pai, ele sempre falava que se sente orgulhoso dos meus irmãos estudantes de medicina e dizia que eu era apenas um jogador da escola.

— Nossa família tá acabando por sua causa, Megan, se você ficasse quieta talvez ainda tivéssemos outro filho!

Graças a uma pilastra eles não conseguiam me ver, então continuei ouvindo mas prestando atenção, caso as coisas piorassem.

— Outro filho pra quê? Pra você enchê-lo de traumas assim como fez com o Eric? Eu ensinei a aquele menino todos os valores que um bom homem tem mas, vem você com sua síndrome de macho alfa e completou a cabeça dele com pensamentos machistas!

Escutar minha mãe dizer isso faz com que eu me sinta um fracasso total, é como se ela tivesse desperdiçado anos da vida dela tentando me instruir e eu simplesmente ignorei. Por isso eu fico chapado em todas as festas, tenho problemas de raiva e encho a cara... Quem sabe essa sensação some de uma vez.

— O Eric é um merda por sua causa, porque eu passava o tempo todo trabalhando, tão incapaz que não soube criar meros garotos, um merdinha como todos nessa casa!

Eu esperei a minha vida toda por um elogio vindo do meu pai, um simples "eu te amo" ou um "estou orgulhoso" mas isso seria homossexual demais para ele dizer. Meu pai nunca acrescentou nada em mim, apenas tirou pedaços da alma, do corpo, da mente e numa noite de terça-feira ele arrancou lágrimas minhas equivalentes a uma semana. Como sempre, chorei em silêncio, chega uma hora que nem a vida louca resolve nada pois, uma gotinha salgada fala mais do que uma conversa no terapeuta.

— Trabalhando... Você passava horas dentro de um bar cheio de prostitutas! — As coisas com certeza não ficariam boas então, tive de ignorar os meus olhos ardentes e vermelhos, terminei de descer a escada e cheguei por trás totalmente calmo.

Quando percebeu minha presença, meu pai rapidamente virou de costas tentando esconder a faca e minha mãe, veio até mim ficando mais atrás.

— O que quer aqui, filho? — Ele manteve a cabeça baixa, foi caminhando vagarosamente até a cozinha guardando o objeto de volta na gaveta e logo depois, voltou para onde estávamos.

— É que... — Não consigo olhar para ele e não me lembrar das coisas que ouvi — Acho que a Lisa teve uma crise de ansiedade e ela tá chorando no meu quarto...

Os dois me deixaram falando sozinho, correram para o andar de cima. Agora eu não posso olhar para as coisas da casa e não imaginar as quebrando uma por uma, especialmente na cabeça do meu pai, ligando para a polícia e contando todas as bostas que ele fez e ainda vai fazer se isso continuar assim.

Posso até me importar de vez em quando, ser um filho legal com a minha mãe mas, com certeza a indignação fica estampada na minha cara. Eu quero que essa família se dane, mesmo sofrendo o que sofre ela continua com ele então, se a principal vítima não se importa por que uma simples testemunha tem que fazer o serviço?

Prefiro continuar fumando, bebendo, beijando sem compromisso, não dando a mínima para a escola e fingindo que me importo - só para Lisa não ficar chateada comigo.

tchau tchau leitores

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