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GIOVANNA
DESDE MUITO CEDO eu aprendi a lidar com problemas onde as soluções não estavam no meu alcance, tive também que procurar distrações para não acabar sendo diagnosticada com ansiedade aos 6 anos de idade mas, meus esforços foram em vão porque quando completei 7 minha avó me levou para um consultório psicológico para tentar entender o que acontecia comigo, eu não comia, não bebia água, não brincava e nem gostava de sair de casa. Meu medo se tornou realidade, faltando cinco meses para fazer 8 anos, recebi o diagnóstico de ansiedade e também de anemia, passei a tomar remédios que abriam o apetite.
Eu sempre enxerguei a escola como um lugar fora do meu habitat natural, não é porque eu fico indiferente com outras pessoas por perto é porque eu simplesmente imagino que estou sobrando então ficar dentro do quarto virou uma terapia intensiva para mim entretanto, minha avó insiste que todas as quintas-feiras a tarde eu vá contar da minha semana para uma mulher desconhecida.
Cheguei na sala de informática, queria um local diferente para ler e encontrei, encontrei aquele menino da biblioteca cujo nome é Luke Davis, sentado e lendo um clássico francês. Não posso sair da sala só porque vi um menino que não simpatizei, procuro a mesa mais afastada possível e inicio minha leitura.
— Que mina doida — Ele ficou fazendo comentários em voz alta, talvez nem tenha percebido minha presença.
Passados alguns minutos o celular dele tocou, um som bem irritante que ecoou pela sala, continuei olhando as palavras já que não estava conseguindo me concentrar verdadeiramente.
— Não vai atender não? — Me perguntou, o olhei — Não é o meu que tá tocando, deve ser o seu.
Como eu não reconheci? Assim que vi o nome do contato, revirei os olhos sabendo os longos sermões que iria ouvir e para preservar a "reputação" que eu tenho, sai levando tudo que tinha.
— Alô? — Disse com uma voz baixa, entrando na primeira sala vazia que achei — Oi, aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu sim, Giovanna — Ela estava brava — Aconteceu que eu estou te ligando faz um tempão e você não me atende, por acaso está escondendo alguma coisa?
— O que? Claro que não — Suspirei pesado — Eu estava lendo um livro e não escutei o celular tocar e depois que um menino me avisou eu atendi.
— Menino? Que menino?
Minha avó é uma mulher um tanto quanto machista e para ela é difícil aceitar que eu respiro o mesmo oxigênio que um garoto da escola, principalmente os ricos.
— Giovanna você sabe muito bem que eu não gosto disso, quantas vezes vou ter que repetir para se concentrar nos estudos? Nada de meninos até o fim da faculdade!
— Eu nem conheço esse menino, ele só me avisou, nada demais — Limpei o suor do meu rosto causado pelo nervosismo — Queria me dizer algo?
— Você esqueceu seu lanche em casa, quer que eu vá te levar?
Arregalo meus olhos pensando na possibilidade da minha avó entrando no pátio principal me entregando sanduíche e suco industrializado no meio de todo mundo.
— Não! — Gritei — Não precisa, eu compro uma coisinha na cantina.
— Com que dinheiro? Eu não te dei dinheiro!
— Sim mas, eu guardei daquela vez que a senhora me deu, as comidas são baratas para bolsistas, ganhamos desconto...
Um silêncio constrangedor nos dominou, minha relação com ela sempre foi amigável porém nos últimos anos, ela tem sido mais rígida comigo por causa do medo de eu namorar e engravidar cedo, como aconteceu com minha mãe.
— Eu tenho procurado emprego todos os dias mas nenhuma empresa aceita pessoas da minha idade, estamos conseguindo viver com a aposentadoria só que você não pode sair gastando com comidinhas da escola chique, Giovanna — Assoprou.
— Tá bom — Cortei suas palavras bruscamente — Eu já entendi que eu não posso comer as coisas da escola, que eu não posso namorar até a faculdade e nem agir como uma adolescente normal! Eu já entendi, agora por favor, desliga a merda desse telefone e me deixa estudar em paz!
Chamada desligada e peso na consciência, eu não queria falar assim com ela, ser arrogante mas é tão cansativo escutar os mesmos conselhos. Eu tenho juízo e sei das coisas certas e erradas, não preciso de uma tutora.
Até pensei em mandar uma mensagem pedindo desculpas pelo meu comportamento rude entretanto, recebi antes um emoji bravo e depois um bloqueio no WhatsApp, hoje minha noite será uma das piores. Respiro fundo, fecho os olhos, guardo o celular e abro a porta vendo Luke Davis parado escutando toda minha conversa.
— Oi — Ele colocou as mãos no bolso da calça e ficou balançando os pés para frente e para trás, dando movimento ao corpo todo — Tá tudo bem?
— É da sua conta?
— Calma — Sorriu e coçou a nuca — Eu só estava passando e...
— E decidiu escutar conversas alheias, muito bonito para um garoto de boa família, pelo menos nas novelas, pessoas como você eram educadas!
— Qual é, garota? Eu tô tentando ajudar!
— Ajudar com o quê? Por acaso vai me desbloquear no celular da minha avó e mandar uma mensagem dizendo que você só me avisou que o celular estava tocando?
— Eu escutei essa parte... Sinto muito.
— Não — Balancei a cabeça negativamente — Você escutou a conversa inteira e daqui a pouco vai contar para o seu amigo, que vai contar para uma namorada dele e aí toda a escola fica sabendo que Giovanna Jackson tem uma avó problemática.
Ele ficou me encarando e depois, sorriu novamente, mais debochado ainda.
— Pelo jeito você sofreu muito bullying na escola antiga, tá até imaginando coisas, vai ler minha mão também? Diz aí se eu fico mais rico!
— Tudo bem, eu sei que somos de classes totalmente diferentes mas, eu com certeza sei diferenciar os ricos bons e ricos ruins, e você claramente tá no topo da lista dos babacas!
— Okay, já me chamaram de tudo nessa vida mas babaca — Ficou olhando para a parede como se estivesse lembrando de algo — É a primeira, faz assim — Se aproximou — Da próxima vez, fala pra sua avó querida que insinuar coisas sem fatos concretos pode acabar gerando uma multa ou até mesmo cadeia!
— Tá me ameaçando? — Cruzei os braços.
— Não, tô te falando pra avisar sua avó... E vê se fala mais baixo, eu sei que o andar tá vazio mas, tava dando pra escutar tudo da sala de informática.
Saiu andando lentamente, com as mãos ainda nos bolsos da calça e quando chegou perto da escada virou-se na minha direção e sorriu dizendo:
— Até mais, loirinha.
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tchau tchau leitores
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School Of Demons
Fiksi PenggemarExistem palavras de baixo calão, hot e gatilhos!! 𝑺𝒄𝒉𝒐𝒐𝒍 𝒐𝒇 𝒅𝒆𝒎𝒐𝒏𝒔| Cada um ali tinha um problema para lidar, e talvez as soluções sejam beber até ficar tonto, fumar até a boca ficar seca e chegar em casa chapado sem conseguir abrir a...